As dicas para manter uma memória ativa estão relacionadas a viver bem, procurar atividades que envolvam disponibilidade para o outro, empatia, bom humor, evitar estresse e desespero. A resiliência, curiosidade, disposição para aprender sempre coisas novas, como um idioma ou tocar um instrumento, é importantíssimo para o cérebro. É um desafio que traz muitos benefícios, especialmente para as mulheres, em virtude de serem sobrecarregadas, às vezes, com até três turnos de trabalho. “Como não se vive sem envelhecer, não se pode esperar a memória falhar para se investir na saúde do cérebro”, afirma a terapeuta ocupacional e gerontóloga Dolores Lemos dos Santos.
Ao se observar desatenção, lapsos repetidos ou mal-estar com alguma frequência, a recomendação é procurar logo a ajuda de um profissional. No caso de mulheres acima de 50 anos, a gerontóloga recomenda a atenção de um geriatra, mas se o problema é específico de queixa de atitudes equivocadas, “como guardar chave na geladeira, por exemplo, esconder objetos e não encontrá-los”, o ideal é buscar ajuda junto ao neurologista, sugere Dolores Santos.
Os sinais da depressão também são fatores que chegam de forma silenciosa, e se a incidência for prolongada, a ação tóxica no cérebro é um caminho para a demência. Aquelas mulheres que têm a vida organizada, são mães, trabalham fora ou se aposentaram, é importante que foquem em alguma coisa, uma mudança do cotidiano com momentos reservados para cultivar um robe, selecionando aquilo que dá prazer, como cozinhar, jardinagem, pintura e ouvir música. “Tudo isso facilita a preservação da autoestima, do contato social.
Outra dica é o trabalho voluntário. Não recebe dinheiro, mas tem a oportunidade de se doar. Quem se entrega a essa prática experimenta sensações positivas, construtivas, que trazem retribuição ao cérebro. O convívio social, um momento de descontração com as amigas. O círculo de amizades é importantíssimo para a saúde mental da mulher, seja mãe, filhas, tias, sobrinhas, colegas de trabalho. “Que seja numa praça, num piquenique em que não se gaste dinheiro ou viagens periódicas, ir ao cinema, organizar passeios, esse círculo social entre mulheres, essa troca de cuidados traz frutos e alivia o cérebro.”
A transcendência, que alguns chamam de religiosidade, aquele momento em que as coisas são mais abstratas, mais espirituais, místicas, também são muito importantes. Até mesmo se dedicar a um enfermo é uma postura que leva otimismo, visão positiva de futuro, assim entendida como aspecto fora da materialidade.
COTIDIANO
Dayane Fagundes, psicóloga chefe do FalaFreud, plataforma de terapia on-line, também recomenda algumas posturas no dia a dia para cuidado com a saúde mental: “Muita gente deixa de se preocupar com a saúde da mente por conta da correria do cotidiano. Não à toa, o Brasil já é o país mais depressivo da América Latina e o campeão em ansiedade no mundo”. A psicóloga aponta que estar bem emocionalmente evita que nosso corpo comece a sentir todo esse estresse, trazendo dores e cansaço. Além da busca por um profissional, alguns hábitos inseridos na rotina podem fazer toda a diferença para manter a saúde mental.
A neurologista do Hospital das Clínicas da UFMG Elisa Resende diz que não se sabe especificamente por que a demência prevalece no gênero feminino. “Algumas hipóteses têm sido objeto de estudos, partindo de princípios de viver mais ou de origem hormonal, mas terapias de reposição de hormônios não obtiveram sucesso. Alguns estudos comprovam que para mulheres com atividades ocupacionais mais complexas, a demência pode chegar com até oito anos de atraso.” Os estímulos cerebrais devem se dar ao longo de toda a vida da mulher, desde a fase da infância.
Para identificar demência ou comprometimento cognitivo, a entrevista com o médico é essencial, recomenda a neurologista.
A neurologista chama a atenção para a realização de exames desnecessários. Pesquisadores na América do Norte divulgaram recentemente que exames diagnóstico por imagens expõem pacientes a quantidades perigosas de radiação, sendo a tomografia o que embute maior carga. Ela não recomenda exames para quem nada estiver sentindo. “Ele só deve ser feito quando o benefício do risco é maior que não detectar um problema precocemente. O melhor mesmo é controlar fatores de risco e estimular a mente.”.