Dezembro Laranja: mês é dedicado à conscientização sobre o câncer de pele

Dermatologistas se unem para orientar e alertar sobre a necessidade de se proteger contra a radiação solar

Joana Gontijo 04/12/2018 09:50
Leandro Couri/EM/D.A Press
Eliana Franco, de 63 anos, enfrentou com tranquilidade e venceu um tumor no rosto (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

"A vida é como parênteses que vão se fechando. Tudo se resolve, o problema acaba e as coisas voltam ao normal. Às vezes é bom dar um tempo na vida antes que a vida dê um tempo em você. É importante perceber os sinais, agradecer a oportunidade de estar vivo. Nada é por acaso". É com pensamentos positivos, esclarecimento, serenidade e de peito aberto que a dona de casa Eliana Franco da Mata Rocha, de 63 anos, enfrentou um câncer de pele. Há dez anos lutou contra um tumor na mama, venceu a doença e passou a fazer um controle mais sério da saúde. Em setembro de 2017, durante uma consulta de rotina com sua dermatologista, acabou se deparando com um problema parecido. A médica reparou uma mancha vermelha no rosto de Eliana, que ela não tinha percebido antes. Depois de uma cirurgia para a retirada, foi detectado o câncer, do tipo menos agressivo e pouco perigoso.

A dona de casa confessa que, quando jovem, não se cuidava direito. Segunda a médica que a acompanhou, o câncer veio se agravando a partir dos 15 anos de idade, em um sentido cumulativo, pela exposição rotineira ao Sol. "Não usava protetor, na época não era difundido. Ao ficar sabendo do diagnóstico, no primeiro momento me assustei, principalmente por já ter passado pelo câncer de mama. Mas depois procurei me informar, inclusive consultando novamente o mastologista". O tratamento, ao contrário do que Eliana pudesse temer, decorreu com tranquilidade, não demandou procedimentos sérios, sem sequer ter ficado uma marca no rosto. "O câncer de pele foi mais simples. Tirou e pronto. Não precisou de quimioterapia ou radioterapia". Eliana diz que não se fecha, conversa, pede ajuda, desabafa, procura não transmitir sofrimento para os filhos, essencialmente depois que o marido faleceu, em janeiro. "Tenho que me cuidar, preciso estar bem, manter o otimismo: 'vou sair dessa, vou dar conta'. Se eu me fechar essa doença vai ficar em mim. A vida passa muito rápido, então procuro viver normalmente, um dia de cada vez", conclui.

Entre o total de tumores malignos registrados no Brasil, Conforme o Instituto Nacional do Câncer (Inca), 30% correspondem ao câncer de pele - 180 mil ocorrências anuais, dentro de um patamar de 600 mil, para as condições de câncer em geral. Para 2018 e 2019, são esperados 165.580 mil novos casos do tipo não melanoma, índice que representa uma diminuição de 10 mil episódios com essa característica de um biênio para outro. Um dado inédito é que, comparado ao último levantamento do Inca, o quadro sobre a doença dá conta de que mais homens (85.170 mil), em relação às mulheres (80.410 mil), serão acometidos. Com o pontapé de início para a Campanha Nacional de Prevenção ao Câncer de Pele, um mutirão toma conta do país para atender a população, gratuitamente, inaugurando as atividades do Dezembro Laranja, mês de prevenção e conscientização sobre a enfermidade, iniciativa realizada desde 2014. A primeira ação relevante, em nível nacional, acaba de acontecer, reunindo cerca de 4 mil médicos dermatologistas voluntários, em esforço conjunto para prestar assistência e esclarecer o público quanto à importância de adotar medidas preventivas. As consultas foram ofertadas em 132 postos em diversos estados, sendo, em Minas Gerais, Belo Horizonte e outras 11 cidades contempladas, com 14 locais de acolhimento.

Caroline Loures/Divulgação
Maria Luiza Pires salienta que o objetivo da campanha sobre o câncer de pele é fazer a população compreender os riscos da exposição solar sem a proteção certa (foto: Caroline Loures/Divulgação )
Ação da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a campanha consta de atenção especial dos profissionais para orientar, checar e fazer pequenos procedimentos cirúrgicos para o combate do câncer de pele. O órgão conta com parcerias de entidades públicas, instituições de saúde e empresas, em um trabalho de colaboração. Em Minas Gerais, a coordenação é da regional mineira da SBD, sob responsabilidade da vice-presidente da SBD-MG, a dermatologista Maria Luiza Pires de Freitas. "O objetivo é fazer a população compreender os riscos da exposição solar sem a proteção certa, o que pode levar ao aparecimento desse câncer. O principal intuito é ensinar sobre como evitá-lo, medidas de diagnóstico e acesso às terapias adequadas", salienta Maria Luiza. "A conscientização pública é uma das formas de reduzir o número de novos casos e, pensando assim, desde 1999 é realizado o mutirão de médicos dermatologistas voluntários, que prestam atendimento e orientação às pessoas", continua a profissional.

CAMPANHA

O trabalho do Dezembro Laranja é apoiado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Médica Brasileira (AMB). No quinto ano de realização, segue com o mote "Se exponha, mas não se queime", uma tentativa de conquistar a empatia do público com o trocadilho referente à exposição solar e a exposição nas redes sociais. A crença das entidades envolvidas, comprometidas em reduzir a incidência da doença e a mortalidade relacionada a ela, no fim das contas, é de que um país com menos casos de câncer de pele é uma meta alcançável.

Durante os mutirões, na situação em que o paciente apresenta alguma suspeita do problema, o tratamento continua no serviço onde foi previamente avaliado. Em 2017, Minas Gerais bateu recorde de atendimentos - em um único dia, cerca de 4,3 mil pessoas passaram pelos especialistas, entre dermatologistas, residentes e estudantes de medicina, compreendendo 450 casos prováveis do mal, que foram encaminhados para cirurgia ou acompanhamento. Desde o começo, o mutirão já auxiliou mais de 594 mil brasileiros e, na 20ª edição da campanha nacional, pela SBD, a expectativa é de que 30 mil pessoas sejam beneficiadas.
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FATOR DE PROTEÇÃO

Bárbara Dutra/Divulgação
O dermatologista Bruno Vargas ensina sobre o uso do protetor solar (foto: Bárbara Dutra/Divulgação)
O verão está chegando, o sol brilha forte, e os cuidados com a pele devem ser redobrados. A atenção com o maior órgão do corpo humano é necessária durante o ano inteiro, é sabido, mas no período que se anuncia é preciso ainda mais cautela. "Todos sabem que devem usar protetor solar, mas muitos desconhecem a forma mais adequada de fazê-lo”, ressalta o dermatologista Bruno Vargas, diretor da clínica que leva seu nome. Ele lembra que a falta de proteção, além de causar reações imediatas, como vermelhidão e ardor, também pode levar a consequências em longo prazo. Uma delas é o câncer de pele.

* Independente do tom de pele o fator de proteção solar (FPS) mínimo deve ser 30. "A melanina produzida na pele é uma defesa natural do organismo à incidência de luz. Quanto maior a exposição, mais melanina e, consequentemente, maior o bronzeado. Por isso, quem tem a pele mais clara está mais exposto”, explica. Para cada cor e tipo de pele, há o filtro mais indicado.

* Quem tem manchas causadas por motivos diversos, deve aplicar produtos com FPS50 ou 60. Crianças abaixo de 12 anos precisam de FPS de no mínimo 40, mas bebês de até seis meses não podem usar protetor solar e, por isso, recomenda-se que tomem apenas 10 minutos de sol por dia, antes das 9h da manhã.

* Para quem utiliza regularmente hidratantes, bases e cremes anti-idade, o mais recomendado é optar pelos que contêm filtro. Na praia, areia e sal potencializam o efeito dos raios ultravioleta (UV). As diferentes apresentações farmacêuticas são outro diferencial que varia pelo tipo de pele. Os produtos sem óleo, sérum e gel, são ideais para a pele mista, oleosa ou com acne. Mousse e creme são mais indicados para pele seca ou sensível, e as versões em aerossol são recomendadas para as áreas com pelos e o couro cabeludo.
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Todo cuidado é pouco
Evitar o intervalo de maior incidência solar, entre as 10h e as 16h, além de manter hidratação corporal satisfatória, são medidas simples que ajudam a diminuir a possibilidade de uma lesão cancerosa

Durante a campanha sobre o cãncer de pele, a partir deste mês até março, no período do verão, serão promovidas ações e atividades de informação na internet, ruas, praias e parques. Pessoas reconhecidas em suas áreas de atuação se unirão ao time do movimento, vestindo a cor laranja, ao mesmo tempo em que monumentos pelo país serão iluminados com a tonalidade símbolo da campanha. A sociedade civil também é convocada a participar, usando laços ou fitas laranjas, além de publicar as hashtags #DezembroLaranja e #verãolaranja nas redes sociais.

