Ao fincar o pé na certeza de que não há limites cronológicos para saborear novas situações e sensações, pensar em um envelhecimento saudável, muitas vezes, significa colocar na balança alguns paradigmas relacionados à terceira idade. Afinal, chegar à velhice com autonomia, bem-estar e qualidade de vida é o que muita gente procura. Fatores como o equilíbrio físico e psicológico, independência, relações sociais, manutenção de atividades de trabalho, lazer e religiosidade estão entre as atitudes que influenciam a ter uma maturidade tranquila. Pilares como dieta bem-elaborada, cuidados preventivos para evitar doenças, prática de exercícios, contatos interpessoais e troca de experiências, além das questões emocionais, são bases firmes para estar bem até quando a natureza deixar.
De acordo com estatísticas oficiais, entre a maioria dos brasileiros, o desejo é alcançar os 85 anos de idade, mais que a expectativa média de 75,5 anos. O problema é que a maior parcela das pessoas não incorpora um estilo de rotina que ajude nessa finalidade. Ao mesmo tempo, uma parte grande da população está ciente de que mudar o cotidiano com uma postura mais responsável pode prolongar o tempo de vida. E o Dia do Idoso, lembrado nessa segunda-feira (1º de outubro), é uma oportunidade para trazer à tona essas reflexões.
O Brasil passa por acelerado processo de envelhecimento. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sinalizam que, entre 1960 e 2000, a proporção de pessoas com 60 anos ou mais passou de 4,7% para 8,5%. Em 2010, o censo demográfico já demonstrava que os indivíduos nessa faixa representavam 10,8% da população, o mesmo que 20,5 milhões de brasileiros. Já estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) evidenciam que, em 2025, o país será o 6º no mundo em número de idosos, que devem ser 32 milhões. Dessa maneira, em 2030, é esperada inversão total no perfil populacional, com o número de representantes da terceira idade ultrapassando a totalidade dos menores de 14 anos. Até 2050, o conjunto dos mais velhos deve chegar a 66,5 milhões, abrangendo 29,3% da população, ainda conforme o IBGE.
O gerontólogo Alexandre Kalache explica que todos os determinantes da longevidade estão interligados a fatores como a condição socioeconômica e o meio em que se está inserido. “Tudo isso influencia a saúde e o bem-estar ao longo da vida, especificamente na velhice, quando as reservas do corpo são mais limitadas”, salienta. Conforme o especialista, vários estudos associam as doenças de “estilo de vida” (como obesidade, diabetes e problemas cardiovasculares) às condições negativas do ambiente, como poluição ou ausência de áreas ao ar livre para se movimentar. Outras pesquisas relacionam positivamente espaços urbanos, essencialmente os verdes, e o bem-estar.
VIDA QUE SEGUE
Nelly de Araújo Salomon foi contadora, gosta de artesanato e passou a maior parte do tempo cuidando da casa. O marido faleceu há quatro anos e ela, hoje com 83, está convicta de que a vida tem que seguir. “Foram 55 anos de casamento, um companheiro de uma vida toda. Vivemos muito bem. Ele sempre me apoiava, não me cerceava em nada”, elogia. Com a partida, resolveu alugar a casa onde morava com o companheiro, mudou-se para um aparthotel e abriu, em 2017, uma loja no Bairro Serra, em BH. Ela coordena um ateliê de pintura em tecido, vidro e porcelana, e também ama tricô, crochê e trabalhos manuais - produz blusa, cachecol, gorro e casaco de bebê, entre outros. Sempre foi ativa com os empregos que exerceu, desde a época em que residia no interior. Depois que o médico desaconselhou a caminhada, começou a praticar hidroginástica. Também faz aulas de teclado e não recusa convites para programas de entretenimento, como um balé, para o qual foi convocada.
“Reúno as amigas para ensinar o que sei. É uma experiência muito boa, agradável. Gosto de ter pessoas em volta. Tudo é vida. Às vezes, tem alguém desanimado e você ajuda a animá-lo. Não fico sozinha. Entusiasmo-me por fazer coisas diferentes, gosto de novidades. A mesmice cansa. Busco outras atividades dentro do que já sei fazer”, ensina a sorridente Nelly, que também se liga nas possibilidades que a internet lhe oferece. Ela lembra que é cuidadosa com a alimentação, sem radicalismos, frequenta o médico e está em dia com a saúde. Com o auxílio de uma ajudante, que trabalhou em sua casa por 32 anos, pôde se prestar a outros afazeres. “A atuação com o artesanato me deu a chance de ter alguém próximo de mim o tempo todo".
