Se por um lado a pesquisa oncológica proporciona o desenvolvimento de tecnologias a favor da prevenção, do diagnóstico precoce e do tratamento de ponta, elevando as taxas de sobrevida dos pacientes, por outro ajuda também a entender e a conhecer as tendências da doença em diferentes contextos e populações.
Um estudo desenvolvido nos Estados Unidos e publicado recentemente na revista Jama Network Open, por exemplo, mostra que haverá mudanças significativas nas taxas de incidência de diversos tumores e nas mortes por câncer naquele país, até 2040.
As estimativas levantadas pelos pesquisadores, liderados por Lola Rahib, apontam que as principais incidências e mortes por câncer nos Estados Unidos serão notavelmente diferentes no ano de 2040, em comparação com as classificações atuais.
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Impactos da pandemia no diagnóstico do câncerAlimentos ultraprocessados e o risco de câncerSete maneiras de ajudar a proteger a saúde do seu intestinoAtualmente, naquele país, os tumores mais incidentes são: mama (253.465); pulmão (227.875); próstata (209.512); colorretal (155 008) e melanoma (96 445), segundo dados do GLOBOCAN 2021.
Em relação à mortalidade, o câncer de pulmão (63 mil) foi estimado para continuar como a principal causa de óbito relacionada ao câncer em 2040. Câncer de pâncreas (46 mil) e câncer de fígado e ducto biliar intra-hepático (41 mil mortes) sobem para a segunda e a terceira causa mais comum de morte por câncer, respectivamente, ultrapassando o câncer colorretal (34 mil). Estima-se que o câncer de mama (30 mil) diminua para a quinta causa mais comum de morte por câncer.
Atualmente, o ranking de mortalidade por câncer nos EUA é composto por câncer de pulmão (138.225); colorretal (54.443); pâncreas (47.683), mama (42.617) e próstata (32.438), conforme dados do GLOBOCAN 2021.
Mas qual cenário e fatores poderiam explicar os números descobertos na projeção? Conforme os pesquisadores, a análise sugere associação entre os programas de rastreamento do câncer com o número de diagnósticos de câncer e o número de mortes nos anos futuros.
A influência das diretrizes de triagem pode ser rastreada até as mudanças, nas taxas de incidência e de mortalidade, ao longo do tempo, para os cânceres que representam ou representarão os mais diagnosticados e os que causam mais mortes.
De forma prática, o rastreamento para diagnóstico precoce é algo que nós oncologistas defendemos veementemente. Por isso, sempre destaco também a importância da prevenção personalizada.
Esse tipo de abordagem é o que permite darmos maior atenção a grupos de pessoas fora das faixas etárias listadas nos protocolos gerais, mas portadores de síndromes hereditárias, que têm chances maiores de desenvolver tumores ainda em idade jovem. Mais que isso, a prevenção personalizada permite a elaboração de estratégias de prevenção específicas, que, em muitos casos, podem até evitar o desenvolvimento de tumores.
Ainda sobre o estudo, as projeções fornecem informações para abordar os tipos de câncer para os quais a conscientização é aumentada, especificamente melanoma, câncer de pâncreas, câncer de fígado e ducto biliar intra-hepático e câncer colorretal, no grupo de 20 a 49 anos.
Com mais investimentos em pesquisas para triagem eficaz e, quando possível, eliminação de lesões pré-malignas, a carga futura do câncer na população dos Estados Unidos será alterada substancialmente.
*André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e diretor Científico no Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão: GBOP. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente.
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