No Brasil, 25% das mães sofrem com depressão pós-parto.
A estatística levantada em estudo da pesquisadora Mariza Theme, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) *, revela que a prevalência do distúrbio no país foi mais elevada que a estimada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para países de baixa renda, em que 19,8% das parturientes apresentaram transtorno mental, em sua maioria, a depressão. O trabalho foi desenvolvido no âmbito da pesquisa Nascer no Brasil, maior estudo a respeito de parto e nascimento já realizado no país.
Integram a estatística mães como a advogada Lílian Mendonça, que decidiu contar a própria história nas redes sociais. “A gravidez foi tranquila, o parto problemático e a vida depois do nascimento da filha mais ainda. Não gostava de amamentar. Havia sido privada do sono, do trabalho. E era para ser o momento mais feliz da minha existência. Sentia muita culpa por isso”, revela. Lílian não rejeitava a filha, até pelo contrário. “Não queria que ninguém chegasse perto dela. Tinha pensamentos ruins em relação a mim”, desabafa.
O quadro começou a melhorar quando percebeu que precisava de ajuda médica. O primeiro passo foi buscar a terapia. Após cinco meses de tratamento, Lílian passou a ajudar outras mães que passam pelo mesmo problema. “Foi um tempo muito difícil”, diz.
Ninguém está livre
Também sofreu depressão pós-parto a psicóloga Elisa Socal Barrados. “Nem imaginava que viveria tudo isso porque a gravidez tinha sido planejada”, revela.
Segundo ela, o desenvolvimento da gestação ocorreu normalmente. “Fazia de tudo, trabalhei até o fim, mas não me preparei para depois do parto”, conta.
A psicóloga conta que percebeu que estava deprimida dias após o parto, logo que o marido voltou a trabalhar. “Havia a sensação de arrependimento: o que fiz com a minha vida. Sabia que minha filha não tinha culpa.” Entre os sintomas, Elisa cita irritabilidade, ansiedade, temor de o bebê chorar à noite e não saber o que fazer.
A melhora também se deu por meio da terapia. “Fiz tratamento durante quase um ano. “Hoje, percebo que a depressão me fez ver o mundo de outro jeito, me tornei mais humana”, reflete.
Tratamento alternativo
Renato Ferreira Araújo, psiquiatra da Clínica Mangabeiras. especialista em depressão, incluindo quadros de depressão pós parto e baby blues (estado melancólico), detalha as possibilidades de tratamento. “Nos casos mais leves, a psicoterapia é o mais indicado, já que os medicamentos podem alcançar a criança por meio da amamentação e do leite materno.”
Já para quadros de depressão moderada a grave, é necessário entrar com tratamento medicamentoso, completa ele.
Entre as alternativas menos conhecidas e já aceitas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), o médico cita a estimulação do córtex cerebral por meio da indução eletromagnética, tratamento nomeado Estimulação Magnética Transcraniana de Repetição (EMTr). “É uma técnica não invasiva com baixos efeitos colaterais e sem riscos para a amamentação. Lembrando que a paciente fica acordada durante as sessões”, explica Araújo.
Sintomas
Araújo registra que entre os sintomas da depressão pós-parto estão humor deprimido ou oscilação frequente do humor; choro fácil; dificuldade em se ligar e cuidar do bebê; isolamento familiar e social; perda ou aumento do apetite; insônia ou hipersonia; fadiga ou perda de energia; perda de prazer em atividades; medo de não ser uma boa mãe; desesperança; pensamentos de culpa, inadequação e vergonha; dificuldade de concentração e de tomada de decisão; sintomas ansiosos; pensamentos de autoagressão e heteroagressivos; pensamentos de morte e de infanticídio.
“O puerpério é um período de risco para o desencadeamento de transtornos mentais como a depressão pós-parto. Isso pode comprometer de forma significativa os cuidados da mãe com o bebê. E é importante notar que metade das mulheres inicia os sintomas durante a gestação. Quanto mais cedo se faz o diagnóstico, mais chances de uma gravidez e um pós-parto mais tranquilos”, diz o psiquiatra.
* Estudo Factors Associated With Postpartum Depressive Symptomatology in Brazil: The Birth in Brazil National Research Study, 2011/2012, publicado no Journal of Affective Disorders.