Todo ano, durante o Novembro Azul, o tema câncer de próstata se transforma em um dos mais comentados. Por isso, pergunto a você leitor: nesse boom de informações que demonstram a necessidade de prevenção, você já marcou sua consulta de rastreamento?
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Trata-se de um exame importantíssimo, que faz parte da análise médica geral, inclusive em mulheres. O toque retal avalia não só a próstata, mas toda a borda anal, o ânus, o reto. Pode detectar não só câncer, como pólipos, fissuras, hemorroidas e várias doenças anorretais e retais.
Muitos homens confundem masculinidade com resistência ao toque retal. Mas a lógica deve ser outra. Másculo é o homem que se mantém saudável. Másculo é o homem que enfrenta um preconceito bobo, pois sabe que sua saúde está em risco. O toque retal faz parte desse cuidado. E vamos ser sinceros, não é nada demais! Precisamos desmistificar isso e incentivar os homens a procurarem o médico urologista.
É bom lembrar que o rastreamento adequado é feito com a combinação do teste de dosagem de Antígeno Prostático Específico (PSA) e o toque retal. Sim, há controvérsia sobre o PSA. Hoje, admite-se que a dosagem seriada do PSA não seja indicada para homens de baixo risco. Mas, para homens com maior risco, é extremamente importante no rastreamento, assim como o toque retal.
Já detectei vários cânceres em pacientes por meio do toque retal, inclusive, em homens com PSA normal. Isso porque existem outros tipos de tumores na próstata além do adenocarcinoma, causador do aumento do PSA. Um paciente meu estava com PSA normal, mas estava com alguns sintomas urinários. Então, fiz o exame de toque retal e ele tinha um nódulo na próstata. Por meio da biopsia, descobrimos que não era adenocarcinoma, mas, sim, um melanoma. Isso mesmo, melanoma na próstata! Isso ilustra a seriedade de se fazer o exame completo incluindo o toque retal.
Nós, médicos, temos o papel de combater essa celeuma em relação ao toque retal. Em minhas consultas, eu explico ao paciente de forma simples que será necessário realizar o exame toque retal e qual sua importância. Realizo o teste sem alarde.
Outros exames podem ser necessários. Muitas vezes, quando temos suspeita no toque e no PSA, fazemos um ultrassom transretal e pélvico para orientar a biopsia e afastar o diagnóstico de câncer. Caso o diagnóstico ainda não esteja claro, uma ressonância multiparamétrica nos dará uma qualidade de imagem muito boa.
Além disso, destaco que o rastreamento e a prevenção devem ser personalizados para cada perfil de paciente, conforme os fatores de risco a que cada um está exposto. A gente sabe que entre 15% e 16% dos casos de câncer de próstata são causados por mutações em genes específicos, transmitidos hereditariamente de avós, mãe, pai etc.
Esses genes são bem estudados e identificados. Temos métodos de avaliação em laboratório de genética com técnicas de sequenciamento. Os mais comuns são o BRCA1 e BRCA2, que também causam câncer de mama e próstata no homem, mama e ovário em mulheres, pâncreas e um aumento discreto, mas significativo, do melanoma. Então, homens com casos desses cânceres na família também devem realizar os testes genéticos.
Nós não vamos indicar a remoção da próstata, pois seria muito agressivo. Mas, vamos adiantar e personalizar o rastreamento para idades a partir dos 30 e 40 anos. Por que deixo essa faixa? Porque vou me basear no histórico familiar. Se a pessoa mais jovem daquela família a desenvolver esse tumor, vamos supor, tinha 40 anos, então, começo o rastreamento cinco anos antes para ter uma garantia. Se foi aos 35, eu começo aos 30.
E lembro: essas pessoas devem se consultar anualmente com dermatologistas para rastreio de pintas que estão se transformando em melanoma e, eventualmente, indicamos o rastreio de pâncreas com ressonância abdominal. Esse aconselhamento genético deve ser feito por um oncogeneticista ou em parceria com um geneticista, pois são situações de complexidade para indicar e interpretar o exame.
A questão hereditária é um dos fatores de risco, assim como o fator racial - pessoas negras têm grande incidência em idade jovem e de forma mais agressiva – e os hábitos de vida nocivos. Ou seja, aquela alimentação rica em gordura e proteína animal, embutidos, alimentos industrializados e pobres em legumes, verduras e frutas, e também a obesidade, o sobrepeso e o sedentarismo.
Dito tudo isso, vamos ao mais importante: que dia mesmo você vai ao urologista? Mais que isso, está disposto a adotar hábitos de vida mais saudáveis para reduzir o risco de desenvolver essa e outras doenças?
Se você tem dúvidas, fale comigo: andremurad@personaloncologia.com.br
André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada