Por que é tão difícil para algumas pessoas dizer não?

Conviver harmonicamente não implica falar sim a tudo. Recusar não é problema, o importante é se livrar da culpa e do medo, e não sofrer

por Lilian Monteiro 25/06/2018 07:00

Beto Novaes/EM/D.A Press
"Tenho o perfil flexível e sou cristã, tenho um olhar para o outro, de ajudar o próximo. Mas busco o equilíbrio, o meio termo. E é simplesmente libertador. Dá um alívio... (ao conseguir dizer não!)" - Déborah Ribeiro, Jornalista (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
"Sim”, “claro”, “pois não”, “posso”, “faço”, “entrego”, “atendo”... Respostas corriqueiras para muitas pessoas se tornam algemas para aquelas que têm dificuldade de dizer “não”. A jornalista Déborah Ribeiro da Silva, de 31 anos, casada com Pedro Henrique Rocha Cardoso, e mãe de Maria Luísa, de 10, e Enzo, de 1 ano e 9 meses, está em processo de aprendizagem para saber dizer “nãaao” quando necessário. “Tenho feito em doses homeopáticas, nada radical, sem machucar, já que tenho o perfil flexível e sou cristã, tenho um olhar para o outro, de ajudar o próximo. Mas busco o equilíbrio, o meio-termo. E é simplesmente libertador. Dá um alívio... (ao conseguir dizer não!).”

Mas até chegar a esse ponto, Déborah Ribeiro confessa que passou por fases de sofrimento. “Meu comportamento só ficou mais claro por causa do meu trabalho. Há oito anos, abri minha agência e percebi que era flexível demais com meus clientes, fazia além do contratado, o que acabou virando rotina. Ficava com medo de desagradar, de deixá-los chateados, atendia fora de horário da reunião, à noite, mesmo já em casa, com a família e os filhos. Só há quatro anos, ao fazer um processo de coach, consegui mudar meu perfil. Aprendi a pôr regras.”

Déborah conta, ainda, que a dificuldade de dizer não também se materializou na educação da filha. “Percebi que tinha muita dificuldade de colocar limite. Além da culpa constante de ser mãe, de trabalhar fora, quando estava junto queria só bonificar. Não com presentes, mas atendê-la. Estou no segundo casamento, com meu segundo filho, e meu marido tem me ajudado muito.”

No entanto, Déborah frisa que a chave do início da mudança está na terapia que começou há dois anos. “Com o coach, tive a consciência. Mas na análise é que fui buscar as raízes, a origem dessa minha atitude, na minha história, na infância, o que desencadeou.” A jornalista descobriu que lhe faltava a referência paterna. “Minha mãe, mulher que sempre soube dar limites, quando se separou passou a dar conta de tudo. Mesmo sobrecarregada, pensava que tinha de dar conta de tudo, da casa, da filha, do lado financeiro, do amor, do carinho... Então, criei essa dificuldade de pedir ajuda ao outro, de dizer não. Também tinha de dar conta.”

Mas Déborah enfatiza que temos de colocar limite para o outro, porque senão ele abusa e começa um processo de cansaço. “Dormia e acordava cansada, não estava normal. Também sentia uma tristeza sem fim. Então, além de a terapia me ajudar, faço acompanhamento com médica antroposófica, uso produtos naturais para ter mais energia e força. Preocupo-me muito com os filhos, porque, se não aprender a dizer não a eles, o mundo falará por mim de modo mais cruel.”

Consciente do seu comportamento, Déborah a cada dia dá um passo para se libertar da amarra de sempre atender às pessoas. A meta é aprender a dizer sim e não, sempre que quiser. Com a segurança de que vai estar tudo bem. E se por acaso sua fala não for bem recebida, paciência... A vida é assim, com seus “nãos” e “sins”.

LIVRE-ARBÍTRIO

Dizer sim ou não é uma escolha. Poder de decisão que, constitutivamente, só o ser humano tem. Portanto, faça uso dessa liberdade. Se não consegue exercê-la, procure ajuda, meios, formas de colocá-la em prática, para o seu bem. Para muitas pessoas, dizer não é um desafio que chega a ser sofrimento. Como está diretamente ligado a decisões e tomar decisões nem sempre é fácil, há consequências que podem paralisar a vida. Há quem não saiba negar, por medo do abandono, da rejeição, da solidão, para não causar aborrecimento, frustração ou sofrer represálias. Ou mesmo por ter perfil de pessoa sempre disposta a ajudar o outro. O não faz parte da vida e é importante exercê-lo. Não é saudável satisfazer o outro contrariando a si mesmo. Vai chegar um momento em que se pode até adoecer. É fundamental ser autêntico. Ser verdadeiro, primeiro com você mesmo. Falar é fácil? Sim! No entanto, essa atitude é pessoal e intransferível. Não há como terceirizá-la.

