Com muita frequência nós que trabalhamos no dia a dia em nosso consultório médico ficamos diante de uma dicotomia em relação aos pacientes portadores de isquemia miocárdica (angina de peito).
Logicamente, após fazer a análise de cada caso individualmente, sempre optamos pelo tratamento com implante de stents coronários (angioplastia ) ou cirurgia de ponte de safena (revascularização miocárdica).
Aprendemos com os estudos clínicos que essas duas opções eram as que tínhamos e que o tratamento clínico ( tratamento com remédios) seria de risco para tais pacientes.
Pois bem, foi publicado em 16/11/19 no Congresso Americano de Cardiologia, na Philadelphia, um estudo chamado ISCHEMIA. Esse estudo dividiu 5179 pacientes em 2 grupos; um, com 2588 pacientes (chamado grupo de tratamento invasivo), recebeu o tratamento com angioplastia ou cirurgia de ponte de safena; o outro grupo, com 2591 pacientes (chamado de grupo tratamento conservador), recebeu o tratamento com remédios (terapia medicamentosa).
O período de acompanhamento desses pacientes foi em média 3,3 anos. A metade dos pacientes desse estudo era diabética. Foram considerados elegíveis para o estudo os pacientes que apresentaram isquemia moderada a severa em um teste provocativo de stress, realizado através de cintilografia miocárdica ou de eco stress ou de ressonância nuclear magnética.
Metade desses pacientes tinha episódios de angina de peito. Os achados de importância foram a presença de morte cardíaca ou infarto do miocárdio nos dois grupos estudados. A conclusão do estudo é que a terapia com angioplastia ou com cirurgia de ponte de safena (grupo tratamento invasivo) falhou em reduzir a mortalidade cardíaca quando comparada com o tratamento medicamentoso (grupo tratamento conservador). Ou seja, não houve diferença na mortalidade nos dois grupos.
Fica aqui a mensagem de que não devemos negligenciar e ter a serenidade suficiente de que daqui em diante podemos indicar para os nossos pacientes também o tratamento medicamentoso, que se mostrou seguro para os portadores de angina de peito e com isquemia moderada a severa. Não deveremos esquecer que cada paciente deve ser analisado individualmente.