Lidar melhor com o mundo
Pessoas que sabem superar barreiras e que, apesar disso, procuram viver plenamente, conseguem enfrentar perdas que o envelhecimento pode impor
Por uma diferente perspectiva, o gerontólogo Alexandre Kalache lembra que o que se vivencia na infância, adolescência e na fase adulta impacta significativamente na velhice. “Nos últimos anos, acumulamos evidências incontestáveis quanto aos determinantes sociais de saúde e como eles influenciam nossos modos de ser – ou por meio de escolhas pessoais ou pelas limitações que nos impõem. De um modo ou de outro, a qualidade de nossas vidas no futuro é imensamente ligada à forma como vivemos antes. É a poluição ambiental que nos rodeia, o sedentarismo, a dieta pouco saudável. É a falta de vacinas na infância, o pouco acesso ao ensino de qualidade na adolescência, o tabagismo ou o uso de álcool que não deixamos enquanto adultos mais jovens. Exemplos não faltam”, esclarece.
Entre motores pessoais, como a genética e a personalidade, que se refletem na saúde ao longo da vida, são diversas as questões que encontram espelho na maneira de envelhecer para cada um. “Os fatores hereditários, de acordo com estudos, são responsáveis por não mais do que 25% da nossa chance de ser longevos, saudáveis e independentes. Quando era estudante de medicina, eu e meus colegas até brincávamos: ‘quer viver muito e bem? Escolha cuidadosamente seus pais’. Mas não é exatamente assim”, pondera Alexandre Kalache.
Ele afirma que existem muitas outras características decisivas quanto ao tempo e como se viverá. E nada de atitudes fatalistas, como dizer que não há o que fazer contra o colesterol alto por ter um histórico familiar, por exemplo. “Pelo contrário. Quem sabe ter herdado uma predisposição genética a determinadas doenças, que podem ser prevenidas, deve tomar ainda mais cuidado para superá-las, por meio da adoção de um estilo de vida saudável. Claro que muito depende de hábitos, mas também de onde se vive, de quais são as condições sociais e financeiras e quais serviços públicos estão disponíveis”, diz o médico.
Para Alexandre, o bem envelhecer também varia conforme a personalidade. É o caso de pessoas felizes e consideradas bem-sucedidas, mas que têm o dinheiro contado ou problemas graves de saúde. Pessoas que superam dificuldades e que conseguem viver plenamente mesmo diante de tantas barreiras. “O que explicaria os motivos pelos quais essas pessoas conseguem se superar e, mesmo na velhice, continuem enfrentando, com muita garra, perdas que o envelhecimento pode impor? Alguns aspectos apontados por estudos em todo o mundo ajudam a responder a essa questão.” Estão entre eles ter autonomia, lidar bem com o mundo circundante, manter relações positivas com os outros, ter propósito de vida e autoaceitação, bem-estar psicológico (boas emoções, engajamento, realizações), consciência de si mesmo, redução do estresse e evitar pensamentos ruins, bom humor e otimismo (um menor risco de doenças crônicas entre pessoas otimistas já foi amplamente comprovado), conhecimento sobre alguma área ou atividade, habilidade em realizar tarefas.
Em suma, o médico pontua a clara noção de que as saúdes física e mental estão unidas, o que é reforçado por tendência crescente nas ciências médicas de estudar a importância da espiritualidade (não confundir com religiosidade), que, para muitos, pode ser considerada outro aspecto positivo da personalidade. “Há também um interesse cada vez maior no conceito da resiliência. Essa ideia me parece muito útil no contexto do envelhecimento, não só para estudiosos interessados nos mecanismos que prolongam a longevidade, mas para todos os que já entenderam que há o que fazer para se tornar uma pessoa mais saudável e feliz - independentemente das circunstâncias externas, muitas vezes, para outros, intransponíveis”, acrescenta.
CONVIVÊNCIA
Aos 67 anos, Elizabete Bernardes de Araújo não dispensa uma boa diversão. Ela preserva o contato com amigos de infância e juventude, com quem sempre se encontra em momentos especiais, em diferentes eventos, e garante que essa convivência a ajuda a ficar ativa e alegre. “Mantenho-me disponível no mercado”, brinca. Elizabete conta que, com tantos anos de amizade, são pessoas que já fazem parte da família. “Um cuida do outro. Trocamos conselhos, sugestões”, diz. Ela faz parte de vários grupos. Além dos de escola, também se envolve ainda hoje com os colegas de 43 anos de trabalho. Adora ler, ir ao cinema, a festas, shows musicais, e não se abala se não tem companhia. “Se não tiver ninguém para ir comigo, vou sozinha mesmo. E sou tiete.”
