Refrigerante adoçado com açúcar e a saúde de mulheres com câncer de mama

Estudo mostra que o consumo regular de refrigerante não dietético pode aumentar a mortalidade total e a mortalidade por este tipo de tumor

Ernesto Rodriguez/Pixabay
(foto: Ernesto Rodriguez/Pixabay)

Os malefícios do consumo de refrigerantes para a saúde em geral não são novidades e incluem, entre outras consequências, o aumento de peso e dos níveis de açúcar no sangue, redução da ação da insulina no organismo, enfraquecimento dos ossos e dentes, inflamação no pâncreas e formação de pedras nos rins, aumento da pressão arterial e, claro, contribuição para o processo de carcinogênese.

Sobre isso, uma nova pesquisa publicada por Koyratty e colaboradores na prestigiada revista médica Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention sugere também que pacientes com câncer de mama que bebem bebidas adoçadas com açúcar regularmente têm maior risco de morte por outras enfermidades, e de câncer de mama em particular.

Em comparação com mulheres que nunca ou raramente bebiam refrigerante não dietético, aquelas que relataram beber refrigerante não dietético cinco vezes ou mais por semana tinham 62% mais probabilidade de morrer por qualquer enfermidade, e 85% mais probabilidade de morrer de câncer de mama especificamente.

Pesquisas sobre refrigerantes e câncer de mama são relativamente recentes. Como o câncer de mama é muito comum, as recomendações sobre escolhas de estilo de vida para sobreviventes da doença são de considerável importância. O câncer de mama feminino é o tipo mais comum em todo o mundo (11,7% do total de casos novos) e o terceiro em mortalidade, segundo os dados do GLOBOCAN 2020.

Apesar dos resultados negativos para a saúde associados ao consumo de refrigerantes e de açúcar, como ganho de peso, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares, muitas pessoas continuam a beber refrigerantes adoçados com açúcar. Existem apenas alguns estudos observacionais examinando a associação entre bebidas adoçadas com açúcar e mortalidade por câncer. Este é um dos poucos que analisa o prognóstico de mulheres com câncer de mama em relação ao consumo de refrigerantes não dietéticos.

Constantemente, mulheres em tratamento com câncer perguntam se podem manter a vida "normal" durante e após o tratamento oncológico. Mas, se a vida normal envolve hábitos tão nocivos para a saúde, e que contribuem para o desenvolvimento de tumores, por que voltar a esses hábitos?

Como foi feito o estudo

Os pesquisadores avaliaram a relação entre refrigerantes adoçados com açúcar e todas as causas de mortalidade entre 927 mulheres que foram diagnosticadas com câncer de mama, entre 35 e 79 anos.

As participantes foram inscritas no estudo Western New York Exposures and Breast Cancer (WEB) e foram acompanhadas por uma média de quase 19 anos. O estudo utilizou um questionário de frequência alimentar para avaliar a ingestão de alimentos e bebidas pelas participantes nos 12 a 24 meses anteriores ao diagnóstico de câncer de mama. Das mais de 900 mulheres com diagnóstico de câncer de mama, 41% morreram no final do período de acompanhamento.

Consumo de refrigerante

Entre as participantes que morreram, havia uma porcentagem maior de mulheres que relataram alta frequência de consumo de refrigerantes adoçados com açúcar em comparação com as mulheres que ainda estavam vivas.

Por que o foco em refrigerantes não dietéticos?


Os refrigerantes não dietéticos são os que mais contribuem com açúcar e calorias extras para a dieta, mas não trazem nada que seja nutricionalmente benéfico. Por outro lado, chás, cafés e sucos 100% naturais, sem adição de açúcares, são opções de bebidas mais saudáveis, %u200B%u200Bporque aumentam o valor nutritivo por meio de antioxidantes e vitaminas.

Os refrigerantes adoçados com açúcar contêm grandes quantidades de sacarose e frutose, o que lhes dá a maior carga glicêmica em comparação com outros alimentos ou bebidas. Essas concentrações mais altas de glicose e insulina podem levar a condições que têm sido associadas a um risco maior de câncer de mama. Ou seja, favorecem o processo de carcinogênese.

Existem mais de 3,5 milhões de sobreviventes de câncer de mama vivos nos Estados Unidos hoje. Por isso a importância de se entender melhor os fatores que afetam sua saúde. Embora precisemos de mais estudos para confirmar nossas descobertas, esta pesquisa fornece evidências de que a dieta pode afetar a longevidade das mulheres após o câncer de mama. Lembro, por fim, que refrigerantes de qualquer tipo, dietéticos ou não dietéticos, não são saudáveis e devem ser evitados!

*André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e diretor Científico no Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão: GBOP. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente.

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