A morte do torcedor Luciano Oliveira Palhares durante o clássico Atlético x Cruzeiro pela semifinal da Copa do Brasil, vítima de infarto aos 34 anos, acendeu um alerta para o risco da fatalidade das doenças cardíacas entre os mais jovens.
Segundo Rafaela Anselmo Soares Barbosa, cardiologista e ecocardiografista, não há uma definição de idade em que a doença cardiovascular pode vitimar o indivíduo. “O infarto pode acometer pessoas muito jovens. O que percebemos é que diferentes estudos mostram cortes arbitrários para definir esse jovem da doença cardiovascular, mas muitos apontam a faixa etária dos 40 aos 55 anos. No entanto, o infarto pode ocorrer em pessoas com idade inferior”.
A médica chama a atenção para os fatores de risco considerados clássicos: hipertensão, diabetes, obesidade, tabagismo, dislipidemia (elevação de colesterol e triglicerídeos no plasma ou a diminuição dos níveis de HDL). Também lista histórico familiar de infarto em parentes de primeiro grau em idades mais jovens como fator de atenção. “Fica difícil estabelecer uma idade certa de quando um infarto pode ocorrer em uma pessoa mais jovem. Vai depender muito dos hábitos de vida, predisposição, fatores genéticos”.
Confira, a seguir, uma entrevista com a especialista e saiba mais sobre a doença.
Quais são os principais fatores de risco para infarto entre jovens?
Fatores de risco clássicos para uma doença coronariana ou para o acúmulo de placas de gordura na artéria (arterosclerose) são: hipertensão, diabetes, obesidades, tabagismo, dislipidemia e uma história familiar positiva de doença arterial coronariana. E são fatores de risco independentemente da idade. No entanto, o infarto ocorre também por causas diferentes à arterosclerose (desenvolvimento de placas de gordura nas artérias do coração) que é a principal causa de infarto entre os jovens. Geralmente, estão relacionadas a hábitos de vida.
Há estudos nesse sentido?
Há. Alguns mostram que entre os pacientes jovens que morrem de infarto a maioria é homem e apresenta pelo menos um dos fatores de risco clássicos. Muitas vezes, o principal fator de risco para infarto entre jovens é a dislipidemia. Outros estudos apontam a história familiar positiva para doença arterial coronariana e o tabagismo.
Interessante é que esses estudos também mostram que a maioria desses pacientes seriam considerados de baixo risco na tabela que estabelece e estima o risco de vir a ter uma doença cardiovascular. Portanto, é difícil prever qual paciente teria realmente a chance de ter um infarto ainda jovem.
Qual é, em média, a idade indicada para iniciar um check-up cardiovascular?
Alguns cardiologistas defendem que pacientes com história de hipercolesterolemia familiar ou de infarto precoce entre parentes deveriam ser acompanhados pelo cardiologista a partir dos 20 anos. Outro marcador de risco cardiovascular que pode ser usado em jovens é o tamanho da circunferência abdominal: as medidas de referência são maior que 88cm para mulheres e 102cm para homens (com algumas variações entre as sociedades de cardiologia que indicam que esses pacientes teriam maior chance de desenvolver uma doença do coração, entre elas o infarto).
Todo paciente adulto é aconselhado a ir a um cardiologista ou clínico geral a cada dois anos para exames clínicos e físicos. De acordo com a individualidade do paciente, o medico avaliará a necessidade de se fazer teste ergométrico, exames de imagem e laboratoriais.
A emoção de uma partida de futebol por si só pode levar ao infarto?
Sim. Qualquer estresse emocional, seja ele em uma partida de futebol, em uma briga familiar, ou qualquer estresse físico pode levar a pessoa a infartar. Essas situações liberam uma série de hormônios, o que pode sobrecarregar o coração e levar ao infarto.
Mas é importante também entender que nem sempre a morte de um atleta e ou de um torcedor que vive uma emoção forte tem como causa o infarto. Várias causas levam à morte súbita e cada caso deve ser investigado. Entre elas, doenças genéticas e outras causas que podem levar a alterações cardíacas e predispor esses indivíduos a uma arritmia que, por sua vez, geram estresse físico ou emocional com consequente óbito.
Por que o infarto costuma ser mais fatal entre jovens do que em pessoas que já passaram dos 60 anos?
Na verdade é do entendimento popular que os infartos em jovens são mais fortes e fatais, mas não há, necessariamente, dados definidos sobre isso.
No entanto, todo mundo, com o envelhecimento, com o passar do tempo, vai desenvolver arterosclerose pelo corpo (placas de gordura nas artérias). Algumas pessoas de forma mais acelerada, outras de forma mais lenta.
Ao mesmo tempo, pessoas acima de 40 anos começam a desenvolver a circulação colateral (pequenos vasos que vão surgindo no coração para suprir a necessidade de sangue de uma artéria entupida ou para compensar a falta de irrigação devido a artéria obstruída).
Então, quando a pessoa mais idosa sofre um infarto, é como se ela ganhasse essa forma de irrigação do coração e um pouco de tempo até a chegada ao pronto-socorro, o que não ocorre com os jovens - o que levaria à maior mortalidade destes em um infarto.
"Estima-se que 10% das pessoas que sofrem o infarto vão morrer na primeira hora, por isso essa circulação colateral pode ser tão valiosa."
Quais são as principais medidas de prevenção?
As principais medidas de prevenção para não se ter o infarto enquanto jovem ou até na idade adulta seria evitar os fatores de risco, principalmente da arterosclerose. Ter hábitos de vida e alimentação saudável, prática de atividade física, manter um peso adequado, fazer check-ups pelo menos a cada dois anos enquanto jovens, não fumar, não usar drogas.
Há uma estimativa aproximada de que as doenças cardiovasculares matam uma pessoa a cada 40 segundos. Então, é uma doença muito prevalente. Sabe-se que mata mais do que câncer ou outras enfermidades e isso não deve ser ignorado.
Normalmente, os pacientes que desenvolvem infarto têm mais de 40 anos. Mas o que se vê hoje em dia é que o número de jovens que morrem por problemas cardíacos está aumentando em todo país e daí a importância de se fazer check-up com regularidade.
Na web, a cardiologista alimenta o site Cardiologia do Bem, em que lista dicas para a saúde do coreção.