Ela se lembra, descontraidamente, das festas temáticas das quais participou - com mote retrô, brega e chique, baile de máscaras e cinema, entre outros. “Divirto-me, danço com todo mundo, curto as fantasias. É muito bom compartilhar a felicidade. Se tenho a oportunidade de me distrair, estar alegre, aproveito. Procuro manter a mente ativa e focar nas coisas agradáveis.” Elizabete revela não ter o perfil de coordenadora do lar - na sua casa, é o marido quem vai para a cozinha. Para a esposa, mãe e avó, os instantes desfrutados junto à família são, justamente, outra maneira de dar graça à vida. Elizabete sempre apreciou trabalhos manuais, se dedicou ao artesanato de tom religioso, com santos decorados, oratórios, além de caixas personalizadas, já participou de feiras na área, e agora apoia uma das filhas em exposições desse ramo.
Palavra de especialista
Felipe Moraes - Fisioterapeuta, sócio do Fortaleser - Centro de Reabilitação e Condicionamento Físico
"Hoje, a expectativa de vida é de 72,7 anos para homens e de 79,8 anos para mulheres. A projeção é de que, em 2060, alcance 77,9 anos para homens e 84,2 anos para o sexo feminino. Mas a forma de os profissionais de saúde lidarem com esse público não tem acompanhado os avanços científicos. Muitos ainda reforçam a cultura do medo da dor, receitam medicação em excesso e repouso, sendo que a principal forma de recuperar e reinserir o idoso em sua rotina, inclusive melhorando o humor e a positividade diante dos aspectos do dia a dia, é a atividade física. Todos devem ser incentivados a se movimentar e a manter rotina saudável. É necessária a conscientização de que a dor tem cura sim, e de que é possível ter uma vida saudável e feliz com atenção à rotina saudável. A preparação para o envelhecimento começa desde cedo. São necessárias mudanças de hábitos de vida no dia a dia, tais como evitar o estresse e a irritabilidade constante, cultivar amigos, investir em relaxamento, ter uma alimentação saudável, praticar exercícios constantemente e manter distância do álcool e cigarro. Nunca é tarde para começar, mas é importante dar o primeiro passo."
Foco no que faz bem, sempre
Eles são exemplo de que exercer alguma atividade que dá prazer e interagir com amigos e família é fundamental para manter uma vida equilibrada e feliz
Quando se aposentou da profissão de técnico eletrônico, aos 55 anos, Lúcio Mauro Diniz ouviu que a morte seria próxima. Depois de 20 anos, ele virou essa página e escreveu novos capítulos de sua história. Nada de sedentarismo. É o exemplo perfeito de que nunca é tarde para recomeçar. “Com a idade, a situação financeira piora, as portas se fecham, aí vem a depressão, a bebida, a obesidade, a pessoa não sai da frente da televisão. Não quis isso para mim. Pensei em outra coisa: cuidar da saúde”, conta. O caminho, no seu caso, é a corrida. Comprou uma agenda, começou a treinar, anotava dia a dia os números de seu desempenho. Com 40 dias de atividade, foi convidado para participar de um evento oficial. Com 10 anos, foi para São Paulo e recebeu convite para entrar para um programa de saúde para a terceira idade, promovido por um banco, que começou a patrociná-lo. Hoje, aos 75, viaja pelo país todo para integrar competições. Até agora, são 754 corridas, que lhe renderam 753 medalhas e 646 troféus.
Lúcio sempre se manteve em movimento. “Na juventude, pratiquei futebol de salão. Hoje, me dedico exclusivamente à corrida, e fiz muitas amizades. Estou sempre na companhia de outras pessoas”, diz ele, que também frequenta academia para fazer musculação, três vezes por semana. Como hobby, aproveita o clima saudável da chácara da qual é dono - capina, planta, passa dias no mato e no convívio com os pássaros - em suas palavras. “O homem foi feito para estar em contato com a natureza. Tem coisa melhor?”. Casado há 47 anos, com cinco filhos e seis netos, garante que a interação com os entes queridos faz muito bem. “Estou na terceira idade, com a pressão ótima, não tomo nenhum remédio”.
Como modelo de saúde, Lúcio também ministra palestras de motivação para quem precisa começar a se mexer - e desde cedo. Considera-se um exemplo para aqueles que querem melhorar. “Oferecem-me cachê, mas recuso. Quero mesmo é difundir o bem, incentivar outras pessoas a ter uma vida saudável, transmitir e estimular a prática do esporte, qualquer que seja ele. É o que me deixa satisfeito. Cada um gosta de uma coisa e o importante é não ficar parado. Todo mundo tem um vício - então vicie-se em esporte. O mundo está cheio de coisas ruins. Vamos focar no que faz bem”, diz.
