Mais um dia rotineiro no trânsito matinal no trajeto costumeiro para o trabalho. Estou ali olhando para o nada quando, na faixa de pedestre à minha frente, no sinal do cruzamento da avenida do Contorno com Avenida Nossa Senhora do Carmo, me deparo com uma cena que me fez pensar e refletir.
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Lembrei de uma reportagem do jornal Estado de Minas com essa personagem folclórica da cena de Belo Horizonte e consegui achar a reportagem publicada em 8 de abril de 2015.
Na época, o repórter começava com a seguinte frase: “Na corrida contra o tempo, a aposentada Anna Maria Moretzsohn Andrade, de 75 anos, vence com folga”, ou seja, ela já deve estar com mais de 80 anos agora.
Essa senhora, na mesma reportagem, citava que fazia um percurso de 12 quilômetros por dia. Nunca tive a chance de conversar com ela mas me fez pensar como é importante ser persistente e superar o desconforto e as limitações.
No consultório, lidando com pacientes obesos e com diabetes diariamente, tento motivar pessoas para iniciar ou manter uma rotina de atividade física, mesmo que mínima, e reforço a importância da caminhada como uma das formas simples e eficientes na melhoria da saúde geral.
Ainda assim, constantemente as pessoas estão apresentando alguma justificativa para não conseguir aderir à essa simples recomendação.
Em uma publicação recente na prestigiosa revista médica Lancet foram apresentados os resultados de um importante estudo chinês realizado na cidade de Da Qing. Originalmente, o estudo teve como objetivo avaliar o impacto ao longo de seis anos da comparação de estratégias de mudança de hábitos de vida, avaliadas separadas ou conjuntamente, como dieta, exercício, dieta %2b exercício.
O estudo, iniciado em 1986, foi publicado em 1997 mas os pacientes continuaram sendo acompanhados. Na época do primeiro estudo, foi mostrado que houve redução de 51% na incidência de doença em pacientes com uma condição de pré-diabetes que aderiram a algum tipo de mudança no estilo de vida em contraposição a quem não o fez.
Houve uma atualização do acompanhamento evolutivo de 30 anos desde o recrutamento dos pacientes que participaram do estudo. A conclusão dos autores no estudo recente foi que, mesmo muitos anos depois da intervenção, conseguiu-se reduzir a progressão de pré-diabetes para diabetes tipo 2 e de complicações graves, como eventos cardiovasculares, complicações microvasculares e excesso de mortalidade devido ao diabetes tipo 2. Também registrou-se o aumento da expectativa de vida.
Os autores acrescentaram ainda um comentário ambicioso de que suas descobertas apoiam e fortalecem as evidências dos benefícios da intervenção no estilo de vida e chegam a sugerir que, se amplamente aplicadas, essas pequenas intervenções em pessoas com pré-diabetes poderiam ajudar a conter a epidemia global de diabetes e suas consequências.
Boa notícia nessa semana em que, no dia 14, se celebrou “O Dia Mundial do Diabetes”, criado em 1991 pela Federação Internacional de Diabetes (IDF) junto à Organização Mundial de Saúde (OMS), para conscientizar o mundo inteiro sobre os problemas associados à doença, como sua alta mortalidade por doenças cardiovasculares.
Fica a dica do estudo e da Dona Ana Maria. Segundo um velho provérbio chinês “Uma caminhada de mil léguas começa sempre com o primeiro passo”. Parabéns e longa vida para essa senhora e que ela continue nos inspirando.
Tem dúvidas? Fale comigo: arnaldoschainberg@terra.com.br