A pergunta levantada pelos pesquisadores foi: estamos nos medicando desnecessariamente? A resposta para essa pergunta é: pode ser que sim, mas pode ser que não. Pode ser que estejamos usando mais medicamentos que o necessário, já que vivemos em uma sociedade e em um tempo em que “consumimos saúde”.
Escolhemos especialistas diversos para problemas diversos orientados pelo nosso desejo e assim fazemos com medicamentos, vitaminas, suplementos, chás e mais tudo o que ouvimos na academia, na padaria ou que lemos nas redes sociais.
Esse “consumismo” na saúde pode causar sérios problemas a todos, mas certamente o impacto é maior para os mais frágeis: os idosos. Nesse estudo foram entrevistadas mais de 15 mil pessoas na Inglaterra e no País de Gales em dois períodos de tempo: 1991 a 1993 e 2008 a 2011. No primeiro período, 4,2% dos idosos entrevistados usavam antidepressivo e no segundo período o percentual de idosos usando esses medicamentos saltou para 10,7%. Já a ocorrência da doença reduziu de um período para outro, de 7,9% para 6,8%. Nos dois períodos a prevalência de depressão foi maior nas mulheres.
Como citado acima, existe tanto o problema do excesso de medicações quanto da falta. No caso da depressão nos idosos o que mais vemos no nosso dia a dia é a falta. Muitas vezes, essa doença não é diagnosticada e muito menos tratada adequadamente.
A depressão é uma doença comum e muito grave nos idosos. Uma pessoa com depressão tem sua qualidade de vida comprometida, pode se tornar dependente dos outros, costuma ter mais doenças crônicas e morrer antes do que aqueles que não sofrem com a doença. A depressão ainda é pouco diagnosticada e pouco tratada nos idosos e isso acontece por vários motivos, entre eles o fato dessa condição se mostrar de forma diferente nas pessoas mais velhas.
Enquanto nos jovens e adultos a depressão se mostra com tristeza excessiva, angústia, falta de vontade de se envolver nas atividades, choro fácil, desejo explícito de morrer, nos idosos a situação é diferente.
É muito comum no consultório uma pessoa chegar queixando esquecimento e sair com um diagnóstico de depressão. Isso mesmo. A depressão pode se manifestar como esquecimento apenas. Também não é raro notar a perda do apetite, o emagrecimento, a piora da qualidade do sono e queixas que se confundem com outras doenças como as dores crônicas. Apesar de a depressão aparecer de forma mais “leve” nessa população, estudos mostram uma taxa alta de suicídio entre os mais velhos.
Devemos estar atentos a nós mesmos e também observar nossos amigos e familiares. Ao percebermos um comportamento mais isolado, além dos sintomas já citados acima, é sinal de que alguma ajuda é bem-vinda e necessária. O tratamento é individual, varia de acordo com cada pessoa, mas os medicamentos e a psicoterapia são as indicações mais frequentes. A socialização, a atividade física, e o apoio das pessoas próximas também são vitais para a superação desse sofrimento.
É muito provável que existam pessoas tomando antidepressivos desnecessariamente. Mas, certamente, o número de idosos sofrendo sem um diagnóstico correto de sua depressão é ainda muito maior.
Ficou com alguma dúvida? Terei o prazer de respondê-la.
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