“Doutor, já ouvi dizer que as vacinas …” Não é raro eu escutar no atendimentos as mais diversas perguntas sobre vacinação. É muito comum! Tudo que é novo ou desconhecido pode gerar dúvida e até medo.
Um primo que disse, a vizinha que leu na internet, o amigo que recebeu um vídeo em aplicativos de mensagens – os boatos correm em uma velocidade maior que a informação segura. As formas de propagação de boatos sobre a vacinação são muitas e é preciso esclarecer todos os questionamentos para que tenhamos uma população altamente protegida.
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Na última semana, falei sobre a real importância de nos vacinarmos e reuni as dúvidas mais comuns de leitores e pacientes para deixar tudo mais claro.
Existe algum grupo de pessoas em que a vacinação é contraindicada?
Sim. Há diversos tipos de vacinas, cada uma possui uma forma de atuação para desenvolver a defesa do corpo. As vacinas têm indicações associadas à idade, à atuação, à região, profissão, entre outras. Especialmente grupos de pessoas que possam estar com o
sistema imunológico comprometido
devem receber orientação médica específica. Mas, em geral, as vacinas são indicadas para a maioria da população.
Por que eu passo mal (ou fico doente) logo após tomar uma vacina?
O objetivo da vacinação é evitar que o indivíduo seja acometido por certa doença, por meio do estímulo do sistema imunológico, a
defesa do organismo
. Algumas vezes, esse estímulo, que nada mais é do que o treinamento dos famosos "soldadinhos de defesa", causam reações que são esperadas no organismo para que seja desenvolvida essa defesa. Os
sinais e sintomas
do que chamamos de síndrome vacinal mais comuns são irritação local, febre, manchas pelo corpo, dor, desconforto, cansaço e mal estar. Na maioria das vezes, essas alterações duram pouco ou nem aparecem.
É preciso tomar a vacina de gripe todo ano? Por quê?
Sim! É extremamente importante receber a vacina da gripe todo ano. Os causadores da
gripe são vírus
, porém estes vírus se modificam todos os anos. É como se eles fossem espertos e usassem uma maquiagem para não serem reconhecidos pelo nosso corpo. Na realidade, são
variações genéticas
que o "treinamento" que o sistema de imunológico realizou no ano anterior não permite o reconhecimento desse novo vírus. Com isso, os pesquisadores do mundo todo se empenham para "atualizar" o treinamento do corpo, ou seja, todos os anos as vacinas contra gripe são diferentes.
Se eu deixei de tomar uma vacina na infância, já não preciso mais tomar?
Nem sempre. Há vacinas que são importantíssimas na infância, porém perdem seu sentido em outras idades. Se você está com o seu
cartão de vacina
desatualizado, o melhor a fazer é buscar um centro de saúde perto da sua casa, ou seu médico de confiança e esclarecer todas as dúvidas. Temos o maior programa de vacinação do mundo, porém são atividades planejadas e ordenadas, nem toda vacina atrasada será necessária.
Cultivar bons hábitos de vida (alimentação saudável e atividade física regular) não é suficiente para fortalecer meu sistema imunológico e me proteger de doenças?
Não. Há sim um grande avanço quando consegue-se manter alimentação saudável, atividade física e um bom acompanhamento de saúde, mas estamos falando de tempo e resposta. As vacinas apresentam ao corpo uma prévia do que será a doença, o que possibilita ao
indivíduo se defender de maneira mais rápida e eficaz
, ao entrar em contato com o
agente causador da doença
. Quando falamos de tempo e resposta significa que algumas doença evoluem mais rápido do que o corpo conseguiria responder e se defender podendo gerar
complicações, sequelas e até morte
. A vacina nada mais é do que um "estudo" antes de uma prova ou um treinamento antes de um desafio em que o produto final é a defesa rápida e eficaz, causando o mínimo de dano. Com a saúde e a vida não se brinca.
Eu ouvi dizer que as vacinas são armas para o controle populacional, é verdade?
Definitivamente não! As vacinas não estão associadas a mortes e sim a uma resposta positiva de uma
vida melhor e mais saudável
. As vacinas são importantíssimas para a proteção individual, porém há uma responsabilidade de que todos sejam vacinados para que seja alcançado o efeito de grupo ou proteção coletiva. Quanto mais pessoas estiverem vacinadas menos possibilidades teremos de encontrar a doença no ambiente. Se não há doença no ambiente não há transmissão. Vacinar é um
compromisso individual e uma obrigação para a saúde pública
.
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ericksongontijo@gmail.com
Erickson Gontijo é médico pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
mestre em neurociências, membro no Núcleo de Geriatria e Gerontologia do
Hospital das Clínicas de Minas Gerais, professor convidado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)