As orientações primordiais da SBD passam pela adoção de medidas fotoprotetoras, como evitar os intervalos de maior incidência solar (entre 10h e 16h) e, principalmente para trabalhadores que desempenham atividades em locais expostos, a utilização dos equipamentos de proteção individual (EPI's): chapéus de abas largas, óculos de sol com proteção UV e roupas que cubram boa parte do corpo, mesmo em dias frios e nublados. Cuidados que servem também para qualquer perfil de hábito e rotina, além de: buscar locais de sombra, assim como manter uma hidratação corporal satisfatória. "A sociedade médica alerta ainda para o uso diário de protetor solar, que deve ser reaplicado a cada duas ou três horas, ou depois de longos períodos de imersão na água", reforça Maria Luiza Pires.

CUIDADO REDOBRADO

"Este conjunto de medidas ajuda a diminuir a possibilidade de uma lesão cancerosa. Sabemos que alguma delas têm outros fatores associados, como predisposição genética e história familiar. Nestes casos, o cuidado é redobrado e a ida ao dermatologista deve ser frequente", orienta a dermatologista Patrícia Lima. A médica lembra que o câncer de pele não é contagioso, ou seja, uma pessoa com a lesão, se tiver contato com outra saudável, não transmite a doença. "Porém, se houver parente de primeiro grau com história familiar de tumores de pele, suas chances de ter alguma lesão cancerígena aumentam, a exemplo do melanoma".

Beto Novaes/EM/D.A Press
A dentista Maria Cristina Apgaua procurou ajuda logo que percebeu uma pinta esquisita na perna (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

O primeiro sinal de que algo estava errado foi uma pinta diferente, esquisita, que apareceu na perna da dentista Maria Cristina Apgaua, de 64 anos. Ela percebeu uma textura áspera e logo entendeu que aquela não era uma pinta normal, mesmo que pequena (menos que 1 centímetro). Quando buscou atendimento com uma dermatologista, a médica prontamente apurou que aquela era uma uma situação suspeita. A pinta foi retirada e, depois de efetuada a biópsia, ficou constatado um carcinoma basocelular. A dentista conta que existem vários casos de câncer na família, mas, na pele, só aconteceu com ela. Desde o início do tratamento até agora, em um intervalo de dois anos, Maria Cristina menciona que vigia o próprio corpo para ver se aparece algum sintoma do tumor novamente. "Fico monitorando para saber se volta em outro lugar. Não tenho receio sobre pioras. Como o câncer de pele não se trata de um problema em algum órgão interno, o prognóstico é bem melhor, principalmente se detectado no início. É importante sempre ir ao médico e prevenir, a maneira mais segura de impedir o avanço da doença", afirma.

O câncer de pele é provocado pelo crescimento anormal e descontrolado das células que compõem a pele. Existem diferentes tipos, que podem aparecer em formas distintas. Os mais comuns são conhecidos como carcinoma basocelular e carcinoma espinocelular (denominados de câncer não melanoma) - têm altos percentuais de cura se diagnosticados e tratados precocemente. Um terceiro tipo, o melanoma, não é o mais incidente, mas o mais agressivo e poten­cialmente letal. Quando observado no princípio, apresenta 90% ou mais de chance de cura.

PINTAS IRREGULARES

Seja qual for a classe, a exposição excessiva e sem proteção ao Sol é a principal causa do câncer da pele, além da utilização de câmaras de bronzeamento (a Austrália, por exemplo, ensolarada quase o ano inteiro, é o país com mais eventos de câncer de pele no mundo). O problema pode aparecer como uma pinta ou mancha, quase sempre acastanhada ou enegre­cida, que apresenta mudança de cor ou textura e torna-se irregular nas bordas; como lesões que persistem ou continuam crescendo no decorrer de semanas ou meses e sangram facilmente; como uma pápula ou nódulo avermelhado, cor da pele e perolado (brilhoso); ou como uma ferida que não cicatriza, aumenta e apresenta coceira, crostas ou erosões. O transtorno surge mais frequentemente nas áreas do corpo que geralmente ficam expostas, como face, orelhas, pescoço, couro cabeludo (em calvos), ombros e costas. Apenas médicos dermatologistas e oncologistas são capacitados para fazer o diagnóstico, partindo da percepção desses primeiros sinais. A SBD chama a atenção para a necessidade de que as pessoas se examinem com periodicidade, consultando um dermatologista em caso de incerteza. Também é importante pedir para familiares observarem o corpo de quem está em dúvida, pois muitas vezes os cânceres aparecem em regiões onde não é possível ver sozinho.

