Três dúvidas comuns sobre o Mal de Alzheimer - e as respostas

Especialista fala sobre os vários tipos de Demência, comuns na terceira idade, e como o envelhecimento saudável pode retardar os efeitos da doença

Pxfuel
(foto: Pxfuel)

Na semana passada escrevi para vocês a respeito das Demências. Busquei explicar os conceitos que envolvem o tema. Falei que o Alzheimer é um dos tipos de Demência, mas que existem vários outros. Falei também da importância de evitarmos termos como “caduquice” e "esclerosado”, pois o uso deles pode banalizar o problema e atrasar tanto o diagnóstico, quanto o tratamento das demências. Também falei um pouco a respeito do que norteia o tratamento das Demências atualmente.

 

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Esse tema merece ser bem compreendido por todos nós, já que vivemos hoje um momento de intensa mudança demográfica em nosso país - o número de idosos no Brasil, atualmente, representa 14% da população e este percentual vai só aumentar. Em 2030, estima-se que o Brasil terá a quinta maior população idosa do mundo. Esse envelhecimento está acontecendo de forma rápida e, infelizmente, o desenvolvimento de políticas de saúde, da assistência social e do planejamento do país como um todo para receber esse contingente de pessoas idosas com dignidade não tem acontecido com a eficiência e a agilidade necessárias.

As Demências estão entre as doenças cuja prevalência vem aumentando mais rapidamente, acompanhando o envelhecimento populacional do nosso país. A Organização mundial de Saúde (OMS), em um documento publicado este ano (Risk Reduction of cognitiva decline and Dementia), afirma que há atualmente 50 milhões de pessoas com Demência no mundo e a projeção para 2030 é de que esse total alcance 83 milhões. O documento também informa que o Brasil será um dos países com maior número de pessoas portadoras dessa condição.

 

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Recebi muitas perguntas e, nesta semana, respondo a algumas delas. Então vamos lá:

 

"Tem como prevenir Alzheimer”? 
"Existe forma de retardar o avanço do Alzheimer?”
"Quais as causas do Alzheimer? tem relação com o estilo de vida da pessoa?"


Existem alguns fatores de risco para as Demências que não conseguimos modificar. Entre eles estão o próprio envelhecimento (quando mais velhos ficamos, maior a chance de termos uma Demência) e a genética. O fator genético está presente em alguns tipos de Demência, principalmente naqueles casos que acontecem nas pessoas mais novas, antes dos 65 anos.

O que sabemos hoje é que as Demências (incluindo o Alzheimer) e o declínio cognitivo (piora das funções do cérebro que não chega a representar uma Demência), têm forte relação com o estilo de vida e com as doenças crônicas. Hábitos ruins como a inatividade física, o tabagismo, a alimentação inadequada, o abuso de álcool e doenças crônicas como a hipertensão e o diabetes aumentam tanto a chance de desenvolver quanto podem acelerar a doença que já existe.

Uma outra questão importante a esse respeito é o que chamamos de "reserva cognitiva" e de "capital social". A reserva cognitiva é o nosso patrimônio intelectual e mental, que foi construído ao longo da vida. Quanto mais estudamos, lemos e “trabalhamos nosso cérebro” ao longo da vida, maior será nossa reserva cognitiva. Uma pessoa com um patrimônio cognitivo ruim, ao desenvolver uma Demência, demorará menos tempo para ter uma perda que cause impacto em sua autonomia e independência. Quer dizer, sua doença trará limitação à sua vida mais rapidamente. Da mesma forma, o isolamento social (viver sozinho, interagir pouco com a família, a comunidade e a sociedade), também parece agravar e acelerar a evolução da doença.

Resumindo, devemos focar nas seguintes atitudes para prevenirmos ou retardarmos uma possível Demência: praticar atividade física, cessar ou reduzir o tabagismo e o abuso de álcool, alimentar de forma adequada, estimular a cognição (raciocínio, memória), aumentar atividades sociais e atividades prazeirosas, controlar a hipertensão e o diabetes.

Fazer boas escolhas para nossa vida significa muito para a saúde e, às vezes, pensamos em mudar radicalmente tudo e nos frustramos. O ideal é nos cuidarmos um pouco todo dia. Devemos começar escolhendo com atenção nossos alimentos, incluindo atividades físicas que nos deem prazer, aumentando momentos de convivência com outras pessoas e procurando profissionais de saúde que poderão nos ajudar. Boa parte de nossa saúde depende de nós mesmos.

Se você tem dúvidas sobre a saúde na terceira idade, envie pra mim: julianacicluz@gmail.com