Especialistas que conversaram com o Estado de Minas apontam direções, questionam, dão sugestões e lembram que vivemos em um mundo em que, cada vez mais, as pessoas não aceitam o não como resposta. Por intransigência, por não terem ouvido “nãos” (pais que só dizem sim), por interpretá-lo como agressão ao outro, por ser mimado, por não gostar de contrariar e ser contrariado. Não se pode generalizar, mas há uma parcela do mundo que anda bem louca. Fora da medida. Nesse cenário, há filhos que não aceitam não, homens que não engolem ser rejeitados, alunos que não concordam com negativas de professores, chefes que se sentem donos de seus subordinados, e tantos outros exemplos de quem não só tem dificuldade de dizer como de aceitar o não. O que coloca todos em riscos, em maior ou menor grau, de sanidade. Dizer e aceitar o não é saudável.

 

Lidar com pessoas é complicado. Não há receita. A única certeza é que o seu não pode, ou não, ser aceito. Faz parte e é preciso lidar com esse fato. Uma saída é se cercar de pessoas que, mesmo ouvindo um não, vão aceitá-lo, assim como também terão o direito de lhe dizer não quando desejarem. Sem estremecimento de um dos lados. O não é tão importante que, quando dizemos, percebemos que somos limitados e incapazes. Não é possível abraçar tudo. Portanto, dizer não está ligado ao respeito e ao amor-próprio. Difícil ter certezas quando se trata do ser humano, mas ninguém questiona o fato de ser impossível agradar a todos. Por isso, não se engane, faça o compromisso de ser verdadeiro com você. Se for o seu caso, comece a exercitar o não. Não fantasie reações alheias, não há como adivinhar, controlar, antecipar sentimentos e reações. Se insistir nesse pseudocontrole, corre-se o risco de ser engolido, não só pelos pensamentos, como por ações que não condizem com sua vontade, crença, esperança, procura, experiência, descoberta, compreensão de vida e de mundo. Enfim, com o que você busca ser, sempre com erros e acertos. Cláusula pétrea da vida.

Universo da autonomia
Muitos temem dizer não porque acreditam que serão tachados de egoístas e sem espírito colaborativo. Na realidade, exercitar o uso de negativas é legítimo e uma forma de se proteger

“Não é uma das primeiras palavras que aprendemos. É o princípio da separação de si e do outro, do mundo”, alerta a psicóloga Cláudia Prates. Entre tantos argumentos, esse é um dos mais fortes para sermos alertados sobre a importância de saber dizer não, assim como aceitá-lo. Com a experiência profissional e de vida, ela avisa que “o não são três letras que carregam em si a coragem de assumir o risco de desagradar ao próximo; de atender a si mesmo; de ser a “vacina de autoproteção”; de dar a outrem a chance de exercitar os próprios recursos (treino de “músculos emocionais”) para a obtenção e a satisfação de anseios pessoais; oportunidade de buscar na criatividade outras alternativas para atingir a meta desejada; vivência benéfica de frustração que, bem dosada, reforça a “garra” da pessoa; convite à superação; proposta de avaliação de vontade x empenho.”

Jair Amaral/EM/D.A Press
Para a psicóloga Cláudia Prates, o não bem usado delimita campo de ocupação e de ação (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

Todas essas características Cláudia Prates vê como positivas, já que capacitam o indivíduo a ingressar, com boas chances de êxito, no universo da autonomia, da não dependência de apoio e de patrocínio externo. “Posse de carta de alforria.” O não, a psicóloga frisa, tem inúmeros poderes. Entre tantos, o de se parar, de separar pessoas, vontades, opiniões, posições e crenças. “É de tal magnitude que, rapidamente, o ser humano se habilita de utilizá-lo, porque a sua prática levaria o indivíduo a abandonar comodidades, temores e a acreditar em sua própria competência para decidir, para gerenciar erros e acertos.”

