Osteoporose atinge mais as mulheres na menopausa

Enfermidade não apresenta sintomas

por José Alberto Rodrigues* 30/05/2019 14:00
Paulo Filgueiras/EM/D.A Press
O pilates ajudou a dona de casa Rosileia Fátima da Silva, de 64 anos, a ter mais consciência do corpo e a sentir menos dores (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

A osteoporose é uma doença que acomete mais de 10 milhões de brasileiros, segundo estimativa da Fundação Internacional de Osteoporose (IOF). As mulheres são as que mais sofrem com o aumento da fragilidade dos ossos devido a alterações na sua estrutura e densidade. Por apresentar uma evolução lenta e progressiva, não há sintomas explícitos. Consequentemente, não gera dor e, por isso, é conhecida como uma patologia silenciosa.

Mariana Peixoto, vice-presidente da Sociedade Mineira de Reumatologia, ressalta que, habitualmente, o primeiro sintoma já aparece na vigência de uma fratura, que é a complicação mais temida. “Os locais de fraturas mais comuns são o fêmur, o rádio e a coluna, quando ocorre o achatamento das vértebras, podendo acarretar perda de altura do paciente e aparecimento de uma cifose (curvatura anterior da coluna)”, explica.

As projeções da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) revelam que o número anual de fraturas de quadril, relacionadas à osteoporose, (atualmente, 121.700 fraturas por ano) deverá atingir 140 mil pessoas, até 2020. Segundo a reumatologista, todas as pessoas passam a perder massa óssea depois dos 35 anos, em média, porém de uma forma bem lenta. “Após a menopausa, com a perda do hormônio estrogênio, que exerce um efeito protetor, as mulheres passam a ter uma perda mais acelerada, sendo esse grupo de pacientes, o mais acometido”, explica. Além disso, existem outros fatores de risco como tabagismo, sedentarismo, ingestão de álcool, uso de medicamentos específicos como corticoide, que afetam homens e mulheres de maneira similar.

A dona de casa Rosileia Fátima da Silva, de 64 anos, tem um longo histórico familiar de pessoas que já sofreram com a osteoporose, inclusive a mãe dela, que chegou a ficar cinco anos de cama, devido à fraqueza óssea. “No meu íntimo eu já sabia, parece ser de família, estava um tempo apenas resistindo à fraqueza”, relembra. Estima-se que os genes determinam cerca de 60% da massa óssea de adultos, o que ressalta a grande influência da questão genética nesse contexto.

Rosileia conta que chegou a procurar um médico quando começou a sentir uma fraqueza, mas a falta de tempo fez com que parasse o tratamento. Até que as dores voltaram e teve que encarar a doença de frente. “Tive que passar por exercício de fortalecimento, principalmente da minha coluna”, destaca. A dona de casa se lembra que as dores fizeram com que ela parasse de fazer muitas ações cotidianas, como caminhada e a subida de escadas em casa. “Não conseguia ficar de pé por muito tempo em filas. Foi um sufoco”, frisa.

A dona de casa passou a fazer pilates e a se policiar em relação à postura. “Tenho mais consciência do meu corpo.” Rosileia passou a se fortalecer com o cálcio diário. “Já faço caminhada diária, pilates duas vezes por semana e estou bem melhor, apesar das dores que sinto às vezes.”

FUNCIONALIDADE

Celeste Magna de Araújo Dantas, reumatologista da Unimed-BH, ressalta que é importante ficar de olho nesses casos pois quem tem osteoporose pode ficar imobilizado e, pela idade, comprometer a funcionalidade do corpo. “É preciso ter em mente a importância de cuidar do corpo desde muito cedo para evitar traumas. A prevenção é importante, mas ela começa na juventude”, explica. A reumatologista garante que a prática de exercícios, a vida sem sedentarismo, o não consumo de álcool e tabaco são aliados na prevenção da osteoporose e de outras doenças. “Temos que entender que a busca por uma vida saudável deve ser global e não a tentativa de prevenir especificidades.”

TRATAMENTO


De acordo com Mariana Peixoto, o tratamento da osteoporose deve ser feito com uma readequação da dieta para melhoria da ingestão cálcica e de vitaminas, suplementação quando necessário e uso de medicamentos que diminuem a reabsorção óssea. “O médico saberá indicar a melhor opção terapêutica para cada caso.”