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A SBD também lembra que a melhor forma de evitar a doença é a prevenção. Vale reforçar que nem o autoexame, nem a calculadora de risco, substituem a consulta a um dermatologista. Patrícia Lima ensina sobre a famosa regra do ABCDE, um norte que pode auxiliar na percepção inicial de um câncer de pele, quando da observação de uma pinta ou mancha. Cada letra está relacionada a um aspecto que deve ser avaliado na hora de examiná-las. Seguindo os caracteres, significa: assimetria (A); bordas da lesão (B); mudança de padrão de cor, dois ou mais tons (C); dimensão da lesão (D) - lesões acima de 6 milímetros são mais suspeitas - ; e evolução - cresce e muda de cor (E). "A regra auxilia no diagnóstico de uma lesão suspeita, mas não substitui a consulta especializada. É bom lembrar que algumas lesões fogem a estas convenções, como alguns tipos de melanoma que podem se apresentar à visão macroscópica pequenas, bem delimitadas, de um só tom, mas, à dermatoscopia (exame feito pelo dermatologista), possuem características que sugerem malignidade", compara.

Refflexos a longo prazo
Mais cautelosas com a saúde, as mulheres costumam respeitar as medidas de proteção solar e outros hábitos que podem diminuir em até 50% o surgimento da enfermidade

Mater Dei/Divulgação - 20/11/13
Na opinião do oncologista Enaldo Melo de Lima, os brasileiros são pouco cuidadosos com a saúde em geral. A informação responsável, para ele, é a chave para prevenir doenças (foto: Mater Dei/Divulgação - 20/11/13 )
Os brasileiros são pouco cuidadosos com a saúde em geral, não só com as questões da pele, sem perceber que a atenção, ou a falta dela, com o próprio organismo, tem reflexos a longo prazo, constata o oncologista Enaldo Melo de Lima, coordenador do Hospital Integrado do Câncer do Mater Dei, em Belo Horizonte. Considerando as atitudes que levam ao aparecimento do câncer, como um todo e, por outro lado, hábitos para evitá-lo, medidas preventivas podem diminuir entre 40% a 50% o surgimento da doença, informa o médico.

Nesse cenário, existe também uma comparação entre gêneros. Homens são mais negligentes com a saúde, e, no caso do câncer de pele, figuram em primeiro lugar no ranking de mortes causadas pela doença. "As mulheres são mais cautelosas, respeitam as medidas de proteção solar, como a aplicação diária do filtro e a observação do horário adequado de exposição ao Sol. Na verdade, estão mais alertas com a saúde em seu contexto total. Procuram com frequência assistência médica. Fazem checkups periódicos, para cuidados cardiovasculares, acompanhamento ginecológico, mastologia, por exemplo. E não é só no Brasil. Este é um fenômeno mundial", pontua o especialista. Em relação aos transtornos com a pele, outro fator é que, nas mulheres, o lugar onde o câncer comumente aparece é nas pernas, mais visível, enquanto nos homens surge muito nas costas, o que torna difícil sua percepção.

Beto Novaes/EM/D.A Press
"Não foi preciso continuar com nenhum outro procedimento. Não houve complicação, cicatriz, no lugar nem aparece mais nada. Quando percebi a marca, logo tomei providência, peguei o problema no início" - Gilda Valente, de 70, aposentada, sobre uma mancha que tirou na parte posterior do joelho (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
A aposentada Gilda Valente, de 70 anos, sempre foi preocupada e antenada com as questões da saúde, e diz que não se descuida. No início do ano, observou uma mancha diferente na parte posterior do joelho, enquanto fazia um autoexame em seu corpo. "Era rosada, um pouco avermelhada, em formato retangular, disforme. Achei estranho, porque geralmente as pintas normais são redondas. Fui à minha dermatologista de costume, ela olhou e me direcionou para outro médico, que faz pequenas cirurgias", conta. No hospital, o médico realizou a retirada da mancha, que foi encaminhada para biópsia. Foi nesse momento o diagnóstico de câncer de pele, do tipo basocelular, no caso de Gilda perfeitamente curável. "Não foi preciso continuar com nenhum outro procedimento. Não houve complicação, cicatriz, no lugar nem aparece mais nada. Quando percebi a marca, logo tomei providência, peguei o problema no início". Mas a aposentada, que não tem registros da doença na família, segue atenta. "Continuo olhando meu corpo, me examinando, principalmente durante o banho", ensina.

