Sente-se menos, mova-se mais

Pesquisa demonstrou que participantes obesos mantinham-se sentados por mais horas do que as pessoas mantenedoras da perda de peso

Evgeny Nelmin/Unsplash
(foto: Evgeny Nelmin/Unsplash)

A obesidade é classificada como uma doença crônica, progressiva, recidivante e também uma epidemia global pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Além da consequência direta de levar as pessoas a viverem menos e com pior qualidade de vida, é responsável por desencadear uma série de outras doenças, como diabetes tipo 2, hipertensão arterial, apneia do sono e alguns tipos de câncer.

Assim como o câncer, é uma doença multifatorial. No caso da obesidade estão envolvidos fatores genéticos, metabólicos, sociais, psicológicos e ambientais. Sabemos que, para alguns desses fatores, o combate e a prevenção não dependem unicamente da força de vontade dos indivíduos em realizar atividades físicas e manter uma dieta saudável. Sendo uma doença multifatorial, em alguns casos, serão necessárias estratégias de tratamento elaboradas por equipe multidisciplinar, como endocrinologistas, psicólogos, educadores físicos, cirurgiões, entre outros.

 

De toda forma, a dedicação a ter uma vida não sedentária é fundamental para manter o Índice de Massa Corporal (IMC) regular e saudável. Uma pesquisa inédita desenvolvida no California Polytechnic State University, nos EUA, demonstrou que os participantes obesos mantinham-se sentados por mais horas do que as pessoas mantenedoras da perda de peso.

 

Conforme os dados levantados, indivíduos com obesidade anterior que perderam pelo menos 9,1 kg e mantiveram-na por pelo menos três anos, sentaram-se por três horas a menos por dia e eram mais ativos fisicamente do que indivíduos com obesidade.

Os mantenedores da perda de peso pesavam inicialmente 101,6 kg, e aqueles com obesidade pesavam em média 110,2 kg. Em média, os mantenedores de perda de peso bem-sucedidos sentaram-se por 9,7 horas ao dia, enquanto os indivíduos com obesidade sentaram-se 12,6 horas ao dia.

Os mantenedores da perda de peso gastaram pelo menos uma hora por dia jogando videogame ou usando um computador para atividades não relacionadas ao trabalho, mas os dois grupos gastaram uma quantidade de tempo semelhante fazendo outras atividades sedentárias.

Por outro lado, os indivíduos do grupo de mantenedores da perda de peso, a longo prazo, gastaram mais energia subindo escadas, caminhando e fazendo atividades físicas leves do que os do grupo de controle: 1.835 vs 785 calorias por semana. O estudo também mostrou que a atividade física estava associada à melhora na manutenção da perda de peso.

Obviamente, o "se sentar menos" avaliado pelos pesquisadores não significa que simplesmente ficar em pé contribuirá para a manutenção da perda de peso, mas que os indivíduos que se mantêm menos horas sentados, são obrigados a se movimentar mais.

Portanto, a ideia geral defendida pelos pesquisadores e, tenho certeza, por qualquer médico, é: "sente-se menos e mova-se mais."

Após quase dois anos de pandemia e em sistema de quarentena, realizar essa tarefa é um grande desafio para parte da população, que têm como nova rotina trabalhar em home office, sem poder sair de casa. Praticar atividades físicas em casa é a saída para quem quer manter a saúde física e mental.

Obesidade no mundo

Segundo dados disponibilizados pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo, mais de um bilhão de adultos em todo o mundo está acima do peso - destes, 500 milhões são considerados obesos. Mais de 40 milhões de crianças com idade até cinco anos estão acima do peso. Só no Brasil, cerca de 20% da população tem obesidade.

A OMS define o diagnóstico da obesidade por meio do Índice de Massa Corporal (IMC): uma pessoa tem obesidade quando o IMC é maior ou igual a 30 kg/m2 e a faixa de peso normal varia entre 18,5 e 24,9 kg/m2. Os indivíduos que possuem IMC entre 25 e 29,9kg/m2 são diagnosticados com sobrepeso. Para se descobrir o IMC individual basta dividir o peso (kg) pela altura ao quadrado.

*André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e diretor Científico no Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão: GBOP. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente.


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