Felipe Lima Magalhães, médico da família na operadora de saúde Vitallis, destaca que para adultos acima de 50 anos, é recomendada a ingestão diária de cálcio de 1.200mg, preferencialmente por meio da dieta, especialmente o consumo de leite e derivados. “O cálcio é um nutriente essencial para que o corpo estruture ossos fortes e resistentes”, pontua. Ele diz que a presença do nutriente na dieta em quantidades adequadas é fundamental na prevenção e tratamento da osteoporose. “A baixa ingestão de cálcio na dieta ao longo da vida está associada com um aumento no risco de desenvolver osteoporose, pois o cálcio é fundamental para a estruturação dos ossos.”

Laboratório Roche/Divulgação
Como a doença afeta a postura ao longo dos anos (foto: Laboratório Roche/Divulgação)

Outro apontamento feito pelo médico é a efetividade da atividade física supervisionada para a melhora da funcionalidade e qualidade de vida das pessoas com osteoporose. “Exercícios físicos que envolvam fortalecimento de quadríceps (músculo da coxa) e exercícios realizados com o próprio peso do corpo são fundamentais no tratamento, em associação com a medicação prescrita pelo médico”, ressalta. O objetivo dos exercícios é fortalecer a musculatura e melhorar tanto o equilíbrio quanto o alongamento.

Palavra de especialista

Felipe Lima Magalhães - médico da família na operadora de saúde Vitallis

Vitamina D é uma aliada


"A vitamina D é um nutriente produzido na pele pela exposição de raios ultravioleta B (UVB) do Sol. Essa vitamina é fundamental para que o intestino seja capaz de absorver o cálcio ingerido na dieta. Além disso, tem importante ação nos músculos, melhorando potencialmente o equilíbrio e reduzindo o risco de quedas. A exposição de partes do corpo, diariamente, por cerca de 20 minutos, no horário entre 10h e 15h, sem uso de protetor solar é fundamental. Entretanto, é necessário tomar cuidado com o tempo de exposição, pois a exposição solar sem protetor aumenta as chances de câncer de pele."

Fatores que afetam a saúde óssea

» Pouco cálcio - Procure incluir no dia a dia alimentos ricos em cálcio: laticínios, amêndoas, brócolis, couve, salmão, sardinhas, soja e tofu. A suplementação pode ser indicada em alguns casos.

» Sedentarismo - Sem exercícios, os ossos perdem minerais e não absorvem o cálcio da alimentação. Uma caminhada, uma corrida leve ou simplesmente subir alguns lances de escadas, desde que constantemente, já contribuem para o fortalecimento.

» Uso de álcool e tabaco - O álcool reduz a absorção do cálcio, prejudicando os ossos. Já o as toxinas presentes no cigarro inibem a produção do osteoblasto, célula produtora da matriz da massa óssea.

» História familiar - Portanto, quem tem casos de osteoporose na família deve reforçar os hábitos descritos acima e intensificar as visitas ao médico para exames preventivos.

» Hormônio tireoidiano em excesso e testosterona baixa em homens - Sabe-se que os hormônios da tireoide influenciam na remodelação óssea, mas não há ainda estudos suficientes que mostram detalhadamente esses impactos. A testosterona, nos homens, também auxilia na recuperação óssea. Alterações nos níveis desses hormônios são sinais de alerta.

» Desnutrição e distúrbios alimentares - Esses problemas fazem com que o corpo não tenha disponíveis minerais necessários para a recomposição óssea.

» Medicamentos (especialmente corticoides) - Alguns corticoides são fundamentais no tratamento de inflamações, mas eles também podem reduzir a densidade óssea, aumentando o risco de fraturas.

Osteoporose em números

» Estimativa de atingir 20% da população global (OMS)

» 1 em cada 3 mulheres com mais de 50 anos terá uma fratura por osteoporose no mundo

» 10 milhões de pessoas têm osteoporose no Brasil (Abrasso)

» Em torno de 30% das mulheres brasileiras apresentam a doença no período pós-menopausa.

»
Estimativa de 60 mil fraturas em mulheres

» Coluna vertebral, quadril e punho são os locais em que há mais fraturas

* Estagiário sob a supervisão da editora Teresa Caram