Na hora do diagnóstico do câncer de pele, para fazer com que os pacientes não fiquem receosos, a melhor forma de abordagem é prover a informação de que o tumor é totalmente curável, e desmistificar o problema. Para os carcinomas, cirurgias simples resolvem, algumas vezes também o uso de pomadas, e, para os três tipos de câncer de pele, é muito raro a demanda por quimioterapia ou radioterapia, tratamentos mais agressivos. Quando se trata do melanoma, pode ser sugerida a imunoterapia. Trata-se de um medicamento intravenoso que ativa a defesa do organismo, com uma aplicação a cada 14 ou 21 dias, conforme o fabricante. "O aspecto psicológico (enfrentar a doença com pessimismo ou otimismo) influencia muito na aderência ao tratamento. A forma de encarar a situação com positividade parte de informação eficiente e esclarecimento", diz Enaldo.

A recomendação médica é evitar a radiação ultravioleta extrema. A diferença entre as variações UVB e UVA é o tipo de dano que causam ao organismo, esclarece o oncologista. "Com a UVB, o dano é a queimadura. Com a UVA, é imunogênico, ou seja, influi na imunidade da pele, que é um sistema orgânico cuja imunidade é alterada pela radiação. Diante de grande incidência, a pele fica mais sensível, a partir de uma reação imune - seu sistema de defesa é fragilizado".

RISCO

Entre os grupos de risco para o desenvolvimento do câncer de pele, estão pessoas de pele clara, olhos azuis ou verdes, cabelos ruivos ou loiros, quem tem casos na família, muitas pintas no corpo, ou quem sofreu queimaduras solares antes dos 15 anos. Para os carcinomas, o aviso pode vir de uma lesão que não cicatriza em 28 dias, período em que a pele deve se regenerar. Para pessoas de pele negra, uma pinta no pé pode sinalizar melanoma. "Mas lesões suspeitas não necessariamente têm características definidas. O importante é, além de comparecer ao dermatologista anualmente para controle, procurá-lo no caso do surgimento de uma lesão nova", ensina Enaldo.

Também existem hábitos e comportamentos perigosos que podem levar à enfermidade, de maneira abrangente a todos as formas de câncer. Entre as posturas ideais para que a doença não se manifeste, estão: manter o peso e o Índice de Massa Corporal (IMC) normais, evitando sobrepeso e obesidade, fazer atividades físicas, afastar cigarro e álcool, ter uma alimentação correta e saudável, e praticar sexo seguro (17% de todos os casos de câncer, em geral, vêm de vírus ou bactérias transmitidos pela relação sexual).

"Vivemos uma epidemia de câncer no mundo. A questão da informação responsável em saúde é o mais importante a se considerar. No Brasil, isso é muito pobre. O governo é irresponsável, negligente em não transmitir a informação correta à população. Não se preocupa com a qualidade do atendimento, é desorganizado, o sistema em geral está degenerado e sucateado. Em qualquer esfera (municipal, estadual, nacional), secretarias e Ministério da Saúde têm atuação extremamente tímida na realização de programas de orientação sobre a saúde. É fundamental prover a informação didática, melhorar os programas de prevenção. Espero que os novos governantes tenham mais comprometimento", conclama o médico.

Atenção ao prenúncio de câncer

Marcos Vieira/EM/D.A Press
Depois do tratamento, o jornalista João Henrique Faria não deixa de usar protetor solar (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)

A ceratose actínica, também chamada de ceratose solar, é considerada uma doença pré-cancerosa. De origem solar e dermatológica, muito comum em indivíduos de pele e olhos claros, é caracterizada por áreas descamativas e irritativas que acometem as partes do corpo expostas ao Sol, principalmente em acúmulo ao longo da vida. Pode se manifestar em vários pontos da pele, principalmente face, couro cabeludo, colo, dorso do braço e antebraço. É conhecida ainda como ceratose senil, por ser corrente em pessoas idosas. Mesmo corriqueira, demanda tratamento específico para evitar problemas graves. A maioria das lesões, chamadas ceratoses, são benignas, porém cada lesão tem 10% de chances de progredir para um tumor maligno, podendo predispor ao carcinoma espinocelular.

