O melanoma é o tipo de câncer de pele que mais mata, apesar de corresponder a apenas 1% dos casos que atingem esse órgão. A cada ano do triênio 2020/2022 deverão ser diagnosticados no Brasil 8,45 mil novos casos de câncer de pele tipo melanoma (4,2 mil em homens e 4,25 mil em mulheres), conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA).
O melanoma, em geral, aparece em pessoas de pele clara, loiras, de olhos claros e devido à exposição à luz solar. É mais comumente causado pela exposição intensa e intermitente ao sol - quando a pele fica avermelhada e depois descasca - do que pela exposição frequente, mas menos intensa, que não causa vermelhidão. Claro, também há os casos de predisposição hereditária.
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Isso mesmo. Enquanto cientistas se debruçam em busca de novas tecnologias de ponta para diagnóstico e tratamento, uma forma simples poderia reduzir drasticamente as mortes por este tipo de câncer.
O estudo de custo-efetividade comparou o impacto estimado em longo prazo de três abordagens diferentes relacionadas ao melanoma: uma estratégia de prevenção primária, que consistia basicamente em promover o uso diário de filtro solar e outras formas de proteção solar; detecção precoce por meio de exames anuais de pele de todo o corpo por médicos, a partir dos 50 anos; e nenhuma intervenção.
A análise forneceu estimativas do número de casos de melanoma, mortes causadas por melanoma, câncer de pele não melanoma e resultados de qualidade de vida ao longo de 30 anos, começando em homens e mulheres de 50 anos.
A prevenção primária por meio da proteção solar foi a vencedora, conforme demonstram os resultados:
- Uma redução de 44% na incidência de melanoma, em comparação com a detecção precoce por meio de exames anuais de pele pelo médico;
- Uma redução de 39% nas mortes por melanoma projetadas em comparação com a detecção precoce, que, por sua vez, alcançou uma redução de apenas 2% quando comparada com nenhuma intervenção;
- 27% menos cânceres de queratinócitos (principal tipo celular da epiderme) %u200B%u200Bdo que com exames anuais de pele;
- Uma redução de 21,7% nos custos sociais, em comparação com um programa de detecção precoce.
O uso diário de filtro solar para prevenção primária também foi associado a um aumento modesto de 0,1% nos anos de vida com qualidade considerável.
Para os pesquisadores, embora os participantes sejam principalmente de pele clara e enfrentem altos níveis de radiação UV, no estado australiano de Queensland, onde ocorreu o estudo, limitando de certa forma a generalização dos resultados do estudo, as relações entre os custos das estratégias de intervenção e seus resultados devem ser proporcional em outros países.
Aqui no Brasil, por exemplo, onde enfrentamos também grande incidência de raios solares, o hábito de uso diário de protetor solar poderia ter um resultado fantástico de prevenção do melanoma e outros tipos de câncer de pele.
O uso de protetor solar está acessível atualmente para praticamente toda a população, e não podemos nos esquecer que a prevenção precisa ser realizada de forma correta e completa. Não adianta usar o protetor solar uma vez no dia, passar quando já se está exposto à radiação solar ou usar o fator de proteção muito baixo.
É necessário manter o uso periódico durante o dia, antes da exposição solar e no fator ideal para seu tipo de pele. É importante evitar o sol, principalmente, entre 10h e 15h30.
Seguir essas recomendações seria benéfico, inclusive, para os pacientes com predisposição hereditária não diagnosticados. Claro, para aqueles que recebem diagnóstico, será criada toda uma estratégia personalizada de prevenção.
A mutação mais comum ocorre no gene CDKN2A, causando a Síndrome Familiar dos Nevos Atípicos Múltiplos. A pessoa tem muitos nevos. Um ou outro acaba malignizando e se transformando em melanoma, geralmente em pessoas jovens, abaixo dos 40 e 30 anos.
Por isso, as pessoas com essas mutações devem visitar o dermatologista até duas vezes ao ano para detectar as lesões ainda em fase inicial ou pré-maligna, para que ela possa ser removida antes de afetar outros tecidos.
Importante destacar que a mutação desse gene também causa câncer de pâncreas e cerebral (astrocitoma). Então, pessoas com esses casos na família devem ficar atentas e procurar sempre um oncogeneticista para a devida orientação e diagnóstico correto da doença.
*André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e diretor Científico no Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão: GBOP. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente.
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