A prática esportiva é muito importante para o bom funcionamento do corpo. O excesso, porém, pode ter efeito contrário. É o que especialistas chamam de síndrome do overtraining, responsável por danos como lesões agudas e crônicas e desequilíbrio no sistema hormonal. Um novo estudo mostra que não é só a quantidade de exercícios que está ligada ao problema. Há a influencia de fatores como falhas na alimentação, má qualidade do sono e até treinamento em períodos de estresse.
A pesquisa, detalhada na revista British Medical Journal, foi conduzida com três grupos de voluntários: atletas que sofrem de overtraining, atletas saudáveis e sedentários saudáveis, e não praticantes de esporte. Inicialmente, os 50 participantes responderam a um questionário com itens sobre hábitos alimentares, rotina de treinamento físico, questões psicológicas, sociais e famili-ares. Depois, foram submetidos a exames clínicos.
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Para a análise, os cientistas compararam 67 parâmetros de overtraining, que englobaram, por exemplo, aspectos comportamentais, padrões alimentares, de sono e psicológicos, dosagens de hormônios basais, respostas hormonais a estímulos, marcadores musculares, inflamatórios e imunológicos, além de avaliações de composição corporal e de metabolismo.
Uma das primeiras conclusões que chamaram a atenção da equipe foi a de que os níveis de disfunção em atletas com a síndrome variaram amplamente. Dos parâmetros, 32 demonstraram perda do efeito condicionador do exercício, chamado descondicionamento, em todos os grupos. Apenas sete apresentaram alterações exclusivamente para atletas com overtraining. Segundo os autores, esses resultados sinalizam que o excesso de exercício é apenas uma das causas do overtraining. Aspectos como nutrição, sono e descanso também estão ligados ao problema.
“Embora a síndrome do excesso de treinamento tenha sido, inicialmente, relacionada ao treinamento excessivo, do qual derivou o nome overtraining, a periodização das sessões de treinamento, largamente difundida entre a maioria dos praticantes de esportes, inesperadamente não levou à sua redução, mostrando que outros fatores importantes funcionam como gatilho”, ressalta o médico brasiliense Flávio Cadegiani, um dos autores do estudo. A pesquisa foi desenvolvida a partir do trabalho de doutorado em endocrinologia clínica de Cadegiani na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em conjunto com Cláudio Kater, professor-associado da instituição de ensino.
Para Pedro Henrique Luiz da Silva, especialista em endocrinologia e metabologia pela Unifesp e estudante de mestrado na instituição, o estudo mostra que a síndrome provoca um “descondicionamento hormonal” em vários eixos do organismo. “Esses eixos deveriam estar altamente condicionados em atletas saudáveis”, frisa. “Isso nos chama a atenção para vários possíveis fatores de risco para esse descondicionamento paradoxal em atletas, como uma inadequada ingestão calórica.”
Para Pedro Henrique Luiz da Silva, especialista em endocrinologia e metabologia pela Unifesp e estudante de mestrado na instituição, o estudo mostra que a síndrome provoca um “descondicionamento hormonal” em vários eixos do organismo. “Esses eixos deveriam estar altamente condicionados em atletas saudáveis”, frisa. “Isso nos chama a atenção para vários possíveis fatores de risco para esse descondicionamento paradoxal em atletas, como uma inadequada ingestão calórica.”
Prevenção
Para a equipe de pesquisadores, os resultados podem ter um efeito preventivo. O fisioterapeuta Fabrício Roriz de Oliveira, que já treinou equipes de handebol de categorias escolares, lembra que as lesões causadas por overtraining são um dos maiores riscos a que os atletas estão expostos por serem silenciosas e não terem sinais muito aparentes. “O overtraining atinge atletas, normalmente, com lesões graves, como fraturas ou rupturas de músculos. Isso acaba afastando-os compulsoriamente de competições ou das metas competitivas. Pode também afastar patrocinadores e diminuir a autoestima, interferindo psicologicamente na vida pessoal e profissional do atleta”, pontua.
Marcelo Prata, ex-preparador físico de atletas de saltos ornamentais no Centro de Treinamento de excelência da Universidade de Brasília (UnB), ressalta a importância de saber regular os treinos de forma adequada. Ele explica que o overtraining pode atingir de forma mais extrema os não atletas e que não há relação entre a quantidade de treinos e o aumento da performance. “Nunca foi necessário suar um absurdo para falar que treinou bem. As pessoas têm uma visão totalmente errônea”, pontua.
* Estagiária sob supervisão de Carmen Souza
* Estagiária sob supervisão de Carmen Souza