Pólipos são aglomerados de células que podem se desenvolver em todo o trato gastrointestinal, mas são mais provavelmente vistos no intestino delgado, cólon e/ou reto. À medida que crescem, eles podem se transformar em câncer. Nem todo pólipo evolui com transformação maligna, mas, como eles têm esse potencial, devem ser removidos ao ser detectados pelo exame de colonoscopia.
Polipose adenomatosa familiar: uma síndrome hereditária que aumenta risco de câncer colorretal
Uma condição genética hereditária chamada polipose adenomatosa familiar (PAF) faz com que em um indivíduo cresça centenas, e às vezes milhares, de pólipos em todo o trato gastrointestinal. A PAF é uma doença autossômica dominante causada pela mutação do gene da polipose adenomatosa coli (APC). Caracteriza-se pela presença de mais de 100 pólipos colônicos com manifestações extracolônicas em tecidos moles (lipoma, fibroma, cisto sebáceo, tumores desmóides), câncer de tireóide e lesões oculares (hipertrofia congênita do epitélio pigmentar da retina). Mas o maior risco é inequivocamente o de desenvolver câncer colorretal.
Embora a mutação genética seja rara e represente apenas 1% dos casos de câncer colorretal, os pacientes com PAF têm 100% de probabilidade de desenvolver câncer colorretal até os 30 anos de idade. Indivíduos sem mutação genética têm 5% de probabilidade de enfrentar o mesmo diagnóstico em sua vida.
Testes genéticos e exames de câncer ajudam a diagnosticar e gerenciar a PAF no início da vida
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Geneticistas e oncogeneticistas são os especialistas que devem orientar o diagnóstico e os exames genéticos necessários para sua correta identificação, bem como o aconselhamento familiar mais adequado, o que inclui a pesquisa de outros parentes portadores desta síndrome.
Se a PAF for confirmada, o paciente precisará de uma colonoscopia todos os anos ou, às vezes, com mais frequência. Os pacientes também devem realizar uma endoscopia digestiva alta para verificar a presença de pólipos no trato gastrointestinal superior, bem como exames de imagem para verificar se há tumores desmóides no abdome.
Cirurgia e quimioprevenção gerenciam risco em pacientes adultos com PAF
Para impedir que um pólipo se torne câncer, ele deve ser removido. Se um pólipo se projeta em forma de cogumelo, ele pode ser cortado em sua base com uma ferramenta semelhante a um laço em um procedimento chamado polipectomia. Quando um pólipo é plano, ele é retirado em pedaços com uma pinça de biópsia.
À medida que uma pessoa com PAF envelhece, o número de pólipos aumenta. Aos 30 anos, se não antes, o cólon deve ser removido através de uma cirurgia conhecida como colectomia.
Uma variedade de abordagens pode ser usada, dependendo do número de pólipos presentes. Muitas vezes o cirurgião tenta deixar um segmento do reto ou fazer uma bolsa de intestino delgado, para que os pacientes não precisem de uma bolsa de ostomia, o que concorre para a maior funcionalidade e melhor qualidade de vida dos pacientes.
Com a remoção do cólon, o risco de câncer colorretal torna-se quase nulo. Isso evita efetivamente que pacientes com PAF desenvolvam e eventualmente faleçam de câncer colorretal.
A doença do duodeno continua a ser uma preocupação
Mesmo quando o cólon é removido, os pólipos ainda podem se formar no tecido gastrointestinal remanescente. Muitos pacientes mais tarde desenvolvem câncer no duodeno, que é a primeira parte do intestino delgado. Embora um procedimento denominado de Cirurgia de Whipple remova o duodeno, os impactos na qualidade de vida, bem como os riscos da cirurgia, podem ser desafiadores.
O uso de anti-inflamatórios como quimiopreventivos na PAF
O anti-inflamatório sulindac pode servir como terapia de quimioprevenção como uma abordagem alternativa para o manejo de pólipos no duodeno, embora a medicação não seja aprovada no Brasil. Para melhorar a eficácia, combinações com sulindac com a terapia direcionada erlotinibe ou difluorometilornitina podem eventualmente ser empregadas.
