Esquecer faz parte da vida de todo mundo e nem sempre é sinal de doença. É importante sabermos quando esse esquecimento é normal e quando é sinal de que algo mais grave esteja acontecendo. Como podemos saber se o nosso esquecimento ou o de alguém próximo representa apenas “uma fase difícil” ou “um jeito mais tranquilo de ser” e quando pode estar vindo de mãos dadas com uma doença, como a demência de Alzheimer?
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Memória é a capacidade de adquirir, armazenar e recuperar informações. Para nos lembrarmos de algo precisamos vivenciar a experiência, guardá-la em nosso arquivo mental e depois conseguir encontrar o que foi guardado. Aristóteles já disse, 2000 anos atrás: “Nada há no intelecto que não tenha estado antes nos sentidos”.
É muito comum atendermos pessoas queixando que sua memória está ruim.
Frequentemente, durante a conversa com o paciente, mesmo antes de realizarmos os testes de memória, percebemos problemas que dificultam o armazenamento das informações. Quando alguém está muito ansioso ou quando estamos vivendo problemas que, literalmente, sequestram nossos pensamentos, a nossa capacidade de ter atenção e concentração nas situações, e de armazenar novas informações fica prejudicada e será impossível recuperarmos aquela informação. É impossível encontrar algo que não foi guardado!
Em geral os esquecimentos “benignos”, aqueles que acontecem mais em determinados momentos da vida e não indicam uma doença degenerativa cerebral, são causados pela desatenção, por estarmos vivendo no “piloto automático”, por não estarmos focados nas nossas tarefas, por estarmos fazendo várias coisas ao mesmo tempo. Tudo isso é muito frequente na atualidade.
Por outro lado, os esquecimentos que devem de fato nos gerar preocupação são aqueles que têm algumas características ou sinais de alerta, como:
– O esquecimento está cada vez pior. “Dra, pode acreditar, dois meses atrás ela sabia o nome de todos os netos."
– O esquecimento começa a interferir na vida da pessoa. “Não, dra. Juliana, ele não consegue mais fazer compras sozinho, ele sai para comprar uma coisa e compra outras."
– O esquecimento vem acompanhado de outras alterações nas funções do cérebro, como a orientação. “Ele sempre rodou a cidade inteira de carro, semana passada ele estava a um quarteirão de casa e não sabia onde estava.”
Esses esquecimentos sinalizam que existe algo mais e podem ser causados por demências, como a demência de Alzheimer, mas podem também não ser. Vários problemas de saúde podem causar esquecimento, desatenção, desorientação. A depressão mesmo é um exemplo de doença que pode piorar muito o funcionamento cerebral. Até mesmo uma infecção urinária em uma pessoa idosa pode causar confusão mental temporariamente.
Os esquecimentos “benignos" não precisam causar grandes preocupações, a não ser que eles se prolonguem por muito tempo ou causem sofrimento, não requerem avaliação especializada. Já o esquecimento com as características citadas como sinal de alerta, devem ser avaliados e acompanhados por um médico especialista.
Podemos melhorar nossa atenção e concentração nos cuidando mais. Planejar nosso dia, organizar nossas tarefas, fazer cada coisa de uma vez, estar “inteiro” no que fazemos, reservar momentos de descanso e recreação, cuidar do nosso sono, praticar exercícios físicos e meditar, são hábitos que certamente melhoram nossa saúde como um todo e nos tornam mais atentos e concentrados.
Nossa capacidade de recordar é um patrimônio pessoal valioso e merece nosso cuidado. O que seria da experiência humana se não fôssemos capazes de recordar e transmitir nossas vivências? Como a vida seria mais sem graça se não nos lembrássemos do que foi escrito por poetas, como Carlos Drumond de Andrade em seu poema Memórias: "… Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão.”
E agora, você já sabe quando o esquecimento é sinal de doença e quando não é?
E, o que pretende fazer para cuidar melhor de sua atenção e concentração?
Mãos à obra!
Ficou com alguma dúvida? Envie para julianacicluz@gmail.com terei o prazer de respondê-las
Juliana Duarte é geriatra, especialista em cuidados paliativos