Todos os anos, temos campanhas oportunas para conscientizar as mulheres sobre a importância de prevenção e rastreamento dos cânceres de mama, ovário e útero; e para homens, sobre a prevenção do câncer de próstata. Contudo, nem sempre há espaço para falar sobre o câncer de mama masculino, cuja incidência está aumentando.
Embora ainda seja uma doença rara e pouco compreendida, estudos genéticos recentes revelaram diferenças fundamentais em relação ao câncer de mama feminino que podem ajudar a orientar as estratégias de tratamento em direção a uma abordagem mais personalizada.
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Em geral, os homens não têm conhecimento sobre o câncer de mama masculino e podem ignorar ou sentirem-se desconfortáveis ao procurar atendimento para queixas mamárias mais comumente associadas às mulheres. Isso leva a diagnósticos mais tardios de câncer avançado neste grupo.
As manifestações clínicas mais comuns são a presença de um caroço na área do tórax, que pode ser acompanhado ou não de adenomegalia axilar (ou “íngua” palpada na região da axila, em geral, do mesmo lado do caroço) e também a presença de uma retração na pele.
Em situações mais graves do câncer de mama masculino, é possível também ocorrer uma retração do mamilo, acompanhada ou não de sangue na região. Quando esses sinais são detectados, é imprescindível a pronta consulta médica para que o diagnóstico seja realizado, inclusive com a realização de uma biópsia e de exames de estadiamento da doença para se avaliar a extensão da mesma.
Síndrome de predisposição hereditária ao câncer de mama e outras alterações genéticas
A falta de rastreio adequado – que em geral não é feito nos homens – e os diagnósticos tardios contribuem para taxa de mortalidade 25% maior nos homens do que nas mulheres, embora, com o tratamento padrão, as taxas de sobrevivência sejam semelhantes.
Proporcionalmente, surgem significativamente mais casos masculinos que estão associados a mutações genéticas hereditárias e exibem características “muito diferentes” em comparação com câncer de mama herdado em mulheres, de acordo com a revisão da histopatologia.
Mutações no gene BRCA2 representam o fator de risco mais forte para o câncer de mama masculino, com um risco relativo de 80 vezes o da população em geral.
Mutações no gene BRCA2 representam o fator de risco mais forte para o câncer de mama masculino, com um risco relativo de 80 vezes o da população em geral.
Entre os portadores da mutação BRCA2, o câncer de mama masculino parece ser o mais agressivo. Enquanto isso, embora as mutações no gene BRCA1 estejam associadas ao câncer do tipo basal em mulheres com câncer de mama, elas não estão presentes nos homens.
A rigor, todo homem com diagnóstico de câncer de mama deveria ser submetido a uma pesquisa genética de mutação do gene BRCA2. Se a mutação for confirmada, será necessário rastrear seus parentes próximos, especialmente irmãos e filhos.
Por outro lado, a história familiar de cânceres de mama e ovário em idade abaixo dos 55 anos também deve levantar a suspeita de se tratar de uma síndrome de predisposição ao câncer de mama hereditário, tornando-se imperativa, para homens e mulheres, a consulta com um oncogeneticista que fará o aconselhamento genético e os exames genéticos adequados para cada caso.
A rigor, todo homem com diagnóstico de câncer de mama deveria ser submetido a uma pesquisa genética de mutação do gene BRCA2. Se a mutação for confirmada, será necessário rastrear seus parentes próximos, especialmente irmãos e filhos.
Por outro lado, a história familiar de cânceres de mama e ovário em idade abaixo dos 55 anos também deve levantar a suspeita de se tratar de uma síndrome de predisposição ao câncer de mama hereditário, tornando-se imperativa, para homens e mulheres, a consulta com um oncogeneticista que fará o aconselhamento genético e os exames genéticos adequados para cada caso.
Diferentes alterações genéticas não herdadas também foram relatadas em homens, embora os estudos tenham sido limitados a pouco mais de 200 pacientes com câncer de mama no sexo masculino, e os resultados sejam mistos.
Alterações no gene PIK3CA são as mutações mais comuns em pacientes do sexo masculino, ocorrendo com mais frequência do que no sexo feminino e em diferentes partes do gene.
Ao contrário de mulheres com câncer de mama, estudos recentes não detectaram mutações no KRAS em homens, e a mutação TP53 – a alteração genética mais comum em mulheres – foi observada em apenas 1% dos cânceres de mama masculinos.
Alterações cromossômicas são vistas com mais frequência no câncer de mama masculino, com alguns estudos importantes mostrando mais regiões genéticas que ganharam material erroneamente e menos que perderam material.
A chamada metilação de genes – mecanismo mais comum pelo qual os genes supressores de tumores (genes que fazem o controle do crescimento e da multiplicação celular) são silenciados por um câncer – é vista com menos frequência nos homens.
A chamada metilação de genes – mecanismo mais comum pelo qual os genes supressores de tumores (genes que fazem o controle do crescimento e da multiplicação celular) são silenciados por um câncer – é vista com menos frequência nos homens.