Cláudia Prates enfatiza que, muitas vezes, o uso de negativas é erroneamente traduzido por egoísmo e falta de colaboração. O não bem usado delimita campo de ocupação e de ação. É posicionamento, portanto, é protetor. Capacitar-se a negar é, sem dúvida, tarefa mais árdua que consentir: a “concordância” é simpática, macia, agradável e agregadora, apesar de muitas vezes não ser leal, não ser legítima.”

 

A psicóloga chama a atenção para o não no ambiente familiar. “Pouco presente na rotina familiar, os pais, principalmente, costumam desenvolver inaptidão para negar solicitações da prole, movidos pelo sentimento de “débito” causado pela própria ausência e pelo “conforto” (virtual, é claro) de “indenizarem” filhos pouco acompanhados. Nossas experiências primárias em nossa família original serão nossos mestres para o aprendizado e desenvolvimento do consentimento ou da negação. Sabendo-se que nada tem somente uma face, olhemos para o outro lado do não, o de sua ausência que se traduz em concordância, em consentimento. A corrida atual contra o tempo, cada vez mais exíguo, com frequência leva muitos pais a consentirem com pedidos pouco razoáveis de filhos. Negá-los, certamente, “gastaria” mais tempo e força. Um rápido sim encerraria o assunto de forma mais econômica.”

Já no contexto profissional, Cláudia Prates diz que o “não tem o risco de ser entendido como rebeldia, desobediência, desacato ao superior – nem sempre o é. Pode aparecer como marcador de realidade. O pertinente e o possível: pedidos (propostas) abusivos podem ser recusados pela não concordância com os mesmos.”

FRUSTRAÇÃO E JUSTIÇA

Como o não tem várias formas e circunstâncias, Cláudia Prates lembra que “há aqueles que têm o não no “gatilho”, pronto para disparo, independentemente da qualidade do pedido feito. Pode ser um método de supervalorização do consentimento que apareceria posteriormente, uma forma de se sentir “poderoso”.”

Por outro lado, Cláudia Prates destaca que, “malfalado, o sim pode acarretar sério dano: o de evitar o desaponto (frustração) que, homeopaticamente misturado, fortaleceria a criança, que iria se adequando ao mundo real que não a atenderá como e quando desejar. A negativa saudável é doce e letal: dispensa discursos, explanações – não intimida, mas encerra a questão.”

Para Cláudia Prates, o aprendizado do não deve ter como aliados a justiça, o bom senso, a ponderação. “Oferece o movimento de recusar e o de ter (ser) recusado. Aos nossos mestres originais agradecemos o que nos foi dado e, na maturidade, duplamente seremos gratos pelo que nos foi negado.”

Jair Amaral/EM/D.A Press - 23/2/18
(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press - 23/2/18)
Palavra de especialista - Júlia Ramalho Andrade Pinto - Psicóloga, mestre em administração e diretora da Estação do Saber

Risco de se anular

“A principal causa para a dificuldade de “dizer não” é a dificuldade de aceitar “a falta” como algo estrutural e saber fazer escolhas. Por exemplo, se sua namorada está sempre o demandando e você sempre a atende! Aqui a dificuldade de “dizer não”, de lidar com a falta faz com que você se iluda, achando que pode ser tudo para alguém. Você tenderá a se anular em prol do outro e terá, cada vez menos, clareza do que quer. O problema é que, no fundo, nunca conseguimos atender a todas as expectativas da relação, não é mesmo? Lacan ilustra isso assim: “Entre o homem e a mulher há um muro!”. Um outro exemplo, se você trabalha numa empresa onde a cultura organizacional reforça o trabalho além do horário, talvez você tenha dificuldade de “dizer não” ao excesso de trabalho. E, se você valoriza a família, lazer, tempo com os amigos e a busca por pertencer a essa cultura organizacional, como conciliar isso tudo? A dificuldade de “dizer não”, em querer ter tudo, pode adoecê-lo. Não seria uma ilusão achar que pode atender às demandas de um trabalho workaholic e as da vida social e familiar? Existem várias causas para a dificuldade de “dizer não”, mas reconhecer que há uma “falta” estrutural, identificar o que é importante para você e saber fazer escolhas fiéis a isso, esse é um bom caminho.”

O que impede algumas pessoas de não dizer não?

1) Querer agradar
2) Achar que o problema do outro é mais importante
3) Acreditar que pode fazer mais do que consegue
4) Não querer deixar uma oportunidade escapar
5) Ser prestativo demais
6)  Temer conflito
7) Não querer rejeitar o outro
8) Receio da solidão
9) Estar preso a temores e comodidades
10) Sentir-se intimidado

Quatro maneiras práticas para você começar a dizer não:

1) “Agora não posso me comprometer com isso, tenho um compromisso...”
2) “Agora não consigo pensar nisso, podemos nos falar na semana que vem?”
3) “Não sou a melhor pessoa para te ajudar com esse assunto, tente falar...”
4) “Não, não posso.”

Fonte: Felipe Andriolo, coach, consultor e palestrante


Poder da escolha
Como o homem é ser de afeto, ao desejar ser acolhido, reconhecido, amado, independentemente de dizer sim ou não, há sempre o medo permeando as relações humanas, o que é um risco à liberdade

O dizer “não” (ou “sim”) sempre é carregado de significados e aborda questões fundamentais para o ser humano, referentes ao querer, ao poder, à escolha, à decisão e à liberdade. Possibilidades constitutivamente humanas, diz, enfática, Maria Clara Jost, doutora em psicologia, especialista em filosofia, psicoterapia fenomenológico existencial e docente da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. “Considerando que o ser humano é o único ser da natureza capacitado a se autoconfigurar e fazer de si mesmo até o contrário do que deve ser. Com efeito, aos outros seres não lhes é dada a possibilidade de escolher ser o que são. Aquilo que deverão se tornar já está inscrito em sua natureza, cabe-lhes apenas seguir os ditames do que já está dado desde sua origem. Porém, à pessoa, é dado o poder da escolha e esse poder se refere, precisamente, à liberdade de ser ela mesma ou não. Assim, dizer não ou sim é dizer sobre o que se quer ser, o que se quer acreditar, o que se quer fazer, o que se quer corresponder, com o que se quer comprometer.”

Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 23/3/18
Doutora em psicologia, Maria Clara Jost explica que cada resposta é um ato de compromisso com um valor (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 23/3/18)

Maria Clara Jost, psicóloga da Tip Clínica, explica que cada resposta é um ato de compromisso com um valor, meta, proposta, com um destino. Desse modo, dizer sim ou dizer não é um compromisso com algo que implica na existência daquele ou de outro caminho. E isso é uma questão porque eles são excludentes. Certamente, porque a escolha por um caminho significa que o não escolhido deixará de existir como possibilidade. “Ou seja, dizer sim ou não é se posicionar, é vincular-se, é responsabilizar-se, é comprometer-se consigo mesmo, com o outro e com o mundo. Por essas e outras razões, escolher, por vezes, é tão difícil. Em algumas situações, é claro para nós o que queremos. Em alguns momentos da vida e na relação com os outros, sabemos o queremos e o que não queremos. O problema surge quando queremos alguma coisa e também queremos outra coisa ao mesmo tempo e, muitas vezes, com a mesma intensidade. Outras vezes, a escolha entre o sim e o não implica sofrimento para quem dirá o sim ou o não, e para quem receberá essa resposta. Dizer não pode magoar, pode criar inimigos, pode nos fazer correr o risco de perder amigos e amores. Certamente, dizer não e, por vezes, dizer sim, implica coragem, integridade, responsabilidade e, principalmente, certeza de se ter valor e de se ser amado.”

DÚVIDAS

Para a psicóloga, quando vivemos um sentimento de insegurança do nosso próprio valor, quando duvidamos que fomos, somos e seremos acolhidos, aceitos, reconhecidos e amados, independentemente do nosso sim ou do nosso não, temos medo. “Acovardamo-nos. Não somos sinceros nem conosco nem com o outro. Buscamos “dançar conforme a música”, para garantir o apreço, o afeto, o pertencimento e o amor. Nessas circunstâncias, vendemos nossa liberdade e nosso querer por alto preço.” Por quê? Porque somos seres de afeto. Afetamos e somos afetados. Queremos amar e ser amados. E, por vezes, a nossa história afetiva, desde aquela que começamos a construir com nossos pais, primeiros referenciais afetivos, traz marcas e impressões negativas, ligadas a um sentimento de despertencimento, desamparo e abandono. “São conflitos internos, ligados a vivências psíquicas, que, muitas vezes, nos divide e nos deixa indecisos. Vamos configurando impressões subjetivas destrutivas sobre nós mesmos e os outros afetivamente importantes, e ficamos sem chão, dependentes, instáveis e vulneráveis.”

