-->O ser humano tem conseguido importantes avanços e conquistas ao longo de séculos e de forma acelerada, principalmente nas últimas décadas.
Essas transformações vêm tendo importante impacto na qualidade e expectativa de vida.
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Mas ainda existem grandes diferenças: os habitantes nos países subsaarianos na África têm uma expectativa de vida de menos de 50 anos, enquanto que no Japão excede 80.
À medida que a população global cresce, a expectativa de vida aumenta e os padrões de vida melhoram, as causas de morte em todo o mundo mudam. Em contrapartida, esses avanços que a humanidade vem trilhando têm efeitos colaterais, alguns às vezes bem amargos.
Atualmente no mundo a maioria das mortes é atribuída à categoria de doenças não transmissíveis (DNTs), que são doenças crônicas de longo prazo, como as cardiovasculares, respiratórias, os cânceres e diabetes.
Coletivamente, as DNTs representam mais de 70% das mortes globais e são de causas multifatoriais. Nos últimos dias tem sido amplamente noticiado o “smog” em Nova Deli, com a poluição do ar da capital da Índia atingindo níveis de emergência.
A concentração de MP2,5 excedeu 1.000 µm/m3 de ar que é 100 vezes o limite que a Organização Mundial da Saúde (OMS) sugere para a exposição a longo prazo. Inalar isso é tão prejudicial quanto fumar 50 cigarros por dia.
Essa situação teria sido causado pela poluição industrial e do tráfego, combinada com a fumaça da queima de resíduos dos cultivos, que lançam uma camada de “smog” sobre a metrópole.
O mesmo vem ocorrendo em Sidney, na Austrália, em estado de alerta por causa de queimadas que levaram a um intenso nevoeiro.
Foi publicada recentemente no Journal of American College of Cardiology uma ampla revisão sobre o impacto da poluição do ar e doenças, em que os autores afirmam que a poluição ambiental é a maior causa de morte e invalidez reversível prematura no mundo atual, com 9 milhões de mortes, sendo diretamente atribuíveis à poluição ambiental - 4,2 milhões para a poluição do ar ambiente e 2,9 milhões à poluição do ar dos lares.
Importante entender que, embora produtos químicos no ar possam potencializar fatores de risco para doenças cardiometabólicas, os fatores ambientais não químicos, como temperatura, exposição ao ruído, estresse mental/psicossocial, fatores socioeconômicos, campos eletromagnéticos, riscos ocupacionais, também podem se relacionar com a poluição do ar e ampliar sua associação com eventos cardiovasculares.
A poluição do ar é uma mistura complexa de fase gasosa e constituintes particulados. Cerca de 90% da massa poluente na mistura que respiramos em ambientes urbanos é proveniente de gases ou compostos de vapor, incluindo carbonos orgânicos voláteis.
Já a poluição doméstica tipicamente encontrada em países de baixa e média renda pode ser de magnitude superior ao nível encontrado no ambiente externo na mesma localização geográfica. Exposições a altos índices, de pico, ocorrem durante os períodos de cozimento com exposição a combustão de baixa eficiência de combustíveis de biomassa. Mais de 90% da população mundial está sujeita a níveis diários superiores ao da recomendação da OMS.
A poluição do ar em muitas partes da Ásia (70% da população) rotineiramente excede o limite tolerável e mais de 99% das pessoas estão expostas a níveis acima da orientação da OMS.
Em ranking divulgado recentemente,a cidade de Nova Deli é a capital mais poluída do mundo, mas não é única com esse problema na Índia. Das 30 cidades mais poluídas do mundo, 22 localizam-se naquele país e as restantes, no Paquistão, Bangladesh e China.
A capital brasileira que aparece primeiro nesse ranking é São Paulo, na 74ª posição. Se forem considerados países em vez de cidades, Bangladesh tem o pior ar, seguido de Paquistão e Índia, o Brasil aparece na 44ª posição.
Estamos, portanto, diante de grandes desafios de como continuar usufruindo dos avanços criados pela humanidade sem piorar a poluição do ar que modifique o ciclo virtuoso das últimas décadas na melhora da expectativa de vida. Temos que ter grande atenção e foco renovado para eliminar ou minimizar este importante fator de risco, a relação potencial entre poluição e as DNTs como diabetes, hipertensão, infarto.
Quem dera que as coisas acontecessem de forma poética, como na clássica canção A Foggy Day (In London Town), de George e Ira Gershwin, que descreve:
Eu vi a manhã com tanto alarme
Museu Britânico perdeu seu charme
Quanto tempo, eu me perguntava, que isso poderia durar?
Mas a era dos milagres não havia passado
Pois, de repente, eu vi você lá
E pela nebulosa cidade de Londres
O sol estava brilhando em todos os lugares
Se você tem dúvidas, fale comigo: arnaldoschainberg@terra.com.br