Há 12 anos, João Henrique Faria, de 56, jornalista por formação, agora atuante no ramo do marketing político, se deparou com a patologia. No princípio, surgiu uma ferida do lado direito do nariz, bem na ponta, que sangrava muito. João lembra de acordar com os travesseiros sujos de sangue. Sem pestanejar, procurou um dermatologista que constatou se tratar de um prenúncio de câncer de pele. "Ele examinou meu corpo todo e diagnosticou a ceratose actínica. Tenho a pele muito branca, quando tomo sol logo fico vermelho e descasco. A doença vem do excesso de Sol pela vida toda, desde a infância e adolescência, e se manifesta mais tarde. Eram pequenas manchas que causavam escamamento no rosto e ombro. Feriu os dois lados do ombro, próximo da clavícula, e o nariz. A biópsia não revelou câncer, mas pré câncer", conta João Henrique.

De lá para cá, os sintomas se pronunciaram em outras duas ocasiões, acometendo também o couro cabeludo, a testa e os lábios. Desde a descoberta da doença, o jornalista foi submetido a cirurgias e outros tratamentos. A partir daí, toma uma série de cuidados, como uso de bloqueador solar, chapéu, faça ou não sol - ele já aprendeu que o mormaço é suficiente para atingir a pele negativamente. Além das consultas rotineiras, de acompanhamento, firmou um compromisso com a prevenção. "Conheço pessoas que chegaram a perder o nariz. O cuidado é para o problema não se enraizar e alastrar pelo corpo. Em geral, ir ao médico pelo menos uma vez por ano para dar uma geral, e saber como está a saúde, é mais do que necessário. Na pele é visível, pelo tato já percebo. Mas tem problemas invisíveis", pondera.

CUIDADOS

Mesmo com o medo inicial, no instante da descoberta, da doença evoluir para um mal concreto, complicado, João conta que convive bem com o transtorno. "Você pode pensar que não deve ser nada, passa um remédio, dá casquinha e sara, mas não é bem assim. No meu caso, fui ao médico no momento certo, quando aconteceu, e não houve evoluções negativas. Hoje, vou à praia, entro no mar, aproveito normalmente férias, fim de semana. Quando sei que vou me expor ao Sol me protejo. Só no uso diário do filtro solar que sou um pouco relapso", não esconde.

Canal Photos
(foto: Canal Photos)
Palavra de especialista

Gisele Viana - médica, dermatologista titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e American Academy of Dermatology (International Fellow)

Alguns tipos de câncer de pele são mais agressivos e podem evoluir facilmente para uma metástase. Outros são mais brandos. Entre os principais tratamentos estão a cirurgia em diversas modalidades (convencional, micro gráfica, crio-cirurgia), a terapia fotodinâmica e as cauterizações. Os procedimentos sempre devem ser acompanhados de medidas de fotoproteção e avaliações dermatológicas. Bastam poucos minutos de exposição ao sol para auxiliar na absorção da vitamina D. Não é preciso se expor por longos períodos para garantir a saúde. Porém, é fundamental adotar cuidados específicos para a pele, prescritos pelo dermatologista. O uso de guarda-sol é pouco eficiente contra o câncer de pele, já que boa parte da radiação solar provém de raios que refletem a partir do chão. Nos momentos de lazer, ou no trabalho ao ar livre, o indivíduo deve prevenir a exposição solar sem a devida proteção - invista em fotoprotetores, roupas (há algumas que possuem proteção ultravioleta na malha) e limite o número de horas de exposição. É mais comum que o câncer da pele surja em pessoas mais velhas, uma vez que elas passaram mais tempo expostas à radiação solar. Entretanto, a doença também pode acometer crianças, devido a fatores genéticos. Inclusive, a hereditariedade influi no desenvolvimento do câncer de pele, mas há outros fatores envolvidos. As partes do corpo mais suscetíveis ao mal são as áreas que ficam expostas, como o rosto, os braços e as mãos - em homens calvos, a região da cabeça e, em mulheres, a região pré-esternal (decote) e as pernas. Contudo, o problema também pode aparecer em locais que nunca foram expostas ao Sol, como a genitália. O diagnóstico é realizado por dermatologistas, através de exames médicos durante a consulta. Além da avaliação clínica, podem ser realizados a dermatoscopia, o mapeamento com auxílio de equipamentos e a biópsia das lesões suspeitas. A biópsia é feita por um cirurgião plástico ou dermatologista, após a anestesia da pele e com utilização de técnica cirúrgica estéril. Trata-se de um procedimento que deve ser sempre orientado por um médico. O câncer de pele tem cura, na maioria das vezes. É importante ressaltar que o diagnóstico precoce garante grandes chances de melhora total.

