Uma das angústias mais comuns entre pacientes oncológicos é não saber exatamente o porquê de a doença se desenvolver em seu organismo. Como não conseguem relacionar a uma causa direta, muitas vezes, acreditam ser algum tipo de castigo ou provação. Outros, acham que foi devido a mágoas guardadas. A ciência, contudo, vem encontrando respostas mais objetivas como a exposição a fatores de risco específicos.
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Estudo identifica maior mortalidade e recorrência do câncer entre consumidores da suplementaçãoQueda da mortalidade por câncer: a importância da oncologia de precisãoTinturas e alisadores estão associados a risco maior de câncer de mama em mulheresTratamento de bactéria em pessoas com história familiar de câncer gástrico pode reduzir risco da doençaCâncer de intestino já é o segundo de maior incidência entre homens brasileirosNo entanto, uma pesquisa divulgada em dezembro, conseguiu fazer a relação direta do aparecimento do câncer com agentes infecciosos (vírus, bactérias e parasitas) em 13% dos casos de câncer no mundo, ou seja, 2,2 milhões de pessoas, em 2018.
O dado divulgado na revista Lancet Glob Health pelo Grupo de Estudos em Infecção e Epidemiologia do Câncer da Agência, é alarmante, mas fundamental para justificar a importância das ações preventivas. Além disso, pode ajudar na conscientização e na divulgação das recomendações para ações contra o câncer, pois estamos falando de causas transmissíveis entre os seres humanos.
A pesquisa identificou agentes virais e bacterianos conhecidos pela comunidade médica e população, como a Helicobacter pylori (bactéria causadora de inflamação do estômago e câncer gástrico), o papilomavírus humano - HPV (vírus associado, principalmente, ao câncer de colo do útero), e os vírus da B (HBV) e da C (HCV) da hepatite, ambos causadores, maiormente, do carcinoma hepatocelular.
Somente a Helicobacter pylori foi responsável por 810.000 novos casos de câncer em 2018, sobretudo, o adenocarcinoma gástrico. Já o HPV foi responsável por 690.000 novos casos, provocando, na maior parte das vezes, o carcinoma colo-uterino.
Sobre a prevenção, lembro que a vacinação pública contra o HPV, implantada no país nos últimos anos, está abaixo da cobertura esperada, segundo dados do próprio Ministério da Saúde. Em 2015, por exemplo, apenas 44,3% das meninas de 9 a 11 anos tomaram a segunda dose, o que deixa a população mais vulnerável à infecção.
Por sua vez, HBV contribuiu para 360.000 novos casos e o HCV foi responsável por 160.000 novos casos, ambos causadores, principalmente, de carcinoma hepatocelular. Outros agentes infecciosos, como os vírus Epstein-Barr (mononucleose ou doença do beijo), linfotrópico de células T humanas tipo 1, o herpesvírus humano tipo 8 (também conhecido como herpesvírus do sarcoma de Kaposi) e infecções parasitárias contribuíram para os 210.000 casos restantes.
Para parte desses agentes infecciosos não existe uma forma de prevenção em massa, exceto a vacinação contra o HPV e o vírus B hepatite. Atualmente também tem sido preconizado o uso de antibioticoterapia para a erradicação do H. pylori para portadores de alto risco de câncer de estômago.
Enquanto a ciência não encontra vacinas para todos os casos possíveis, cada indivíduo deve estar atento à própria proteção mantendo as medidas profiláticas e, em especial, não realizando relações sexuais desprotegidas, pois muitos desses vírus são sexualmente transmissíveis, as chamadas DST’s.
Para finalizar, a pesquisa nos permite concluir também que devem ser intensificadas e desenvolvidas campanhas nacionais de conscientização sobre as formas de prevenção desses vírus, bactérias e parasitas, pois, afinal, está provado: trata-se de prevenir e evitar milhares de casos de câncer.
Tem dúvidas? Mande pra mim no andremurad@personaloncologia.com.br
*André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente.