Na próxima quinta-feira (4/2), temos o Dia Mundial do Câncer, data dedicada a chamar a atenção sobre a necessidade diária de ações preventivas contra o câncer, tanto por parte da população, como das autoridades governamentais e instituições de saúde.
O ano de 2020 não foi vitorioso para o combate ao câncer. Pelo contrário! O cenário de pandemia ocasionou um efeito cascata, resultando em um enorme retrocesso na prevenção, no diagnóstico precoce e no tratamento de câncer em andamento, visto que muitos pacientes tiveram suas rotinas alteradas. Isso, infelizmente, repercutirá em maior diagnóstico tardio e mortalidade nos próximos meses e anos.
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Os países classificados como de baixo ou médio Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) terão os maiores aumentos de incidência de câncer até 2040, com 95% e 64% de acréscimo, respectivamente, a partir de 2020. O maior impacto proporcional é esperado na África, com mais 89,1% de novos casos, seguido da América Latina, com mais 65,6%, e Ásia, com mais 59,2%.
A maior incidência nesses países reflete a mudança de hábitos de vida, com tendência à adoção de costumes comuns atualmente em países com IDH alto e muito alto: tabagismo, dieta não saudável, excesso de peso corporal e sedentarismo. Dessa forma, e com base nessas informações, é necessária uma intervenção para que, nesses países, as medidas de prevenção, diagnóstico e tratamento possam minimizar essa tendência.
Os tipos de câncer mais comuns e os hábitos de vida
Os dez tipos de câncer mais comuns em 2020 são responsáveis por mais de 60% dos casos de câncer recém-diagnosticados e mais de 70% das mortes pela doença.
O câncer de mama feminino é o tipo mais comum em todo o mundo (11,7% do total de casos novos), seguido por câncer de pulmão (11,4%), câncer colorretal (10,0%), câncer de próstata (7,3%) e câncer de estômago (5,6%).
Com medidas preventivas simples, a população poderia contribuir para evitar ou reduzir as chances de surgimento desses tumores, até mesmo nas pessoas portadoras de síndromes de predisposição hereditárias:
1. Não fumar e combater o tabagismo
2. Evitar bebidas alcoólicas e combater o alcoolismo
3. Manter dieta saudável com alimentos ricos em fibras naturais, carnes brancas, cereais, frutas e legumes
4. Combater o consumo de carnes vermelhas ou processadas
5. Manter o Índice de Massa Corporal (IMC) entre 18,5 e 24,9
6. Vacinar-se contra HPV e Hepatite B
7. Manter a prática periódica de atividades físicas
8. Fazer a profilaxia e combater agentes infecciosos como vírus e bactérias (como Helicobacter Pylori, hepatite C, entre outras)
9. Proteger-se contra os raios solares
10. Manter as consultas e exames de rotina em dia
11. Para mulheres entre 25 e 64 anos, fazer o exame preventivo do câncer do colo do útero anual
12. Para homens a partir dos 40 anos, manter o rastreamento de câncer de próstata
Por sua vez, quando falamos da mortalidade, o câncer de pulmão está à frente, com 18% do total de mortes por câncer, seguido por câncer colorretal (9,4%), câncer de fígado (8,3%), câncer de estômago (7,7%) e câncer de mama feminino (6,9%).
Importante observar que, mesmo com a redução da mortalidade por câncer de pulmão em alguns países, como Estados Unidos (3% ao ano entre 2008 e 2013), fruto de ações de combate ao tabagismo, esse tipo de tumor segue em liderança como causa de mortalidade, demonstrando a necessária ação conjunta das autoridades internacionais no combate a esse vício tão nocivo, assim como para ampliação do diagnóstico precoce.
Da mesma forma, observa-se que esse hábito mais comum entre o público masculino tem sua consequência lógica: é o câncer mais comumente diagnosticado e a principal causa de morte por câncer em homens. Em incidência, após o câncer de pulmão, estão o câncer de próstata e o colorretal. Já para a mortalidade, o câncer de fígado e o colorretal ocupam as posições seguintes.
Entre as mulheres, o câncer de mama é o tipo mais frequente e a principal causa de morte por câncer, seguido por câncer colorretal e câncer de pulmão para incidência. No quesito mortalidade, estão o câncer de pulmão e o câncer colorretal.
Adiamento da procriação e redução no número de filhos
Com 2,3 milhões de novos casos, 1 em cada 8 cânceres em 2020 é de mama. A doença está à frente, inclusive, do câncer de pulmão, em número de diagnósticos, e configura-se como a quinta causa de mortalidade por câncer, com 685 mil óbitos em 2020.
Nas mulheres, o câncer de mama é responsável por 1 em cada 4 casos de câncer e 1 em cada 6 mortes por câncer. Além disso, a doença é mais incidente em 159 países e a principal causa de mortalidade por câncer em 110 dos 185 que o GLOBOCAN analisa. Para esse tipo de tumor, além da prática atividade física, manutenção do peso corporal adequado, adoção de uma alimentação saudável e combate ao consumo de bebidas alcóolicas, a amamentação, por estar relacionada a fatores hormonais, também é um fator protetor.
Por isso, em muitos países com IDH baixo e médio, onde começam a se estabelecer a cultura da postergação da procriação e menor número de filhos, além de maiores níveis de excesso de peso corporal e sedentarismo, observa-se com atenção a maior tendência de incidência desse tipo de tumor.
Se, por um lado, as taxas de incidência de câncer de mama estão convergindo em todo o mundo, com tendência de crescimento entre países de IDH baixo e médio, as taxas de mortalidade por câncer de mama e as proporções de sobrevivência são menores nas regiões com IDH inferior, em grande parte devido às limitações de diagnóstico precoce e de acesso a tratamentos.
Em análise geral dos dados, observamos que é natural o aumento de registros de câncer diante do crescimento da população mundial, do aumento da longevidade humana e do melhoramento das ferramentas de diagnóstico. Contudo, o melhor acesso às informações sobre prevenção deveriam repercutir na maior constância de atitudes anticâncer, tal qual o diagnóstico precoce deveria impulsionar a redução da mortalidade.
A população deve focar na prevenção possível de ser feita no dia a dia. Atualmente, uma em cada 5 pessoas em todo o mundo desenvolve câncer durante sua vida; um em cada 8 homens e uma em cada 11 mulheres morrem da doença. Cabe não só às autoridades o desenvolvimento de ações conjuntas para mudar esse cenário, mas também a cada pessoa a adoção de rotinas anticâncer.
*André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e diretor Científico no Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão: GBOP. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente.
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