A última sexta-feira, dia 17, foi dedicada aos cirurgiões oncológicos, especialidade da medicina que, tradicionalmente, dedica-se à realização de cirurgias em pacientes oncológicos.
Esses profissionais têm atuação primordial no diagnóstico, prognóstico, assim como na retirada muitas vezes complexas de tumores e realização de tratamentos cirúrgicos paliativos. Então, primeiramente, registro meu agradecimento a todos os colegas que se dedicam a essa nobre e complexa tarefa.
Esses profissionais têm atuação primordial no diagnóstico, prognóstico, assim como na retirada muitas vezes complexas de tumores e realização de tratamentos cirúrgicos paliativos. Então, primeiramente, registro meu agradecimento a todos os colegas que se dedicam a essa nobre e complexa tarefa.
Felizmente, as cirurgias hoje são muitas vezes realizadas por procedimentos minimamente invasivos, o que pode reduzir o tempo cirúrgico e as complicações pré e pós-operatórias. As cirurgias vídeo-assistidas e as cirurgias robóticas já são utilizadas de rotina no tratamento de vários rumores.
Nos últimos anos, os avanços da oncogenética permitiram que os cirurgiões oncológicos atuassem também de forma preventiva com as chamadas cirurgias profiláticas ou redutoras de risco naqueles pacientes portadores de Síndromes Hereditárias de Predisposição ao Câncer. Esse trabalho é realizado em parceria com oncogeneticistas, em um planejamento preventivo, ou seja, para que o tumor não tenha a chance de aparecer.
Para algumas dessas síndromes, após a confirmação do diagnóstico com um teste genético, é possível a realização dessas cirurgias, que basicamente são a retirada dos órgãos (ou parte deles), cuja mutação predetermina a maior chance de desenvolvimento de um tumor. Obviamente, não são todas as síndromes que permitem tal abordagem.
Em alguns casos de predisposição muito forte - por exemplo, o câncer de mama causado por mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 -, indicamos a cirurgia profilática para possível retirada das mamas, ovários, e trompas.
A indicação só ocorre após analisar todas as condições e quando os ganhos são realmente vantajosos. Foi o que fez a atriz Angelina Jolie, em 2013, por exemplo, ao optar em fazer a retirada preventiva das mamas, ovários e trompas de falópio. Normalmente, indica-se apenas quando a mulher já teve os filhos que pretendia! Claro que, no final, a decisão sempre é do paciente.
Quando bem indicada, essas técnicas são extremamente eficientes. E cabe um trabalho em parceira entre nós geneticistas – explicando as suas vantagens e desvantagens – e os cirurgiões, que deverão fazer a cirurgia da forma menos invasiva possível.
Para mutação do gene RET, que indica uma forte possibilidade de desenvolvimento do câncer de tiróide, podemos sugerir a retirada preventiva dessa glândula. Já para a mutação do gene CDH1, que muito precocemente resulta em um grave câncer de estômago, a chamada a Síndrome do Câncer Hereditário Difuso, muitas vezes, indicamos a remoção preventiva do estômago precocemente, entre os 20 e 25 anos de idade.
Por sua vez, os portadores da doença genética polipose adenomatosa familiar (PAF) apresentam pólipos múltiplos intestinais e câncer de colorretal em idade muito jovem, por vezes ainda na puberdade/adolescência. Um especialista vai determinar a melhor idade para se iniciar o rastreamento e também a cirurgia de remoção preventiva do intestino grosso, com a colectomia total.
No caso das pessoas que precisam tirar todo o reto, é necessário o uso de uma bolsa de colostomia. Isso é raro, devido à existência de uma cirurgia para reconstruir o esfíncter anal e manter a evacuação normal. Mas, em alguns casos, a pessoa tem que utilizar a bolsa durante toda a vida. Então, é algo que precisa ser amplamente discutido com o paciente e com a família. A boa notícia é que essas intervenções conseguem evitar que a pessoa tenha câncer.
No caso da síndrome de Lynch, em que normalmente não indicamos a remoção do intestino, a não ser em situações especiais, o rastreamento precoce pode detectar a doença numa fase pré-maligna ou numa fase maligna bem inicial em que a cirurgia pode resolver. Além disso, indicamos o uso preventivo da aspirina.
Então, hoje, essa nova atuação do cirurgião oncológico, em parceria com a oncogenética, permite que o tratamento oncológico seja ainda mais preventivo. A todos eles, minha homenagem pela dedicação e pelo bem que promovem!
André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e diretor Científico no Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão: GBOP. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente.
Quer falar com o colunista? Envie um e-mail para andremurad@personaloncologia.com.br