Muitos são os chamados distúrbios do sono, que representam sérios problemas para as pessoas, podendo atrapalhar o rendimento no trabalho, causar depressão e até infarto. Entre os incômodos mais acometidos estão o bruxismo e a apineia obstrutiva do sono (AOS). Patrícia Valério, especialista em ortopedia funcional dos maxilares e com doutorado em fisiologia pelo Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, explica que mais de 70% da população sofre de doenças relacionadas ao sono. “AOS e bruxismo são realmente as mais comuns”, confirma a especialista.
Fundadora do Instituto Patrícia Valério, em BH, pesquisadora da UFMG e professora em vários países, Patrícia ressalta que, de acordo com pesquisas, a estimativa é de que no Brasil, cerca de 72% da população sofre de alguma doença relacionada ao sono e menos de 10% das pessoas que apresentam esses sintomas reconhecem isso como um problema de saúde, que requer tratamento. A especialista explica que os distúrbios do sono podem ter diversas causas, sendo o estresse e a ansiedade os maiores inimigos, além do estímulo provocado pelo tipo de luz emitida por smartphones, tablets e laptops.
“Entre os problemas mais comuns a serem observados atualmente estão a AOS e bruxismo (ranger ou apertar os dentes). O paciente portador de apneia é mais predisposto ao bruxismo, havendo, portanto, uma interface entre os dois distúrbios”, esclarece a dentista. “Esses transtornos comprometem, consideravelmente, o cotidiano das pessoas, afetando, inclusive, o trabalho, causando irritação, problemas de concentração, baixo rendimento e até tendência à depressão.”
Entretanto, segundo Patrícia Valério, o que a maioria das pessoas não sabe é que esses distúrbios, caso não sejam tratados, podem causar danos ainda maiores à saúde da pessoa, até mesmo irreversíveis. O bruxismo pode levar a dores craniofaciais, perdas dentárias, estalos ao abrir e fechar a boca, alterações estéticas por desgaste dos dentes e perda da dimensão vertical do terço inferior da face.
De acordo com ela, não há tratamento para o distúrbio, mas existe uma série de procedimentos para minimizar a intensidade e os efeitos do bruxismo, como o uso de aparelhos intraorais, moldados segundo o formato da arcada dentária do paciente. “Eles ajudam a controlar os movimentos dos músculos mastigatórios e a reduzir o atrito que provoca o desgaste e o abalo dos dentes. No caso da AOS, é uma parada respiratória provocada pelo colabamento das paredes da faringe. O distúrbio ocorre enquanto a pessoa está dormindo e roncando. Para ser mais exato, durante as crises, a pessoa para de roncar por causa do bloqueio da passagem de ar pela faringe.”
Patrícia Valério alerta para o fato de que a enfermidade pode causar ou agravar quadros de doenças cardiovasculares, como hipertensão arterial sistêmica, arritmias, infartos e insuficiência cardíaca congestiva. A especialista ressalta que o tratamento da apneia, em casos mais simples, pode ser multidisciplinar, como perder peso, dormir de lado, evitar o uso de bebidas alcoólicas, calmantes, relaxantes musculares e cigarro algumas horas antes de dormir. “O uso de um aparelho intraoral que joga a mandíbula para frente também é muito recomendado e pode ser eficaz, pois tem a função de liberar o espaço aéreo, facilitando a respiração.”
Em casos mais graves, ela explica que é necessário o uso de uma mascara insufladora de ar chamada CPAP. “Essas máscaras especiais mantêm pressão positiva e contínua sobre as vias aéreas, evitando sua obstrução.” Há situações, porém, em que cirurgias ou cauterizações se fazem necessárias para corrigir os elementos que geram a obstrução, como os que estão associados às alterações da úvula, das amídalas e adenoides.
RECOMENDAÇÕES
No caso dos pacientes com bruxismo, Patrícia Valério recomenda consultar o dentista com regularidade e evitar apertar os dentes quando estiver empenhado em uma tarefa ou situação mais complicada. “A prática de atividade física regularmente também ajuda a controlar o estresse e as crises de ansiedade, que podem favorecer o apertar dos dentes”, alerta. “Evitar a ingestão de bebidas alcoólicas e não fazer refeições pesadas antes de deitar também pode minimizar as crises.”