A obesidade e o sobrepeso são considerados fatores de risco e agravantes para inúmeras outras doenças, como diabetes, doenças cardiovasculares (DCV), doenças respiratórias, do trato digestivo, vários tipos de cânceres, além de interferir na fertilidade das mulheres, entre outras consequências.
De forma contraditória, a obesidade tem aumentado constantemente em todo o mundo, a ponto de Organização Mundial de Saúde (OMS) a considerar um dos mais graves problemas de saúde da atualidade.
A estimativa é que, até 2025, 2,3 bilhões de adultos ao redor do mundo estejam acima do peso, sendo 700 milhões de indivíduos com obesidade - índice de massa corporal (IMC) acima de 30.
No Brasil, dados da Pesquisa Nacional de Saúde 2019 apontam que a proporção de obesos na população com 20 anos ou mais de idade mais do que dobrou no país, entre 2003 e 2019, passando de 12,2% para 26,8%. Nesse período, a obesidade feminina subiu de 14,5% para 30,2% , enquanto a obesidade masculina passou de 9,6% para 22,8%.
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Entre essas abordagens, a cirurgia bariátrica tem se tornado comum pela possibilidade de um resultado em longo prazo, desde que o paciente faça a parte dele, mantendo uma vida saudável.
Os benefícios vão além da perda de peso. Em minha área de atuação, por exemplo, a obesidade é um fator de risco considerável para o câncer, além de estar associada a tumores mais agressivos e ao aumento da mortalidade.
Uma interessante pesquisa, cujos resultados foram publicados na edição de maio da Gynecologic Oncology, demonstrou que a cirurgia bariátrica reduz não apenas a incidência de câncer em geral em mulheres obesas, como foi relatado anteriormente, mas também o risco de cânceres específicos para mulheres.
O estudo chamado Swedish Obese Subject (SOS) conseguiu identificar que, em particular, a cirurgia está associada a um risco significativamente reduzido de câncer endometrial. Em mulheres, os pesquisadores verificaram que a cirurgia bariátrica também está associada com risco reduzido de tumores específicos como câncer de mama, endométrio, ovário e todos os outros cânceres ginecológicos.
O estudo SOS é um estudo prospectivo controlado em andamento, não randomizado, em que os pesquisadores buscam determinar os efeitos de longo prazo da cirurgia bariátrica em múltiplos desfechos de saúde. A análise atual envolveu 1420 mulheres, que se submeteram à cirurgia bariátrica, e 1447 outras mulheres pareadas como controles, que receberam tratamento padrão para obesidade.
Embora as análises ainda estejam em andamento, os resultados já corroboram com o que nós, médicos, temos alertado: a obesidade deve ser combatida como forma de garantir a saúde dos indivíduos em longo prazo.
*André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e diretor Científico no Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão: GBOP. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente.