Estudo comprova que alimentos à base de kefir podem combater a hipertensão

Estudo liderado por pesquisadora brasileira constata que a ingestão do kefir, suplemento probiótico rico em vitaminas, diminui a doença em ratos. Descoberta sinaliza uma alternativa de combate à enfermidade por meio da alimentação

por Correio Braziliense Vilhena Soares 28/04/2018 16:26
A. Kniesel/Reprodução
(foto: A. Kniesel/Reprodução)

Suplemento repleto de vitaminas e probióticos — colônias de bactérias vivas que são benéficas para o sistema digestivo —, o kefir caiu no gosto de quem busca uma vida saudável e se transformou em um dos alimentos mais procurados atualmente. Melhora o funcionamento do intestino e ajuda a emagrecer. Agora, um estudo mostra que a substância fermentada também pode ajudar a combater um problema comum a grande parte da população mundial: a hipertensão. A descoberta foi feita por uma pesquisadora brasileira e apresentada durante o painel Experimental Biology 2018, durante a reunião anual da Sociedade Americana de Fisiologia (APS em inglês), realizado esta semana na cidade americana de San Diego.
A pesquisa se baseou em investigações anteriores que evidenciaram como um desequilíbrio na microbiota — colônia de bactérias do intestino — pode provocar hipertensão em algumas pessoas. Da mesma forma, os probióticos mostraram potencial na redução da pressão arterial, porém os mecanismos pelos quais esse benefício ocorre não foram totalmente esclarecidos pela ciência. “Nossa pesquisa estudou três grupos de ratos para determinar como o kefir reduz a pressão alta (hipertensão)”, explicou ao Correio Mirian Almeida, aluna de doutorado da Universidade de Vila Velha (UVV), no Espírito Santo, e autora principal do trabalho, que contou com o auxílio da pesquisadora Vinicia Biancardi, da Universidade de Auburn, nos Estados Unidos.

Na análise, os ratos foram divididos da seguinte forma: os que sofriam com hipertensão e foram tratadas com kefir; outros com hipertensão, que não receberam o suplemento; e, no terceiro grupo, os que tinham pressão normal e não se submeteram a controle. Após nove semanas de suplementação de kefir, os ratos tratados apresentaram menores níveis de endotoxinas (substâncias tóxicas), menor pressão arterial e melhor permeabilidade intestinal (intestinos saudáveis permitem a passagem de algumas substâncias, mas, geralmente, atuam como uma barreira para impedir a entrada de bactérias nocivas) quando comparados com os grupos não tratados com o suplemento.

As pesquisadoras e seus orientadores também verificaram que a suplementação de kefir — nome originário do turco Keif, que significa bem-estar ou bem viver — restaurou o equilíbrio natural de quatro bactérias diferentes no intestino dos animais, bem como de uma enzima no cérebro que é essencial para o funcionamento normal do sistema nervoso. “Nossos dados sugerem que os mecanismos anti-hipertensivos associados ao kefir envolvem a comunicação do eixo intestinal microbiota-cérebro durante a hipertensão”, escreveram os cientistas no estudo.

Pesquisador na área de nutrição e presidente do Instituto Nacional de Estudos da Obesidade e Doenças Crônicas (Ineodoc), Patrick Rocha destacou que a investigação liderada pela cientista brasileira, apesar de ter sido feita apenas com animais, mostra resultados bastantes animadores. “É um estudo de qualidade, que possui uma perspectiva positiva no tratamento de pressão alta com o kefir. Mesmo sendo conduzido em ratos, sabemos que os mamíferos possuem um metabolismo bastante similar, então, podemos acreditar que o mesmo pode ocorrer em humanos”, assinalou o especialista, que não participou do estudo.

Rocha enfatizou ainda que a pesquisa reforça uma ligação já conhecida na área médica. “Sabemos da importância da flora intestinal para o organismo humano. Chamamos o intestino de segundo cérebro porque sabemos da relação forte entre esses dois órgãos. Sabemos também que, quando temos uma flora intestinal saudável, isso pode servir como uma barreira para toxinas que  afetam o corpo. Além da pressão arterial alta, quando em equilíbrio, os microrganismos podem impedir problemas como a ansiedade e a depressão, que também estão relacionados à área neural”, frisou o pesquisador .

Elemento rico

Para Patrick Rocha, o uso do kefir na alimentação é uma opção bastante benéfica e acessível, que pode ajudar a parcela da população que sofre com a hipertensão. “O kefir é um alimento funcional, rico em bactérias saudáveis para o intestino, além de ter outras vitaminas, o que o torna mais nutritivo que um iogurte comum. A maioria das pessoas que sofre com hipertensão tem esse problema desencadeado por causa da má alimentação, come muitos carboidratos e açúcar em geral, o que causa uma inflamação no corpo. Acredito que incorporar esse alimento na rotina não é algo difícil e pode ajudar a reduzir esses riscos”, destacou o especialista.

Joana Lucyk, nutricionista da clínica Saúde Ativa, em Brasília, também disse acreditar que o kefir pode ser uma opção positiva para hipertensos. “O uso do kefir é algo muito interessante por ser barato, de fácil acesso. É interessante também esse costume de compartilhá-lo. Consumir um alimento rico como esse ajuda a eliminar as toxinas do corpo e a reduzir o açúcar. Dessa forma, ele contribui para baixar a pressão também. Quando consumido de forma natural, sem aditivos químicos, acredito que ele pode ter efeitos tão positivos quanto a vitamina C, que também é uma grande aliada no combate à hipertensão”, opinou a especialista, que não participou do estudo.

A nutricionista frisou que o cuidado com a microbiota humana é algo cada vez mais em voga na área médica, o que tem contribuído para a popularidade de alimentos probióticos como o kefir. “Sem levar em conta fatores individuais como peso e altura, sabemos que em torno de três quilos do nosso peso corporal é composto por bactérias, uma quantidade considerável que nos mostra como devemos ter um carinho especial por esses microrganismos que compõem o nosso intestino e evitar que seu desequilíbrio afete o nosso organismo”, afirmou.