Se você recebeu recentemente um diagnóstico de câncer, pode ter ouvido a palavra "metástase" ou alguém o pergunta se o seu câncer sofreu metástase. Mas, o que é metástase? O que isso significa para o seu tratamento contra o câncer? E é curável?
O que é metástase do câncer?
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Síndromes hereditárias que causam pólipos adenomatosos intestinais Câncer de mama masculinoEntendendo as terapias de transferência de células T contra o câncerNova ferramenta genômica detecta risco de doenças com mais precisãoPadrões de alterações no DNA podem oferecer pistas sobre causas do câncerClassificamos o câncer por onde ele começa, não importa para onde ele se espalhe. O câncer de mama é o câncer que começou na mama, e o câncer de bexiga é o câncer que começou na bexiga. Quando o câncer de bexiga se espalha para uma região como o fígado, por exemplo, o paciente não tem câncer de fígado e câncer de bexiga. Consideramos o câncer de bexiga o que chamamos de câncer primário e o fígado o local das metástases.
Em que estágio está o câncer metastático?
Ele difere dependendo do tipo de câncer, mas, na maioria dos casos, o câncer que se espalhou para órgãos distantes é o câncer de estágio 4 (o estadiamento vai de 1 a 4). Se o câncer se espalhou para linfonodos próximos ou outros tecidos próximos, geralmente é estágio 3. Os estágios 1 e 2 se referem à doença ainda localizada.
O câncer metastático tem cura?
Se um câncer pode ou não ser verdadeiramente curado não é uma pergunta fácil de se responder. Depende de muitos fatores diferentes, e não há uma resposta única para o câncer metastático como um todo ou para tipos específicos de câncer metastático.
É verdade que o câncer é mais fácil de se tratar quando está limitado a apenas uma massa e não se espalhou. Obviamente, quanto se torna metastático, se torna mais difícil de ser tratado e mesmo curado.
Mas fizemos avanços incríveis no tratamento do câncer com novos tratamentos e estamos encontrando novas maneiras de tratar o câncer metastático por meio de novos medicamentos, novas terapias e inúmeros ensaios clínicos.
Como resultado, agora podemos tratar a doença metastática para que os pacientes vivam mais e/ou com mais conforto. Por exemplo, o melanoma em estágio 4 costumava ser considerado impossível de se tratar para a maioria dos cânceres, mas graças à imunoterapia e a alguns outros tratamentos que denominamos alvo-moleculares, esses pacientes têm sobrevivido anos sem evidência da doença.
Como o câncer se espalha ou metastatiza?
Existem algumas maneiras pelas quais as células cancerosas podem se espalhar. Eles podem se mover diretamente para as áreas próximas ou podem viajar pela corrente sanguínea ou pelo sistema de linfonodos para outras partes do corpo.
Para onde o câncer mais comumente metastatiza ou se espalha?
Quando o câncer se espalha para um órgão ou parte do corpo próximo, geralmente é considerado uma "metástase regional". Se o câncer se espalhar para longe de seu local original, é considerado uma "metástase distante".
Oncologistas estudam o câncer e a maneira como ele se espalha há décadas. Aprendemos quais cânceres são mais propensos a ter metástases regionais e quais são mais propensos a ter metástases distantes.
Por exemplo, é mais provável que o câncer de mama se espalhe para os linfonodos próximos - uma metástase regional. Melanoma, câncer de pulmão, mama e rim carregam o risco de se espalhar para o cérebro - uma metástase distante.
Locais comuns onde o câncer se espalha:
- Câncer de bexiga: ossos, fígado, pulmão
- Câncer de mama: ossos, cérebro, fígado, pulmão
- Câncer colorretal: fígado, pulmão
- Câncer de pulmão: glândula adrenal, ossos, cérebro, fígado, outro pulmão
- Câncer de melanoma: ossos, cérebro, fígado, pulmão, pele
- Câncer de tireóide: ossos, fígado, pulmão
Existem sintomas de metástase que os pacientes devem procurar?
Os sintomas da metástase do câncer dependem de onde o câncer se espalhou. Se um câncer se espalhar, por exemplo, para o cérebro, o paciente pode sentir tontura, visão turva, fraqueza ou dores de cabeça.
Já se o câncer se espalhar para partes do sistema digestivo, os pacientes podem apresentar alterações nos hábitos intestinais, náuseas, vômitos e empachamento após as refeições.
Se você foi diagnosticado recentemente com um câncer localizado - um que não se espalhou -, sua equipe de atendimento pode dizer se é provável que seu câncer se espalhe e quais sintomas procurar.
É importante compartilhar quaisquer sintomas que você tenha com sua equipe de atendimento para que você possa detectar metástases precocemente. A detecção precoce é a chave para o sucesso do tratamento do câncer.
Como o câncer metastático é diagnosticado?
Muitas vezes, o primeiro passo da equipe de atendimento após determinar um diagnóstico de câncer é saber se o câncer se espalhou e para onde se espalhou. Esse processo é chamado de "estadiamento".
Às vezes, o estadiamento é realizado por meio de exames e procedimentos de diagnóstico por imagem, como ressonâncias magnéticas, tomografias computadorizadas ou exames de PET-CT (Tomografia Computadorizada por Emissão de Pósitrons). Nesses testes, as áreas para as quais o câncer se espalhou "acendem", ou se tornam aparentes.
O estadiamento também pode ser realizado por meio de biópsias, como exames de sangue e cirurgias, que mostram onde o câncer se espalhou e em quantas partes do corpo o câncer se espalhou, para determinar o estágio do câncer. Isso será diferente para cada tipo de câncer, e nem todos os cânceres requerem estadiamento formal, mas, normalmente, quanto maior o estágio, mais lugares o câncer se espalhou.