Estudos que empregam a aspirina em baixas doses como agente quimiopreventivo também sugerem a eficácia dessa alternativa na supressão da recorrência de pólipos colorretais maiores que 5,0 mm em pacientes com PAF.
Novos agentes quimiopreventivos estão sendo estudados
Um ensaio clínico está avaliando o ácido obeticólico (Ocaliva), um medicamento oral aprovado pela FDA que atua como um ácido biliar sintético para interromper as vias das células-tronco intestinais. Como o medicamento já está aprovado para pacientes com cirrose biliar primária, há uma boa quantidade de dados que comprovam a segurança do medicamento e seus efeitos.
O ácido obeticólico pode servir como terapia de quimioprevenção para retardar ou interromper o desenvolvimento de pólipos no duodeno de pacientes com PAF que receberam colectomia. Estudos preliminares sugerem que a medicação exerce uma modulação de crescimento de pólipos, tanto no intestino superior quanto no inferior.
Muitos pacientes que participam de ensaios clínicos o fazem sabendo que estão ajudando futuros pacientes. Os pacientes com PAF vivenciam isso em um nível muito mais pessoal, já que seus filhos, e até os filhos de seus filhos, provavelmente enfrentarão o diagnóstico. Ao participar desses tipos de testes, os pacientes estão mudando o cenário para suas famílias e gerações futuras.
Forma atenuada de PAF
A Polipose Adenomatosa Familiar Atenuada (PAFA) é igualmente uma síndrome autossômica dominante causada pela mutação do gene APC, mas de diagnóstico mais tardio, comparando-se à forma clássica da polipose adenomatosa familiar.
Dentre as características da síndrome estão: presença de menos de 100 pólipos colorretais; curso brando da doença, com idade tardia do diagnóstico e do aparecimento de câncer; prevalência maior dos pólipos à direita do cólon; reto poupado de lesões, na maioria dos casos.
O que é polipose associada a MUTYH (MYH) - MAP?
A polipose associada a MUTYH (MYH) (MAP) é também uma condição hereditária e um diagnóstico diferencial com a PAF. Pacientes com MAP igualmente tendem a desenvolver múltiplos pólipos adenomatosos do cólon durante a vida e terão um risco aumentado de câncer colorretal se não forem monitorados de perto com colonoscopias regulares.
É provável que pessoas com MAP desenvolvam muitos pólipos e, portanto, seu risco de câncer colorretal pode aumentar se esses pólipos não forem removidos. A MAP segue um padrão de herança autossômico recessiva, no qual a mutação ou alteração precisa estar presente em ambas as cópias do gene MUTYH para que uma pessoa tenha um risco aumentado de contrair essa doença.
Isso significa que cada pai deve repassar essa alteração para que uma criança seja afetada. Uma pessoa que possui apenas uma cópia alterada do MUTYH é chamada de portador.
Quando ambos os pais são portadores de uma alteração genética associada a uma condição recessiva como a MAP, há 25% de chance de uma criança herdar duas cópias alteradas do gene, fazendo com que sejam afetadas pela doença. Indivíduos que carregam apenas uma cópia alterada do gene MUTYH não desenvolvem MAP.
Indivíduos afetados pela MAP devem realizar colonoscopia a cada um a dois anos, começando aos 25 a 30 anos. Uma vez que uma pessoa desenvolve pólipos, a frequência da colonoscopia pode ser aumentada com o objetivo de remover todos os pólipos grandes.
Se um indivíduo com MAP desenvolver câncer colorretal ou se os pólipos do cólon forem muito numerosos para serem removidos durante uma colonoscopia, a cirurgia pode ser considerada. A colectomia é a remoção cirúrgica de parte ou de todo o cólon. Isso pode ser considerado se os pólipos não puderem ser tratados com colonoscopias regulares pelo número excessivo.