Rastreando o câncer de mama masculino em portadores de mutações de BRCA2 ou com histórico pessoal ou familiar de câncer de mama
A triagem mamográfica ajuda a melhorar o prognóstico das mulheres com câncer de mama, mas os homens não têm diretrizes de triagem formalizadas, portanto, é mais provável que sejam diagnosticados em um estágio mais avançado e geralmente não o fazem tão bem quanto as mulheres.
Entretanto, mais recentemente, Gao e colaboradores analisaram o uso de imagem da mama e os resultados da triagem entre 1.869 homens (idade média de 55 anos; intervalo de 18 a 96) que tinham histórico pessoal ou familiar de câncer de mama e/ou mutações genéticas e foram submetidos a 2.052 exames entre 2005 e 2017.
Todos os exames incluíram mamografia e 1.004 incluíram ultrassonografia. Os exames detectaram 2.304 lesões mamárias que levaram a 149 biópsias entre 133 homens. Os resultados mostraram que 41 (27,5%) das lesões eram malignas. Esse estudo, portanto, reforça a indicação dos exames de imagem de rastreamento nos homens com predisposição à doença.
Usando a genética na avaliação do prognóstico e tratamento
Os pesquisadores identificaram vários subtipos genéticos que podem ajudar a descobrir o prognóstico de um homem. Isso inclui tumores que apresentam rearranjo cromossômico mais complexo e altos níveis de metilação.
Além da categoria tipicamente responsiva ao estrogênio, acredita-se que exista um tipo muito menos comum de câncer de mama masculino que seja resistente à terapia hormonal.
Além da categoria tipicamente responsiva ao estrogênio, acredita-se que exista um tipo muito menos comum de câncer de mama masculino que seja resistente à terapia hormonal.
Esse subtipo está associado a mutações que causam transição mesenquimal epitelial, um processo que transforma as células epiteliais que revestem várias superfícies internas do corpo em células cancerígenas invasivas difíceis de matar.
Pode ser possível capitalizar essas mudanças como uma maneira de monitorar a doença, observando sua atividade ao longo das vias de sinalização celular; isso pode ser conseguido através de imagens com exames de PET, que podem visualizar uma substância injetada no corpo à medida que ela se acumula nas células cancerígenas.
Além disso, essas falhas genéticas podem se tornar tratáveis com novas terapias direcionadas ao metabolismo do câncer.
Além disso, essas falhas genéticas podem se tornar tratáveis com novas terapias direcionadas ao metabolismo do câncer.
Outra pista para se determinar quais medicamentos funcionarão contra o câncer de mama masculino: os genes associados à motilidade celular são diferentes no câncer de mama masculino e no câncer de mama feminino.
Os investigadores acreditam que esse fenômeno resulte em maior eficácia de drogas quimioterápicas como taxanos, alcaloides da vinca e eribulina, quimioterápicos esses que atuam inibindo de alguma forma a mitose (divisão celular que resulta na formação de duas células geneticamente idênticas à célula original) das células tumorais.
Os investigadores acreditam que esse fenômeno resulte em maior eficácia de drogas quimioterápicas como taxanos, alcaloides da vinca e eribulina, quimioterápicos esses que atuam inibindo de alguma forma a mitose (divisão celular que resulta na formação de duas células geneticamente idênticas à célula original) das células tumorais.
Tratando o câncer de mama masculino
Como a mama masculina é pequena e os nódulos são atrás do mamilo, geralmente não temos como fazer cirurgias conservadoras (que retiram apenas parte da mama). A cirurgia costuma ser a retirada de toda a mama com a aréola e o mamilo tendo de sair como margem de segurança (mastectomia total), com a cirurgia axilar (retirada de um gânglio – linfonodo sentinela – ou de vários gânglios da axila) no mesmo tempo cirúrgico.
Outros tratamentos podem ser necessários, assim como nas mulheres: quimioterapia, radioterapia, bloqueio dos hormônios. Tudo vai depender do tamanho do tumor e de suas características biológicas.
Dito tudo isso, ressalto que precisamos somar a esses avanços da ciência, a maior conscientização sobre a existência do câncer de mama masculino, visto ser uma doença séria, embora rara, em comparação ao câncer de mama feminino.
Deixo como “dever de casa” ao leitor homem, que analise o risco de ser acometido pela doença, e que tenha iniciativa de falar sobre isso com seu médico de confiança.
Às mulheres, peço que levem essa informação aos homens de seu círculo de relacionamento, afinal, informação correta é uma ferramenta essencial na luta contra o câncer.
Deixo como “dever de casa” ao leitor homem, que analise o risco de ser acometido pela doença, e que tenha iniciativa de falar sobre isso com seu médico de confiança.
Às mulheres, peço que levem essa informação aos homens de seu círculo de relacionamento, afinal, informação correta é uma ferramenta essencial na luta contra o câncer.
*André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente