Saúde Plena

A relação entre COVID-19, pipocas e a teoria de Elliott

Em plena epidemia de COVID-19, a pergunta de 100 milhões de dólares é: quando isso vai acabar?

A busca da resposta passa por cálculos matemáticos e é tarefa difícil uma vez que fatores climáticos, densidade demográfica, idade e comportamento da população dentre vários outros problemas podem afetar a obtenção de dados e mudar as curvas gráficas de avanço e diminuição. Pode-se ainda utilizar na base de cálculo o número de infectados confirmados, o número de internações e o de mortes.


Longe de ser especialista no assunto, convido-os a conhecer alguns conceitos formulados por Elliott e que podem ser aplicados à epidemia ou outros aspectos da vida.
 
O contador norte-americano Ralph Nelson Elliott buscava entender no início do século 20 de que maneira os preços de ações e commodities se movimentavam em Bolsa de Valores, como agora estamos tentando entender como essa pandemia começou, quanto tempo continuará aumentando o número de mortes. Ele descobriu que o preço das ações sobe e desce em 5 ondas que se alternam em períodos de expansão e retração.
A Teoria de Elliot aplicada para a epidemia no Japão - Foto: aatishb
 
Para compreender a Teoria de Elliot e suas ondas, imagine uma panela de pipoca sendo lentamente aquecida, dentro dela muito milho e manteiga sendo derretida. 

- Em um primeiro momento nada acontece, mas com o calor aumentando as pipocas começam uma e outra a estourar – esta é a onda 1

- Segue-se um período de diminuição do número de estouros ou estabilidade: onda 2

- De repente as pipocas começam a estourar muito depressa e, dependendo da quantidade de milho que estava na panela e o calor, esta onda de novas pipocas parece não ter fim –certamente é a onda 3:

- Quando a frequência de estouros nitidamente diminui, alcançou-se o final da onda 3 e a diminuição representa a onda 4:

As pipocas seguem estourando, já com menos entusiasmo caracterizando término do movimento e onda 5, até que as pequenas explosões vão se espaçando, correção em ABC, e é hora de desligar o fogo!
 
Não sei se Ralph Nelson Elliott fazia ou gostava de pipocas, mas em seu último livro, Nature's Law –The Secret of the Universe, publicado em junho de 1946, dissertou sobre o funcionamento do universo na forma de ondas de avanço e declínio, tal qual o preço das ações. 
 
Basicamente os movimentos ocorrem em 5 "ondas de Elliott", sendo 3 de aceleração e duas de declínio. O ciclo finaliza com uma queda forte em zigue-zague denominada correção em ABC. 

Quando escutamos ou lemos previsões sobre o pico da epidemia, os analistas estão na verdade tentando projetar o topo da onda 3 ou da onda 5. Seria o equivalente a tentar matematicamente determinar, baseado no número de grãos de milho, quantidade e qualidade da manteiga, dimensões e material do fundo da panela e calor irradiando do fogão, a que momento teríamos a brusca diminuição dos estouros de pipoca. Obviamente é tarefa difícil porque há muitas variáveis, especialmente no Brasil.


Comparação entre as ondas da epidemia no Brasil, França e Coreia do Sul - Foto: aatishb

Como exemplo prático, vejamos a situação da epidemia no Japão, cujos dados coletamos do site aatishb, em que conseguimos identificar 5 ondas em uma tendência de alta, seguidas de uma diminuição do número de casos confirmados, caracterizando provavelmente a onda A, de correção e término do ciclo/epidemia. Neste exemplo específico, a onda mais poderosa foi a 5.

No Brasil, bem como na maior parte do mundo, a análise precisa de ondas fica prejudicada em virtude da demora ocorrida no diagnóstico de casos, seguida de uma explosão de resultados positivos. Ainda assim certamente estamos em uma onda 3 (usualmente é a mais poderosa) e sem, até o momento, nenhum indício que teríamos alcançado um pico ou o topo.


Ressalte-se que caso seja confirmada a teoria de Elliott, ainda teríamos um último incremento de números de casos, em inclinação menos significativa, seguida de uma expressiva redução do número de diagnósticos. No gráfico acima uma comparação do Brasil, França e Coreia do Sul. Brasil em plena onda 3, França depois de sinalizar um topo (onda 5) inicia processo que sugere final da epidemia (correção ABC).



Como se pode perceber, adivinhar o final de um movimento (pico) de uma infecção é tarefa difícil e as curvas podem ajudar. Obviamente, a doença tem se manifestado de maneira diferente nas diversas regiões e cidades brasileiras. Para o momento o mais recomendado é prudência, uma vez que, ainda que seja observado futuramente o final de uma onda 3, o relaxamento das medidas pode levar a uma onda 5, eventualmente ainda mais intensa que a 3, seguida de expressivo aumento do número de mortes e infectados, o que todos nós tememos.

Cuidem-se!
 
Meu nome é Alexandre Rattes, sou Otorrinolaringologista e se você tem alguma dúvida ou sugestão encaminhe e-mail para alexandre.rattes@gmail.com