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Dia Mundial do Câncer: ações anticâncer precisam ser diárias


Na próxima quinta-feira (4/2), temos o Dia Mundial do Câncer, data dedicada a chamar a atenção sobre a necessidade diária de ações preventivas contra o câncer, tanto por parte da população, como das autoridades governamentais e instituições de saúde.


O ano de 2020 não foi vitorioso para o combate ao câncer. Pelo contrário! O cenário de pandemia ocasionou um efeito cascata, resultando em um enorme retrocesso na prevenção, no diagnóstico precoce e no tratamento de câncer em andamento, visto que muitos pacientes tiveram suas rotinas alteradas. Isso, infelizmente, repercutirá em maior diagnóstico tardio e mortalidade nos próximos meses e anos.

Conforme os números do banco de dados GLOBOCAN 2020, acessível online como parte do IARC Global Cancer Observatory, estima-se que a carga global de câncer tenha aumentado para 19,3 milhões de novos casos e 10 milhões de mortes em 2020. Quando projetadas para 2040, as estimativas sobem para cerca de 30 milhões de casos, um aumento de 47% em relação ao observado em 2020. Contudo, o impacto negativo da pandemia só ficará realmente perceptível no futuro. Ou seja, esses números deverão ser ainda maiores.

Os países classificados como de baixo ou médio Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) terão os maiores aumentos de incidência de câncer até 2040, com 95% e 64% de acréscimo, respectivamente, a partir de 2020. O maior impacto proporcional é esperado na África, com mais 89,1% de novos casos, seguido da América Latina, com mais 65,6%, e Ásia, com mais 59,2%.


A maior incidência nesses países reflete a mudança de hábitos de vida, com tendência à adoção de costumes comuns atualmente em países com IDH alto e muito alto: tabagismo, dieta não saudável, excesso de peso corporal e sedentarismo. Dessa forma, e com base nessas informações, é necessária uma intervenção para que, nesses países, as medidas de prevenção, diagnóstico e tratamento possam minimizar essa tendência.

Os tipos de câncer mais comuns e os hábitos de vida
Os dez tipos de câncer mais comuns em 2020 são responsáveis por mais de 60% dos casos de câncer recém-diagnosticados e mais de 70% das mortes pela doença.

O câncer de mama feminino é o tipo mais comum em todo o mundo (11,7% do total de casos novos), seguido por câncer de pulmão (11,4%), câncer colorretal (10,0%), câncer de próstata (7,3%) e câncer de estômago (5,6%).


Com medidas preventivas simples, a população poderia contribuir para evitar ou reduzir as chances de surgimento desses tumores, até mesmo nas pessoas portadoras de síndromes de predisposição hereditárias:

1. Não fumar e combater o tabagismo

2.
Evitar bebidas alcoólicas e combater o alcoolismo

3. Manter dieta saudável com alimentos ricos em fibras naturais, carnes brancas, cereais, frutas e legumes

4.
Combater o consumo de carnes vermelhas ou processadas

5. Manter o Índice de Massa Corporal (IMC) entre 18,5 e 24,9

6.
Vacinar-se contra HPV e Hepatite B

7. Manter a prática periódica de atividades físicas

8.
Fazer a profilaxia e combater agentes infecciosos como vírus e bactérias (como Helicobacter Pylori, hepatite C, entre outras)

9. Proteger-se contra os raios solares

10. Manter as consultas e exames de rotina em dia

11. Para mulheres entre 25 e 64 anos, fazer o exame preventivo do câncer do colo do útero anual

12. Para homens a partir dos 40 anos, manter o rastreamento de câncer de próstata

Por sua vez, quando falamos da mortalidade, o câncer de pulmão está à frente, com 18% do total de mortes por câncer, seguido por câncer colorretal (9,4%), câncer de fígado (8,3%), câncer de estômago (7,7%) e câncer de mama feminino (6,9%).

Importante observar que, mesmo com a redução da mortalidade por câncer de pulmão em alguns países, como Estados Unidos (3% ao ano entre 2008 e 2013), fruto de ações de combate ao tabagismo, esse tipo de tumor segue em liderança como causa de mortalidade, demonstrando a necessária ação conjunta das autoridades internacionais no combate a esse vício tão nocivo, assim como para ampliação do diagnóstico precoce.

Da mesma forma, observa-se que esse hábito mais comum entre o público masculino tem sua consequência lógica: é o câncer mais comumente diagnosticado e a principal causa de morte por câncer em homens. Em incidência, após o câncer de pulmão, estão o câncer de próstata e o colorretal. Já para a mortalidade, o câncer de fígado e o colorretal ocupam as posições seguintes.


Entre as mulheres, o câncer de mama é o tipo mais frequente e a principal causa de morte por câncer, seguido por câncer colorretal e câncer de pulmão para incidência. No quesito mortalidade, estão o câncer de pulmão e o câncer colorretal.

Adiamento da procriação e redução no número de filhos
Com 2,3 milhões de novos casos, 1 em cada 8 cânceres em 2020 é de mama. A doença está à frente, inclusive, do câncer de pulmão, em número de diagnósticos, e configura-se como a quinta causa de mortalidade por câncer, com 685 mil óbitos em 2020.

Nas mulheres, o câncer de mama é responsável por 1 em cada 4 casos de câncer e 1 em cada 6 mortes por câncer. Além disso, a doença é mais incidente em 159 países e a principal causa de mortalidade por câncer em 110 dos 185 que o GLOBOCAN analisa. Para esse tipo de tumor, além da prática atividade física, manutenção do peso corporal adequado, adoção de uma alimentação saudável e combate ao consumo de bebidas alcóolicas, a amamentação, por estar relacionada a fatores hormonais, também é um fator protetor.


Por isso, em muitos países com IDH baixo e médio, onde começam a se estabelecer a cultura da postergação da procriação e menor número de filhos, além de maiores níveis de excesso de peso corporal e sedentarismo, observa-se com atenção a maior tendência de incidência desse tipo de tumor.

Se, por um lado, as taxas de incidência de câncer de mama estão convergindo em todo o mundo, com tendência de crescimento entre países de IDH baixo e médio, as taxas de mortalidade por câncer de mama e as proporções de sobrevivência são menores nas regiões com IDH inferior, em grande parte devido às limitações de diagnóstico precoce e de acesso a tratamentos.

Em análise geral dos dados, observamos que é natural o aumento de registros de câncer diante do crescimento da população mundial, do aumento da longevidade humana e do melhoramento das ferramentas de diagnóstico. Contudo, o melhor acesso às informações sobre prevenção deveriam repercutir na maior constância de atitudes anticâncer, tal qual o diagnóstico precoce deveria impulsionar a redução da mortalidade.


A população deve focar na prevenção possível de ser feita no dia a dia. Atualmente, uma em cada 5 pessoas em todo o mundo desenvolve câncer durante sua vida; um em cada 8 homens e uma em cada 11 mulheres morrem da doença. Cabe não só às autoridades o desenvolvimento de ações conjuntas para mudar esse cenário, mas também a cada pessoa a adoção de rotinas anticâncer.

*André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e diretor Científico no Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão: GBOP. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente.


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