A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) celebram em 2020 o ano internacional dos profissionais de enfermagem e obstetrícia. Designado pela Assembleia Mundial da Saúde de 2019, o marco comemorativo tem o objetivo de reconhecer o trabalho feito pelos profissionais de enfermagem em todo o mundo.
Segundo a OMS, o mundo precisa de mais 9 milhões de enfermeiras (os) para atingir a meta de cobertura universal de saúde até 2030. Nas Américas, a OPAS destaca que são necessários 800 mil profissionais de saúde a mais. No Brasil, segundo dados do Conselho Federal de Enfermagem, somos 2.263.269 profissionais, sendo que em Minas Gerais somos 188.572 (enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem). Profissionais que desempenham um papel vital na prestação de serviços essenciais de saúde em todos os níveis de atenção e são cruciais para promover a saúde.
Em um ano que deveria ser de festa, somos surpreendidos com a pandemia da COVID-19, vulgo coronavírus. A recomendação da OMS para a população é de distanciamento social, o que inclui até mesmo operações em home office para todas as empresas e profissionais que têm essa possiblidade, além de cancelamento de eventos e fechamento de atividades diversas. A enfermagem não está inclusa nessa diretriz, afinal, somos nós que auxiliamos a população prestando atendimentos de qualidade e ininterruptos.
E mais uma vez a história da enfermagem se mistura com a história de grandes epidemias e com a história de uma mulher que em 2020 completaria 200 anos, Florence Nightingale. Uma enfermeira inglesa que ganhou destaque pela atuação pioneira no cuidado a feridos em batalhas, durante a Guerra da Crimeia. Com uma coleta constante de dados, organizou registros e estatísticas montando diagramas de área onde visualizou, mês a mês, que o rigor na assepsia fazia decrescer as mortes por infecção. Seu trabalho baseado em evidências foi responsável pela diminuição de mais de 70% das mortes de soldados feridos em batalhas.
No ano em que comemoramos o nascimento da enfermeira que revolucionou a enfermagem moderna, estamos a enfrentando um novo inimigo e novamente assepsia, medidas higiênicas e o uso de equipamentos de segurança são nossos maiores aliados, no entanto, muitos de nós relatam alto nível de estresse. Alguns estão apreensivos por não receberem equipamentos de proteção individual (EPI) adequados e também por não terem sido treinados previamente para os procedimentos a serem seguidos para lidar com a nova doença.
Nossos colegas estão adoecendo e, por isso, gostaria de propor uma reflexão. Nossa profissão não tem piso salarial ou jornada de trabalho definida. Muitas vezes, não temos sequer um espaço para descanso ao longo do plantão. Estamos 24 horas ao lado do paciente e precisamos mais do que palmas. Precisamos de apoio social para melhorar nossas condições de trabalho. Precisamos de EPIS nas nossas mãos, para nossa proteção e dos pacientes.
Precisamos de respeito. Chega de promessas vagas e medidas populistas. Precisamos realmente transformar 2020 no ano da enfermagem, começando pela valorização da classe.
*Graduado em enfermagem e especialista em gestão, enfermagem do trabalho e em auditoria em serviço de saúde. Atuou como enfermeiro e coordenador de epidemiologia no Centro Saúde em Machacalis (MG), como supervisor de estágio do curso técnico em enfermagem na Unipac - Machacalis, como professor do curso técnico em enfermagem na Unipac - Machacalis, do curso de enfermagem - Itep em Araçuaí (MG) e do curso técnico em enfermagem na Fategídio em Teófilo Otoni (MG). Também foi professor do curso de segurança do trabalho na Fategídio em Téofilo Otoni. Enfermeiro PSF em Teófilo Otoni e coordenador de Saúde Mental da microrregião de Araçuaí