No Brasil, 20% das crianças vacinadas contra a meningite não recebem a aplicação da dose de reforço e, no ano passado, 5% abandonaram a vacinação. Entre adolescentes, o índice de imunização incompleta é de 40%. Em 2018, o Ministério da Saúde contabilizou mais de 3 mil mortes causadas pela doença, de um total de 15.706 casos no ano. Meningite é o nome dado à inflamação das membranas que revestem o cérebro e a medula espinhal. No país, a doença é considerada rara, mas as causas por bactérias preocupam por serem severas e imprevisíveis.
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Mais de 90% dos casos de meningite bacteriana são causados pelo meningococo. “Um a cada cinco indivíduos com doença meningocócica morre, mesmo com o paciente tratado em tempo oportuno”, explica. Segundo o médico, entre os 80% que sobrevivem, 20% ficam com sequelas, como a amputação de um membro, surdez, cegueira ou outras complicações neurológicas.
Qualquer um pode contrair a doença. Em 95% dos casos, o contágio é feito por vias respiratórias. Os sintomas são febre, vômitos, dor de cabeça e rigidez na nuca. O diagnóstico é feito por meio do líquido da medula espinhal, porém, de acordo com Sáfadi, nem sempre a coleta indica a presença da bactéria. “Às vezes, o meningococo pode ser tão agressivo, que provoca quadro sistêmico rapidamente, a ponto de não dar tempo de o líquido aparecer com alteração”, explica.
Segundo Sáfadi, por ser uma doença rara, a meningite meningocócica possui estado de colonização frequente. Cerca de 10% dos adolescentes carregam o meningococo na garganta. “Essas pessoas podem transmitir a bactéria para outras sãs e vulneráveis à doença. Por isso, é importante que haja prevenção em indivíduos saudáveis para proteger todos os que estão em volta”, orienta.
Combate
A vacina de combate ao agente é a meningocócica conjugada C, B e a ACWY. A meningocócica C faz parte do calendário nacional de vacinação do Programa Nacional de Imunizações (PNI) desde 2010. A primeira dose é recomendada entre dois e três meses de idade e pode ser encontrada no Sistema Único de Saúde (SUS). Como a bactéria se apresenta em 10% de adolescentes, o PNI recomenda uma dose de reforço nesse público entre 11 e 14 anos.
Antes do início da aplicação gratuita da vacina para crianças menores de cinco anos, a meningite meningocócica respondia por mais de 80% dos casos no Brasil. Segundo a SBIm, com a aplicação gratuita da meningocócica C, houve queda de 70% em crianças menores de dois anos e passou a representar 59% do total. Por isso, o Ministério da Saúde decidiu estender a dose da vacina ao grupo propício à bactéria, os adolescentes.
Para Carla Domingues, coordenadora do PNI, a dose extra é uma forma de controlar a doença. “A vacinação do adulto e do adolescente é complementar para erradicação”, afirma. O ideal é vacinar no primeiro momento de vida, pois o bebê ainda não teve contato com o agente, mas o reforço é necessário. “Não adianta só começar. Só vamos ter vacinação adequada se tivermos o esquema completo”, destaca.
Hoje, essa faixa etária é foco do Ministério da Saúde e, mesmo assim, 40% dos jovens não recebem a vacina. Isabella Ballalai, vice-presidente da SBIm, revela que, em 2018, a quantidade de vacina distribuída foi maior do que a aplicada. “Não adianta o governo disponibilizar e a população não se vacinar”, diz.
Vacina ACWY chega ao SUS
A Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm) informou que o Ministério da Saúde decidiu incluir a vacina Meningo ACWY no Sistema Único de Saúde (SUS). A decisão foi tomada após um aumento de casos da meningite tipo W no país, principalmente em Santa Catarina, onde o agente é responsável por 43% dos casos da doença da região. A proposta inicial é começar a aplicação em adolescentes, que são mais propícios à transmissão e, gradualmente, aumentar a oferta a outros grupos. De acordo com a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Carla Domingues, o trâmite legal já está definido, falta apenas o Ministério da Saúde receber as propostas de laboratórios interessados em vender a vacina.
*Estagiária sob supervisão de Simone Kafruni