Não é novidade que a infecção causada por Helicobacter pylori (H. pylori) é um importante fator de risco para o surgimento do câncer gástrico. Anteriormente, inclusive, apresentei aqui em minha coluna do Saúde Plena os resultados de uma pesquisa demonstrando que até 13% dos casos de câncer no mundo têm como causa a contaminação por agentes infecciosos, a exemplo dessa bactéria.
Agora, um novo estudo realizado com população hispânica colombiana vem lançar luz sobre como o tratamento e a erradicação do Helicobacter pylori (H. pylori) podem contribuir para que lesões pré-cancerosas não progridam para o desenvolvimento de tumores de estômago.
A pesquisa, publicada no Journal Gastroenterology, do American Gastroenterological Association (AGA), identificou que os participantes tratados tiveram uma redução significativa de 41% do risco de progressão, em comparação com aqueles que receberam placebo no início do estudo. O efeito protetor da terapia durou 20 anos.
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Os participantes foram sorteados (randomizados) para receber duas semanas de terapia anti-H. pylori, com ou sem suplementação de betacaroteno e/ou ácido ascórbico, por seis anos ou aos placebos correspondentes. No final do ensaio de seis anos, a terapia anti-H. pylori foi oferecida a indivíduos não tratados anteriormente.
Com isso, os pesquisadores descobriram que a eliminação do H. pylori levou à regressão da gastrite atrófica multifocal e reduziu a progressão da metaplasia intestinal (segundo estágio para desenvolvimento do câncer gástrico). Outras pesquisas nesse sentido foram realizadas anteriormente, tal como o estudo da Coreia do Sul, que mostrou que a terapia com H. pylori foi associada a taxas reduzidas de câncer gástrico metacrônico em pacientes de alto risco, após a ressecção endoscópica de displasia gástrica.
Já a pesquisa divulgada pelo Grupo de Estudos em Infecção e Epidemiologia do Câncer, na revista Lancet Glob Health, demonstrou que a H. pylori foi responsável por 810 mil novos casos de câncer em 2018, sobretudo o adenocarcinoma gástrico.
A erradicação em massa da infecção por H. pylori em populações de alto risco é uma medida que deve ser implementada com foco na redução desse tipo de câncer. Além disso, a realização de exames endoscópicos de alta qualidade e demais exames pertinentes são importantes para o correto rastreamento, diagnóstico precoce da doença e definição de protocolos.
Também é válido nos atentarmos para as síndromes hereditárias associadas ao maior risco de desenvolvimento de tumores de estômago. Hoje, estima-se que até 15% dos casos de câncer de estômago ocorram por mutações hereditárias em genes importantes para a proteção das células do estômago.
Suspeita-se dessa condição em casos de aparecimento do câncer em idade abaixo dos 50 anos de idade e também com a ocorrência de casos nos parentes próximos. Existindo essa suspeita, um oncogeneticista deve ser consultado para orientação dos exames genéticos, acompanhamento, aconselhamento familiar, exames de rastreamento e indicação de cirurgias redutoras de riscos.
*André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e diretor Científico no Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão: GBOP. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente.
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