EQUILÍBRIO
Seleste Lopes Lima já foi auxiliar de enfermagem, agente comunitária em saúde e governanta. Hoje, aos 63, é artesã e participa da Feira de Arte e Artesanato da Avenida Afonso Pena há 23. Ela frisa que sustenta alimentação o mais natural possível, sem condimentos, o que aprendeu desde a infância, quando o pai tinha um sítio, de onde se tirava tudo para comer. No cardápio diário, basicamente frutas, verduras e legumes. A inspiração para manter a saúde em dia vem da família - nesse domingo (dia 30), sua mãe completa 103 anos. Seleste é de uma família numerosa - eram 11 irmãos, agora nove. Tem três filhos e dois netos. “Gosto muito de estar com a família, sempre que podemos nos reunimos.” Ela revela que busca o equilíbrio, tem boas noites de sono, não fuma, além de se dedicar ao trabalho, o bordado à mão, que a deixa constantemente produtiva - faz vestidos para crianças e camisolas de batizado tradicionais. Como lazer, adora dança de salão, cinema, programas culturais e viajar. Entre os amigos e parentes, diz que fica feliz em interagir e trocar experiências, ajudar e ser ajudada. E Seleste, batalhadora que só, realmente corre atrás. Para construir sua tão desejada casa, fez até um curso em uma construtora, para conseguir realizar a obra com as próprias mãos. “Ainda tenho sonhos”, afirma.
Thereza Maria Rodrigues da Silva atribui à fé as suas conquistas. “Jesus é a minha força. Não podia deixar de falar sobre Ele. Só Jesus transforma a vida de qualquer pessoa. Ele me curou de um câncer. Sou feliz pelos filhos e netos que o Senhor me deu. Ele é a causa de tudo”, diz. Quando jovem, Thereza trabalhou no comércio. Aos 77, não fica parada. Na maior parte do dia se volta a atividades domésticas. Lava, passa e cozinha para ela, para a irmã, para a neta e para a filha. Também gosta de bordar e de artesanato - sempre bordou roupas para fora. Vai ao cinema e aprecia ir a restaurantes, além dos encontros com o grupo da igreja. Há 13 anos, está recuperada de um câncer e não se deixa abalar. Mantém dieta equilibrada, mas não esconde que não abre mão de um churrasco. Tem dois filhos e quatro netos, de quem se orgulha. “Amo estar em família. Ajuda a ficar saudável. Não tenho nada a reclamar, sempre fui tranquila. Gosto de sair, mas também de estar em casa. Adoro encontrar amigos. E tudo o que tenho que fazer na rua, faço a pé”, revela, sem segredos.
Mulheres inspiradoras
A Galeria de Arte do Minas II apresenta, até 25 de outubro, a exposição “Mulheres do Mundo”, realizada pela professora Jônia Vieira e suas alunas do curso de pintura em tela, do Centro de Referência da Pessoa Idosa (CRPI), da Prefeitura de Belo Horizonte. Ao todo são 22 obras, produzidas nos encontros semanais das alunas – todas acima de 60 anos – que retratam mulheres inspiradoras da história do mundo. São mulheres que conseguiram deixar sua marca na humanidade. O objetivo da exposição é levar o público à apreciação e à reflexão sobre a mulher na sociedade. A galeria fica aberta de segunda a sábado, das 7h às 22h; e domingos e feriados, das 8h às 19h. Entrada franca. Av. dos Bandeirantes, 2.323, Mangabeiras. Telefone (31) 3516-2000.
Entrevista
Rodrigo Moura - Fisioterapeuta e sócio do FortaleSer - Centro de Reabilitação e Condicionamento Físico, especialista em fisioterapia neuromusculoesquelética
Como se manter ativo na terceira idade e como se preparar para ter uma velhice saudável
A população brasileira está envelhecendo. Estimativa recente do IBGE mostra que, a partir de 2039, haverá mais pessoas idosas que crianças no Brasil. Segundo o fisioterapeuta Rodrigo Moura, o mais importante é entender que, hoje, quem tem 70 anos se comporta como quem tinha 50 anos antigamente. As pessoas com mais de 60 continuam trabalhando, mesmo depois de se aposentar. Muitas voltaram ao mercado de trabalho, exercendo funções diferentes, saem com os amigos para dançar, namorar, ir ao cinema, teatro etc. A maneira como a terceira idade é encarada mudou, mas, para poder aproveitar esse momento, as pessoas devem ir se preparando desde mais jovens, para envelhecer com saúde, tanto física quanto mentalmente – um está totalmente ligado ao outro. "Essa preparação deve ser cultivada ao longo da vida, e consiste em boas noites de sono, abstenção do tabaco, alimentação equilibrada, atividade física constante e socialização. Quanto antes ocorre essa conscientização, de que a qualidade de vida na velhice é resultado daquilo que fizemos cumulativamente ao longo da vida, maiores as chances de uma velhice saudável."
