Dores de cabeça, na coluna, ansiedade, insônia, falta de ar, intolerância, choro sem motivo e gastrite são males que acometem muitas pessoas, por motivos distintos. Porém, há casos em que doenças físicas recorrentes em um indivíduo perpassem por questões emocionais e até espirituais. O corpo capta todos os estímulos externos e, por meio do sistema nervoso, envia essas “mensagens” para o cérebro, que as decodifica e, em seguida, responde a esses estímulos na forma de ação.
Assim, o corpo também responde por meio dos estímulos internos que são gerados pela mente na forma de pensamento e sensação e, consequentemente, ocasionam ações ou reações. Ocorre que a causa de uma enfermidade pode estar no subconsciente, uma vez que não houve a possibilidade de reconhecer, tornar consciente e transpor os sentimentos e emoções. Então, o corpo adoece.
O ser humano acumula situações traumáticas, dores emocionais, feridas da infância, repreensões familiares e sociais. Todos esses momentos geram psicossomatizações que condicionam e estruturam o nosso modo de viver, pensar, agir e nos portar em situações de inseguridades. O corpo, portanto, além de atuar como instrumento da mente, armazena todas as emoções que podem ter natureza tanto benéfica quanto tóxica. “Quando guardamos amores, alegria, paz e bons pensamentos, temos uma vida correspondente a esses sentimentos. Quando mantemos raiva, rancor, mágoa, tristeza, vergonha, culpa e outros sentimentos tóxicos dentro de nós, temos uma vida infeliz e de ansiedade”, afirma Karuna (Luiza Angelini), iogaterapeuta e proprietária do MAA Yoga – Sachcha Prem, Centro de Yoga e Terapias Integrativas.
Todas as situações de vida são constantemente registradas na mente inconsciente, na forma de impressão ou memória. Sempre que nos depararmos com a mesma situação ou situação semelhante, essa memória emergirá para a mente consciente e teremos a mesma reação. “Se as situações em que vivemos forem traumáticas ou se as respostas internas forem baseadas nas experiências do passado, ambas ativarão o cérebro límbico, que gerará hormônios de estresse”, destaca a terapeuta. Cada vez que repetimos a mesma reação, reforçamos a memória de fuga ou de ataque (cérebro reptiliano), e que, na maioria das vezes, não é a melhor reação.
De acordo com Karuna, o corpo responde de forma condicionada ao que é projetado na mente, o que, por sua vez, teve origem nas situações traumáticas que não puderam ser bem gerenciadas emocionalmente. “No universo da terapia integrativa, o corpo, a mente e o espírito são integrados e se influenciam”, ressalta.
O bem-estar pessoal está ligado com a liberação das cargas emocionais geradas pelas situações que nos ocorrem. Aprender a se posicionar perante os acontecimentos sem medo e de forma cuidadosa e harmoniosa é necessário para não gerar mais conflitos para nós e para os outros. “Todo terapeuta corporal, acupunturista e fisiologista sabe que guardar raiva prejudica o fígado. E guardar tristeza acomete os pulmões e traz problemas cardíacos, como pressão alta e arritmias”, adverte a terapeuta.
Sensações e estímulo
Por meio da conscientização das sensações e estímulos corporais relacionados à situação traumática, a experiência somática é uma terapia que visa à resolução dos traumas e de eventos estressantes. “Por meio da escuta do corpo e tendo as sensações como porta de entrada, é possível acessar todas as memórias de dor, crenças limitantes e negativas que levam nosso sistema a adoecer ou tiram nossa paz e alegria”, conta Karuna.
Ela desenvolveu um método que une procedimentos da experiência somática, mindfulness compassion, meditação e renascimento para a liberação, acolhimento e ressignificação da causa psíquica emocional da enfermidade. “Quando acessamos a causa sob a perspectiva somática, é possível ter não apenas a resolução emocional, mas também a resolução psicanalítica, já que a compreensão da situação vem junto quando a carga emocional é liberada. Ao ocorrer isso, essa carga precisa ser acolhida e redirecionada”, revela.
Para Karuna, à medida que os acessos são reconhecidos, é feita a ressignificação, por meio da compreensão das relações de causa/efeito e da liberação da carga psicoemocional envolvida nos acontecimentos traumáticos da nossa história de vida. Quando essas cargas são liberadas e o acontecimento é aprendido em sua totalidade, deixamos de carregá-las. Não há uma imagem congelada e neurótica, nem uma força emocional que nos puxam para a reação, medo e tristeza. “É uma forma de compensação para aliviar a aflição interna do indivíduo e que chegou no seu auge da capacidade de sustentá-la. É uma válvula de escape energética, emocional e psíquica”, diz.
Segundo ela, todas as pessoas desenvolvem somatização, salvo aquelas que conseguem liberar as cargas emocionais e psíquicas e/ou desenvolveram alto grau de gerenciamento emocional (inteligência emocional) e conseguem, no momento exato da situação, dar a melhor resolução interna e externa, não guardando sentimentos e pensamentos repetitivos e destrutivos. “Agir dessa forma é aconselhável para todas as pessoas, com idade acima de 7 anos. Para quem busca harmonizar todas as áreas da vida, compreendendo em profundidade os por quês dos acontecimentos”, aconselha.
A terapeuta salienta que, se não resolvermos essas questões internas e de relacionamento interpessoal, teremos várias áreas da vida travadas por sentimentos de incapacidade, baixa autoestima, falta de propósito, depressão, pânico, retraimento e outros sintomas. “A felicidade que buscamos está na resolução dos conflitos internos, familiares e sociais. O ser humano consegue, pela inteligência emocional, enfrentar seus desafios, sua sombra e se autotransformar, visando à sua melhor versão, o máximo do seu potencial, e à harmonização de todas as áreas da sua vida”, finaliza.
* Estagiário sob a supervisão da subeditora Elizabeth Colares