Nesses contextos, Maria Clara Jost alerta que perdemos a força de agir e nos rendemos ao desejo do outro, do grupo, da massa, da mídia, das redes sociais. “Nesses casos, é difícil dizer não, porque corremos o risco de perder o amor do outro. Mas, se esse risco é vivido dessa maneira aprisionadora, será que algum dia houve a certeza da existência desse amor? Por outro lado, será que, se nos rendermos à cobrança de adequação ao desejo de um outro, acreditaremos que somos amados de fato?”

A psicóloga avisa que outras vezes não nos posicionamos porque não sabemos o que queremos. Existem dois tipos de querer. “Aquele autocentrado, em que a referência é si mesmo, que é movido pela satisfação de todos os desejos, que precisam ser realizados para se poder “ser feliz”. Paradoxalmente, porém, essa busca leva a um esgotamento do próprio querer (ou seja, ao conquistar, perde-se a vontade). Assim, a depressão se instala. Doença do nosso século. Todavia, existe também o querer autotranscendente, em que a vontade é direcionada para fora de si mesmo, quando o querer é medido pela alegria do bem que se faz. Esse querer não se esgota em si mesmo. Esse querer plenifica, realiza, motiva para a vida, equilibra e integra.”

FOCO

Maria Clara Jost destaca que “escolher é decidir” entre o que se quer e o que se quer mais. “Porém, como saberemos o que queremos se não sabemos o que nos realiza, o que nos dá alegria, o que nos dá vontade de viver? Quem dita o que devemos querer, o que devemos desejar, o que devemos escolher? Não recebemos enlatados “prontos para o consumo” imediato todos os dias? Realmente, se não escolhemos nem o que se deve vestir, será que estamos escolhendo o que sentir, o que pensar, o que falar ou o que ser?” Muitas questões, de fato. Por onde então começar? Conforme a psicóloga, cuidando principalmente de exercitar a capacidade de reconhecer o que realmente vale a pena querer. “Exercitando a capacidade de olhar para fora de nós mesmos, pensando naquilo que pode contribuir para um bem maior que nosso próprio querer. Focalizando nossos esforços para nos preocupar mais com as respostas de sim ou de não que podem acrescentar algo de valor no mundo. Descentrando-nos do excesso de preocupação com o que vamos ganhar ou com o que vamos receber em troca do nosso sim ou do nosso não. Não estamos à venda, devemos orgulhosamente dizer. Desse modo, poderemos construir novas possibilidades de “sim”: um sim à vida, à alegria, ao entusiasmo, à vontade de fazer algo de valor. E, com isso, teremos certamente coragem, convicção e empenho de dizer “não” àquilo que destrói a nós mesmos, ao outro, à vida e a vontade de viver.”

Mudar padrões

Edésio Ferreira/EM/D.A Press - 26/1/18
Para Fernanda Berni, psicóloga, a psicoterapia pode ajudar muito essas pessoas (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press - 26/1/18)
A psicóloga Fernanda Berni reforça que saber dizer não (e dizê-lo!) é fundamental para o bem-estar e a saúde. “As pessoas que não sabem dizer não, ou pelo menos não têm esse hábito, acumulam excesso de tarefas, de compromissos, de sobrecargas em geral, que geram sofrimento e grandes prejuízos para elas próprias. Prejuízos emocionais, físicos, sociais e até financeiros.”

Por trás desse tipo de comportamento, normalmente, explica Fernanda Berni, escondem-se sentimentos e emoções, como medo, culpa e vergonha. “Dizemos muitos “sim” por aí, por medo de uma reação negativa do outro, por nos sentirmos responsáveis por eles, para manter uma imagem de “bonzinho”, sempre tentando agradar aos outros para tentar controlar as situações. Cada pessoa tem motivações, história e forma própria de lidar com isso tudo. Essa dificuldade pode aparecer mais marcadamente em algum setor da vida, como no setor profissional ou na vida afetiva. Ou em vários setores ao mesmo tempo. Em todos, às vezes. Mas pode ocorrer por um interesse genuíno, uma vontade legítima de realizar muitas coisas na vida, de estudar vários temas, de experimentar muitas coisas.”