Arquivo Pessoal
(foto: Arquivo Pessoal )
Cinco perguntas para...

Patrícia Lima - dermatologista, graduada em medicina pela Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE). Atua no núcleo de dermatologia da Clínica Bruno Vargas e é monitora no Hospital da Baleia, em Belo Horizonte

1) O que causa o câncer de pele?

A maioria dos cânceres de pele são causados pela exposição crônica ao Sol. As radiações ultravioletas (UVB e UVA) são importantes preditores do câncer de pele. Especialmente a radiação UVB, que pode induzir mutações em genes implicados na patogênese dos carcinomas de pele.

2) Quais são as lesões benignas da pele?

Algumas lesões de pele são consideradas benignas ou com pouca chance de se tornarem uma lesão cancerígena. Alguns tipos de nevos (pintas) apresentam aspectos ao exame dermatológico de benignidade. Exemplos: os nevos intra dérmicos, compostos, juncionais, alguns nevos congênitos. Outras lesões de pele, mesmo com aspecto feio, são totalmente benignas, como a ceratose seborreica. Essa é uma lesão bastante comum de se ver no consultório médico, principalmente em regiões do corpo como face, colo, couro cabeludo, braços. Corresponde a uma alteração da camada superficial da pele, assume um aspecto arredondado ou irregular, de cor amarronzada e verrucosa.

3) O que são lesões pré-cancerosas da pele?

São lesões que em algum momento podem se tornar cancerosas. Podem predispor o aparecimento de um câncer de pele, mesmo após anos. Dentre elas destacamos a ceratose ou queratose actínica, as queratoses por radiação crônica, as queratoses de cicatrizes crônicas, papulose bowenoide, doença de bowen (ou carcinoma espinocelular in situ), eritroplasia de Queyrat, doença de Paget mamária e extra mamária.

4) Em que consiste o autoexame da pele?

O autoexame da pele parte da observação de quais lesões a pessoa apresenta desde infância, aquelas que surgiram abruptamente, se alguma modificou-se ao longo dos anos. Também verificar se alguma lesão foge do aspecto (se a aparência da lesão destoa das demais).

5) Quem tem maior predisposição a desenvolver câncer de pele?

Pessoas com foto tipo mais baixos - cabelos loiros ou ruivos, olhos claros, que se queimam com facilidade ao contato com o Sol - apresentam maior predisposição ao câncer de pele. Lembrando que, ainda sim, a doença pode ocorrer em negros ou indivíduos com foto tipos mais altos, mesmo que mais raramente.

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Desvendando o melanoma - Mitos e verdades

Somente locais que foram expostos ao sol poderão ser afetados pelo melanoma

O melanoma é um câncer das células que produzem pigmentação. Embora elas estejam mais presentes na pele, também existem em mucosas

Melanoma é uma doença de idosos

O melanoma não tem idade. Apesar de o risco ser maior com o aumento da idade, o melanoma acomete a jovens também

Melanoma não tem cura

Com os avanços nos tratamentos, os números já chegam a 90% de cura dos pacientes quando a doença é diagnosticada no início

O melanoma só se desenvolve em pessoas que pegam sol todos os dias

O melanoma está mais relacionado a casos de exposição intensa e sem continuidade, como aquela ida à praia no fim de semana

Com protetor solar, estou protegido de qualquer problema

Mesmo aplicando o produto de 15 a 30 minutos antes da exposição ao sol, e reaplicando a cada duas horas, deve-se sempre usar chapéus e guarda-sol

Fonte: Oncologista clínica Veridiana Pires de Carvalho

Saiba mais: Por dentro do câncer de pele

Existem três tipos de câncer de pele: carcinoma basocelular, carcinoma espinocelular e melanoma maligno. Quando surge um sinal suspeito na pele, que muda de cor, de formato ou aumenta de tamanho, é fundamental consultar um dermatologista para verificar se existe malignidade e o que fazer em cada caso. Veja como avaliar os sinais de câncer de pele:

1. Carcinoma basocelular

O carcinoma basocelular é o tipo de câncer menos grave e o mais frequente. Surge nas células basais que se encontram na camada mais profunda da epiderme. Aparece como uma mancha rosa na pele que cresce lentamente, e é comum em pessoas de pele clara, depois dos 40 anos. São lesões de aspecto de pápula ou uma placa, e podem apresentar telangiectasias (vasinhos) e aspecto perláceo. Raramente resultam em metástase.

