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Como viver eternamente? Doação de órgãos, fazer o bem sem olhar a quem

Gugu Liberato doou os órgãos e beneficiou cerca de 50 pessoas - Foto: Divulgação

A doação de órgãos é sempre emocionante e envolvente. A ficção, com sua trilha sonora e
suspense, tenta mostrar o ritmo, a velocidade e a competência existentes na vida real para
garantir que ela continue. Receber um órgão, para muitos, é a única e a última esperança para solucionar uma doença grave. O assunto é polêmico, interessante, necessário e ousaria afirmar até misterioso.


“Para quem vai o meu órgão? E se venderem? Ele merece? Era religioso?” Quem nunca
escutou alguma história macabra de sequestro em que a vítima acorda em uma banheira de gelo com cicatrizes nas costas? A famosa lenda de venda de órgãos para o mercado clandestino. Se vocês pudessem imaginar como o transplante de órgãos é complexo, não teriam tanto medo dessa lenda urbana.

O Brasil possui o maior sistema público de transplantes de órgãos do mundo, ocupa o segundo lugar em números absolutos. O trabalho é realmente impressionante. Em 2018, as 40 mil pessoas que aguardavam por um órgão, 22 mil conseguiram ser transplantadas. O transplante de córnea, um dos mais simples dentro da gigantesca complexidade dos transplantes, é responsável por 40% da fila de espera, números que seriam melhores se mais famílias autorizassem a doação de órgãos de seus familiares. A posição da família é essencial, porém muitos não conseguem assumir essa responsabilidade e declinam o pedido de autorização de doação de órgãos.

Se há dúvidas sobre a importância de ser um doador basta imaginar que o próximo da fila de transplantes pode ser você. Uma longa espera em que horas parecem anos aguardando uma ligação com a informação de que chegou a sua vez. Receber um órgão não é um luxo, e sim uma necessidade, a resposta que a medicina encontrou quando todas as possibilidades de tratamento já foram esgotadas.





Ser doador de órgãos é uma das raras situações em que não há pontos negativos. A sua vida será multiplicada nos corpos dos favorecidos. Para aqueles que acreditam que não serão testemunhas da felicidade não posso deixar de dividir com vocês que há transplantes entre vivos: medula, rim, parte do fígado e parte do pulmão são exemplos dessa realidade.

Nos últimos dias, o assunto “doação de órgãos” ganhou espaço nos meios de comunicação, passou a ser comentado por muita gente e entrou como destaque na página principal do Ministério da Saúde. O motivo já não é novidade - a morte precoce de Gugu Liberato, no dia 22 de novembro. A família do apresentador foi voz de sua genialidade e respeitou seu desejo manifestado em vida. O trecho de sua carta dizia "Compartilho meu corpo com aqueles que necessitam de uma nova oportunidade de viver". Para muitos, Gugu foi a única oportunidade de viver. Os médicos afirmaram que torno de 50 pessoas foram beneficiadas com essa notícia.

Infelizmente, atitudes como a de Gugu e sua família ainda não são naturais na população brasileira. Familiares de pacientes com diagnóstico de morte encefálica, situação em que de maneira irreversível o corpo já não responde mais, em 40% das vezes não autorizam a doação de órgãos, segundo dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). A chama que poderia continuar acesa em outros corpos se apaga e com ela a esperança de muitas pessoas que aguardam por um simples sim, capaz de mudar completamente a expectativa de vida e até mesmo trazer a cura.


O processo que envolve a doação de órgãos é muito criterioso, extenso e seguro, não cabe
nestas situações pessoas ou ações de má fé, então não é preciso ter medo, insegurança ou
dúvidas. As equipes envolvidas nos processos são fiscalizadas e auditadas, garantindo que não haja conflitos de interesses e que seja mantida a ética. A fila para transplantes no país é única e é respeitada. A seriedade que norteia essas ações é a uma das responsáveis pela posição de destaque internacional que o Brasil ocupa.

Vencidos todos os desafios pessoais e familiares, os médicos avaliam a viabilidade das doações e inicia-se uma intensa jornada que deve ser cumprida em poucas horas, o rim consegue suportar até 48 horas, porém o coração e o pulmão precisam estar funcionando em outro corpo em, no máximo, 4 horas. Essa corrida contra o tempo envolve equipes do país inteiro para encontrar quem é o melhor candidato para os órgãos disponíveis. Os profissionais atuam de maneira ininterrupta 24 horas, todos os dias do ano. Utilizam avião, carro, barco e o que for necessário para que seja realizado esse ato quase heróico. As forças armadas apoiam e de maneira estratégica colocam todo seus equipamentos a disposição para garantir maior agilidade ao processo.

Estar na fila de transplantes é permanecer constantemente atento ao telefone, de maneira até angustiante. O toque do telefone ou uma mensagem recebida podem ser a primeira nota musical que irá embalar a intensa e maravilhosa dança da vida. Por que não viver eternamente? Doe órgãos. Não deixe a sua chama apagar.

Você tem dúvidas e perguntas sobre doação de órgãos? Mande pra mim: ericksongontijo@gmail.com