O brasileiro está envelhecendo com melhor qualidade de vida?
Sabemos que a expectativa de vida do brasileiro está crescendo, porém, dados do Estudo Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (Sabe) mostraram que 16,2% não conseguem desempenhar uma ou mais atividades básicas, como se alimentar e tomar banho; 35,5% dos idosos não conseguem realizar atividades instrumentais, como utilização de transporte público ou privado, preparação de alimentos, cuidar de animais de estimação e gerenciar seus recursos financeiros. Subiram também os índices de doenças articulares, hipertensão e diabetes. Ou seja, apesar de a expectativa de vida estar aumentando, isso não resulta, necessariamente, em aumento da qualidade de vida.
Os profissionais de saúde estão preparados para lidar com a terceira idade?
Isso está melhorando aos poucos. Alguns paradigmas estão sendo quebrados. É fundamental que profissionais que lidam com a terceira idade tenham consciência de que a velhice não pode ser encarada como incapacidade. Os idosos devem ser estimulados a manter rotina produtiva, sair de casa para passear, caminhar, se manter em movimento, e também se exercitar, mesmo que reclamem de dores. É preciso que exista uma conscientização a respeito da dor, de que ela é tratável, e que a imobilidade não vai ajudar, mas sim piorar. Cirurgia só em último caso. E a vida ativa, com hábitos saudáveis, é o que resulta em chances maiores de melhora.
De que forma os avanços em medicina, inclusive no ramo da genética, estão melhorando a qualidade de vida dos idosos?
Medicina e genética têm possibilitado o aumento da expectativa de vida. Doenças que, antigamente, levavam à morte, hoje estão praticamente erradicadas pelas descobertas da medicina. E os avanços da engenharia genética apontam para um futuro em que partes do corpo serão reproduzidas a partir dos próprios genes da pessoa, para substituir as disfuncionais ou adoecidas. Sendo assim, a qualidade de vida dos idosos tende a melhorar com esses avanços, mas nada substitui os bons hábitos e cuidados ao longo da vida, inclusive na terceira idade.
O Brasil tem excelente Estatuto do Idoso no papel, mas, na prática, ainda não funciona... O que pode ser feito?
É importante que haja maior envolvimento e comprometimento com o bem-estar do idoso por parte de importantes atores, inclusive citados no Estatuto do Idoso, como profissionais de saúde, gestores, família, comunidade e poder público. No caso da família, vemos muitos casos de idosos que atuam como provedores do lar, sustentando inclusive filhos e netos em idade economicamente ativa. Pessoas que mantiveram atividades profissionais além da aposentadoria, mas que ficam solitárias, devido à rotina dos demais familiares e, em alguns casos, sofrem até mesmo maus-tratos dentro de casa. É importante a sensibilização de todos que fazem parte do dia a dia do idoso. Lembrar que foram essas pessoas que, em muitos casos, possibilitaram o acesso a tudo o que os mais jovens têm e que, independentemente disso, além da gratidão, merecem respeito, atenção e cuidado. Com relação à questão da saúde do idoso, o próprio Estatuto coloca ênfase na prevenção e tratamento de doenças crônicas não transmissíveis, que são extremamente comuns nessa faixa etária, e da importância de se ter atenção às políticas que promovam a saúde, que contribuam para a manutenção da autonomia e valorizem as redes de suporte social. Apesar disso, enfrentamos uma constante crise do sistema de saúde.
O que é melhor para o idoso: ser cuidado em casa ou numa instituição?
Ser cuidado em casa ou numa instituição é algo que deve ser avaliado caso a caso. Atualmente, já existem instituições que promovem inúmeras atividades, como viagens, passeios para socialização, além de contar com profissionais bem capacitados. Existem situações de idosos que optam, eles mesmos, por ficar em instituições desse tipo. Porém, principalmente quando a saúde está muito comprometida, é importante que os familiares tenham critério e atenção na escolha desse local. Ficar com a família também é ótimo, desde que os familiares respeitem, deem atenção ao idoso. Quando há necessidade de cuidados específicos, isso deve ser redobrado.