Fernanda Berni indica uma saída. Para ela, “a psicoterapia pode ajudar muito essas pessoas, seja facilitando o contato delas com os próprios sentimentos que as levam a esse tipo de atitude, seja ajudando-as a encontrar recursos para o aprendizado de outras formas de reação - mais autênticas, se for o caso -, além de outros benefícios.”

CURA ENERGÉTICA

Nos dias de hoje, muitas pessoas têm dificuldade na vida para estabelecer limites. Às vezes, por causa disso, ficam sem tempo para si, se sentem exauridas e acabam até adoecendo. De acordo com Caio Zagnoli, professor de ThetaHealing (técnica de cura energética que ensina a identificar e a mudar crenças, sentimentos e padrões bloqueadores, tornando-os positivas) e fundador do portal Semente Quântica, esse comportamento ocorre por uma série de fatores. “Muito possivelmente, em vista de algo que ela vivenciou em sua infância e que contribuiu para formar crenças limitantes.”

Arquivo Pessoal
O professor de ThetaHealing Caio Zagnoli alerta para os prejuízos emocionais (foto: Arquivo Pessoal)

Caio Zagnoli cita o caso de uma criança que, para ser vista pelo pai ou pela mãe, se esforça para agradá-los o tempo todo, por sempre escutar comparações referentes aos seus irmãos, como, ‘seja bonitinha, como seu irmão’. “Em consequência, ela acaba gerando a crença de que é preciso agradar sempre a todos, para que também seja amada, reconhecida, valorizada e aceita. De alguma forma, isso acaba refletindo em sua vida adulta, fazendo com que, inconscientemente, a todo instante, atenda a tudo o que os outros pedem e nunca coloque seus limites.” Já se a pessoa teve criação em que recebeu limites de forma violenta, o professor acrescenta que isso pode ter gerado nela a crença de que, se ela colocar limites, vai machucar as pessoas.

Outra situação que pode ocorrer é a pessoa aprender que ela tem que dar conta de tudo sozinha, de que tem que cuidar de todos, e de que só ela é capaz. “Muitas vezes, isso ocorre quando um dos pais se ausenta, por algum motivo, e ela acaba tomando a responsabilidade dele na família. E, de alguma forma, leva essas crenças para a vida adulta, se colocando sempre de forma paternalista na relação com o outro”, destaca Zagnoli.

O professor garante que é necessário reconhecer esses padrões limitantes em si, para que possa transformá-los e viver relações mais harmoniosas e equilibradas. “Precisamos aprender que podemos ser amados, respeitados e valorizados sem precisar sempre agradar a todos, que podemos dizer não com firmeza e, ainda assim, com respeito e amorosidade, sem necessariamente ter que ser violento para isso. Precisamos nos dar conta de que não devemos carregar o mundo nas costas, sempre tendo que cuidar de todos, saber que cada um tem a capacidade de dar conta de si mesmo e lidar com suas próprias responsabilidades.” Por isso, Caio Zagnoli lembra que o uso da técnica ThetaHealing® pode ser importante aliado nesse processo de busca pelo autoconhecimento, detectando padrões limitantes e os transformando por meio da reprogramação de crenças.

Hora de pensar

Questões que a psicóloga Fernanda Berni acha importante cada um fazer e refletir:

1) Vale a pena, antes, pensar nas consequências daquele ato?
2) Será que é possível conseguir fazer essas coisas todas num prazo tão pequeno, por exemplo?
3) Se eu ceder a essa “tentação” aqui e agora, como será pagar o seu preço depois?
4) Será que é mesmo possível atender e agradar a todos o tempo todo? Alguém já conseguiu esse feito? Quando tentamos agradar a todos, a chance de desagradarmos a nós mesmos costuma ser muito maior.

SERVIÇO:

Curso: ThetaHealing DNA Básico
Professor: Caio Zagnoli Serviço
Datas e horários: dias 29, das 18h às 22h; 30 e em 1º de julho, das 9h às 18h
Local: Espaço Vértice - Rua Itaí, 782, Bairro Santa Efigênia
Contato: www.sementequantica.com/cursos