Saiba qual é o impacto do uso de estatina no risco de demência

Droga reduz o colesterol e ajuda na melhora da coagulação do sangue, mas tem efeitos colaterais, que devem ser observados

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(foto: Pixabay)

Frequentemente, tenho sido questionado pelos pacientes e mesmo em rodas de bate-papo com amigos sobre a relação entre as estatinas (drogas utilizadas para redução do colesterol com ação principalmente no fígado) e o possível efeito devastador dessas drogas em causar lesões hepáticas e em originar casos de demência (Alzheimer).

Sem dúvidas, é rara a ocorrência de lesão hepática pelo uso de estatinas. Além disso, pacientes em uso dessa medicação têm seus níveis de enzimas hepáticas monitoradas periodicamente. Uma meta-análise (análise de diversos estudos clínicos em que se pesquisa um denominador comum) para uso das estatinas e risco de demência foi publicada em 2019 na revista Neuroepidemiology. O trabalho reúne vários estudos observacionais, entre 2000 e 2018, com o objetivo de quantificar a magnitude da associação entre a terapia com estatinas e o risco de demência. Foram selecionados 30 estudos observacionais, incluindo 9.162.509 participantes (84.101 pacientes com diagnóstico de demência). Pacientes em uso de estatinas apresentaram risco significamente menor de demência do que aqueles sem estatinas.

Na análise global sobre redução de doença de Alzheimer, foi observada entre os usuários de estatinas a diminuição do risco de demência vascular.

Os autores concluíram que os dados sugerem, de forma enfática, que o uso de estatinas está associado com redução significativa no risco de demência, mas que outros estudos mais robustos e com características estatísticas diferentes serão necessários para estabelecer a recomendação.

Particularmente, trabalho com estatinas desde que foram lançadas e as observações no dia a dia do consultório são as melhores possíveis. O uso dessas drogas está muito além de apenas baixar o colesterol. Um termo muito conhecido entre os cardiologistas, efeitos pleiotrópicos das estatinas,  prediz em muito as suas ações: além de reduzir o colesterol, elas têm uma ação importante na chamada disfunção do endotélio vascular, parte mais intimamente em contato com o sangue, melhorando as performances na coagulação e reduzindo o estreitamento dos vasos mínimos do cérebro (microangiopatia crônica), que, provavelmente, ocasionam pequenas isquemias e levam a casos de demência.

O arsenal terapêutico para o tratamento das lesões vasculares atualmente é enorme e não podemos de forma alguma negligenciar esse benefício aos nossos pacientes queridos.

 

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