Onde pode surgir:
se manifesta quase sempre em regiões de muita exposição solar, como rosto, pescoço, orelhas e couro cabeludo, mas também pode aparecer em outras partes do corpo.

Como se proteger: utilizar protetor solar diariamente com fator de proteção adequado, especialmente durante as horas mais quentes do dia.

2. Carcinoma espinocelular

O carcinoma espinocelular é o segundo tipo mais comum do câncer de pele e acomete mais comumente homens, embora também possa se desenvolver em mulheres de qualquer idade. Manifesta-se nas células escamosas que constituem a maior parte das camadas superiores da pele. Tem a forma de um nó que cresce rápido e forma uma casquinha. Pode ser causado pela exposição solar, mas também acontece em quem faz tratamentos de quimioterapia e radioterapia (exposição a certos agentes químicos e radiações), apresentam problemas crônicos na pele, feridas que não cicatrizam ou cicatrizes, e ainda tem associação com transplantados renais. O carcinoma espinocelular pode originar metástase.

Onde pode surgir: é mais comum em locais expostos ao Sol, mas também pode acontecer em áreas cobertas com danos como pele enrugada ou com perda de elasticidade.

Como se proteger: usar protetor solar todos os dias, evitar a exposição ao cigarro e outras substâncias tóxicas. Além disso, consultar o dermatologista sempre que surgirem alterações na pele.

3. Melanoma maligno

O melanoma maligno é o mais perigoso de todos os tipos do câncer de pele. Se manifesta como uma pintinha escura que vai se deformando ao longo do tempo. Pode ser fatal se não for identificado precocemente, já que se desenvolve rápido e, em alguns casos, quando ocorre a metástase, atinge outros órgãos, como pulmão, fígado, ossos ou cérebro.

Onde pode surgir: frequentemente se desenvolve nas regiões expostas ao Sol ou que sofrem rapidamente queimadura, como rosto, ombros, couro cabeludo e orelhas, especialmente em pessoas de pele muito clara.

Como se proteger: além de utilizar o protetor solar diariamente, é importante fazer um exame constante da pele para observar se alguma pinta, sinal ou mancha muda de característica, e consultar rapidamente um dermatologista caso isso aconteça.

Fonte: Doutora Aleksana Viana, dermatologista, para o site Tua Saúde e Patrícia Lima, dermatologista

CINCO DICAS SOBRE O USO DO FILTRO SOLAR

Marek Bernat/Freeimages
(foto: Marek Bernat/Freeimages )

- Passe o protetor 30 minutos antes de ir à praia ou piscina, ainda sem vestir roupa de banho;

- Retoque cada vez que sair da água, lembrando-se de se enxugar antes;

- Se estiver se exercitando, retoque a cada 2 horas; caso não estiver na água ou se exercitando, a cada 4 horas;

- Para cada membro, tórax e abdômen, utilize mais ou menos uma colher de sobremesa de protetor. Metade dessa quantia no rosto, orelhas e pescoço;

- Roupas azuis, vermelhas ou amarelas são mais indicadas para quem se expõe muito ao Sol.

CONTRA A INCIDÊNCIA DO SOL

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Além do protetor solar e as outras medidas de prevenção, o mercado oferece alternativas para evitar o câncer de pele. Engana-se aqueles que acham que passar todo o dia dentro de um escritório é seguro contra os raios solares prejudiciais à saúde. Prédios com grandes janelas, por exemplo, recebem a incidência direta do Sol e, para ajudar na proteção das pessoas, as películas de proteção solar são aliadas. Já podem ser encontrados produtos com fator 1700 de proteção solar, como as ofertas da Multifilmes. "Imagine passar protetor solar com um fator desse. As películas garantem alto nível de proteção para a pele", conta João Paulo Ruciretta Junior, fundador da empresa. Com função não apenas decorativa, esse tipo de película pode ser usada em vidros de escritórios, residências e comércios, não somente em veículos, sem afetar a visibilidade - e a transparência, à escolha do cliente, não interfere no fator de proteção. "Algumas de nossas películas chegam a reter 97% dos raios infravermelhos", conclui Junior.