Como o câncer metastático é tratado?
Quando o câncer se espalhou, normalmente é tratado de forma diferente e mais agressiva. Felizmente, fizemos muitos avanços no tratamento do câncer metastático. Se o seu câncer se espalhou, é menos provável que a cirurgia desempenhe um papel importante no seu tratamento.
Ao invés disso, os médicos contarão com tratamentos como quimioterapia, hormonioterapia, terapia alvo-molecular, radiação, terapia de prótons ou imunoterapia para tratar o câncer metastático.
Hoje temos os recursos da genética e da genômica que nos oferecem como ferramenta o estudo molecular dos tumores a serem tratados, e com isso a oportunidade de se oferecer um tratamento personalizado ou de precisão, ou seja, direcionado para aquela assinatura genômica específica apresentada pelo tumor a ser tratado.
Esse material a ser sequenciado pode ser retirado do próprio tumor, da biópsia de uma metástase e mais recentemente através do sangue periférico do paciente (a chamada biópsia líquida), pois o DNA tumoral circula livremente no sangue e pode ser removido e estudado geneticamente.
A biópsia líquida é uma tecnologia não invasiva para a detecção de biomarcadores moleculares através de uma coleta simples de sangue, sem a necessidade, portanto, de procedimentos invasivos como biópsias e cirurgias, e que permite aos médicos descobrir uma série de informações sobre uma doença, no caso específico sobre um determinado tumor.
A presença de células tumorais circulantes ou traços do RNA ou do DNA do câncer no sangue podem fornecer informações valiosas sobre quais tratamentos são mais prováveis e efetivos para o paciente, além da própria identificação de sua presença, bem como suas características genéticas, biológicas e prognósticas e evolutivas.
Novos métodos dedicados permitem enriquecer e purificar a partir desta amostra de sangue o DNA livre de células circulante (cfDNA), que é constantemente liberado para o sangue devido ao processo de morte destas células (chamada de apoptose).
O recente interesse em ácidos nucléicos no plasma e soro abriu inúmeras novas áreas de investigação e novas possibilidades para o diagnóstico molecular do câncer, uma vez que, coletado esse DNA (ou o RNA) tumoral, podemos então sequenciá-lo através de tecnologias moleculares avançadas como o PCR (reação em cadeia da polimerase) e, mais recentemente, o NGS (sequenciamento de próxima geração).
Com essas tecnologias, conseguimos então detectar as alterações nas sequências nucleotídicas que compõem o DNA tumoral, como mutações e variações dos genes presentes no genoma tumoral.
Essa detecção pode orientar os tratamentos, uma vez que hoje contamos com as chamadas terapias alvo-direcionadas ou alvo-moleculares que são desenvolvidas de forma personalizada, de acordo com as alterações genéticas encontradas nos tumores.
A grande vantagem da biópsia líquida, além de ser um teste não invasivo (portanto, pode ser realizado várias vezes, o que é fundamental na monitorização do tratamento), é a de oferecer uma análise genética em tempo real de um determinado tumor, ou seja, seu retrato genômico do momento do exame. Tumores via de regra apresentam heterogeneidade, ou seja, apresentam assinaturas genômicas distintas dentro do mesmo tumor e também nas metástases, sincronicamente e durante a evolução da doença metastática.
Já a imunoterapia tem revolucionado o tratamento do câncer e melhorado bastante as chance de remissão da doença mais a longo prazo. Existem vários tipos, algumas bastante complexas, como a terapia com CAR-T, mas as mais utilizadas no momento e para vários tumores são os inibidores de proteínas dos pontos de checagem imunológica, que utilizam o próprio sistema imunológico do paciente para combater as células tumorais, aumentando a ativação e a proliferação da célula T, resultando assim em uma resposta antitumoral mais efetiva.
Em verdade, essa nova classe de imunoterapia desliga um complexo sistema de mascaramento imunológico que as células tumorais utilizam para não serem reconhecidas como invasoras pelo organismo, permitindo então que o sistema imune destrua essas células.
O que aconselhar aos pacientes com um novo diagnóstico de câncer metastático?
O tratamento do câncer metastático é complexo. Encontre uma equipe de atendimento multidisciplinar que tenha experiência no tratamento do seu tipo específico de câncer. Eles são mais propensos a estar familiarizados com os mais recentes ensaios clínicos e novos tratamentos.
Novas terapias direcionadas e imunoterápicas estão melhorando e trazendo esperança aos nossos pacientes. Encontrar a equipe de atendimento certa com o tratamento certo pode ajudar os pacientes com câncer a ter mais tempo e uma melhor qualidade de vida.
E o futuro?
Embora drogas alvo-moleculares e a imunoterapia estejam cada vez mais presentes no arsenal terapêutico do oncologista, é muito provável que ainda necessitaremos da quimioterapia por um bom tempo.
A tendência a longo prazo é realmente de progressiva substituição da mesma por terapêuticas mais inteligentes e eficientes, que atuam especificamente nas células tumorais, em seu microambiente e também no incremento da própria resposta imunológica do organismo ao tumor.
Já a radioterapia é muito útil para o tratamento local e das metástases, especialmente ósseas e cerebrais. É pouco provável que seja eliminada, mesmo em tempos futuros. Deverá sim ser cada vez mais precisa, seletiva e eficaz.
Não haverá um medicamento único (a sonhada "bala mágica") pelo fato de o câncer ser um grupamento de centenas de doenças distintas, portanto, de tratamentos igualmente distintos.
A perspectiva que se vislumbra é no sentido contrário, ou seja, os tratamentos serão cada vez mais personalizados e customizados para cada subtipo de tumor e para cada fase evolutiva da doença. Para isso, contamos com os conhecimentos mais e mais robustos da genômica e da imunologia tumoral.