

O domingo de Páscoa chegou e com ele a tentação em forma de ovos e outros doces de chocolate acende o alerta vermelho para o controle de peso. Mas, esqueça o radicalismo: ninguém precisa abrir mão da guloseima para ficar em dia com a saúde ou a dieta. Isso porque, segundo especialistas, o cacau, principal matéria-prima da sobremesa temática da data, é um ingrediente rico em antioxidantes, substância que combate os radicais livres, entre outros elementos do bem. Portanto, o consumo engorda, é verdade, mas, se moderado, também traz benefícios.
Para ficar com o melhor do doce, nutricionistas indicam que o público tenha preferência pelo consumo de produtos com mais teor da fruta, os chamados amargo, meio amargo ou extra-amargo, no lugar dos tipos ao leite ou branco, que trazem mais açúcar e gordura na fórmula. “É preciso apenas saber escolher. Optar pelos chocolates com menos gordura e menor teor de calorias é o ideal”, sugere a nutricionista Júlia Mendoza. “Os chocolates com mais quantidade de cacau, identificados como amargos, ajudam ainda no processo termogênico (acelera o metabolismo), têm muita fibra e são ricos em fitoquímicos com funções antioxidantes, ou seja, a capacidade de eliminar radicais livres responsáveis pelo envelhecimento das células. Nesse sentido, o cacau é um dos alimentos mais ricos em flavonoides”, explica. No entanto, o consumo deve ser sempre moderado, frisa a nutricionista, já que a manteiga do cacau tem quantidade de gordura mais elevada, o que torna o produto calórico.
EQUILÍBRIO
Na ponta do lápis, a nutricionista calcula que o chocolate meio amargo, um dos mais utilizados para o preparo de doces, tem 150kcal em uma porção de 30g e 603kcal para 120g. “Se consumido com moderação (dois a três quadradinhos por dia, ou seja, mais ou menos 15g), o chocolate rico em cacau pode, sim, trazer benefícios à saúde.” Concorda Karine Andrade, nutricionista clínica e especialista em tratamentos para a obesidade e sobrepeso, que destaca que o consumo de chocolate com mais teor de cacau pode ajudar no controle da pressão arterial, no aumento do desempenho físico e cognitivo, em efeitos antioxidantes e na melhora da glicemia, entre outros benefícios.
“Lembrando que tudo em excesso pode trazer prejuízos: mesmo o chocolate com maior porcentagem de cacau ainda é bem calórico (100g têm aproximadamente 500kcal - cálculo com base em um chocolate comercial com açúcar e 70% de cacau), o que pode levar a um ganho de peso”, explica. A profissional ainda alerta sobre a quantidade indicada para consumo, que deve ser de aproximadamente 30g de chocolate com no mínimo de 70% de cacau por dia.
CUIDADO

Outro queridinho do público, frisa ela, o chocolate branco é o tipo mais prejudicial à saúde por ser produzido a partir da manteiga de cacau. “Por isso, é rico em açúcar e gordura, sendo a versão menos benéfica. Em casos em que a manteiga é substituída por gordura vegetal hidrogenada, um tipo de ácido graxo que pode conter gorduras trans, o doce pode ser ainda mais nocivo à saúde”, salienta. Segundo ela, uma porção de 30g do chocolate branco equivale a 170kcal, enquanto uma barra de 120g tem 680kcal.
ALTERNATIVAS
Karine Andrade chama a atenção para os mitos em torno do tema, lembrando que é recorrente pensar que o chocolate diet não engorda. “Para compensar a falta de açúcar, muitas vezes a indústria inclui mais gordura no chocolate. Assim, o produto pode ser até mais calórico do que o tradicional”, avisa.
Para aproveitar o período sem prejuízo para a dieta e o controle de peso, Júlia indica dar preferência ao chocolate puro, sem outros recheios. Há, ainda, opções de ovos fit (feitos com ingredientes funcionais) e o chocolate derivado da alfarroba, vagem nativa do Mediterrâneo. “É a matéria-prima utilizada em substituição ao cacau: enquanto o chocolate tradicional tem 45% de açúcar, a alfarroba tem 38% e ainda apresenta sabor adocicado, o que dispensa o acréscimo de mais doce”, avisa. E vai além: “Os benefícios não terminam por aí, já que o chocolate de alfarroba não contém lactose, glúten e está livre de cafeína. Com apenas 0,7% de gordura, é um dos menos calóricos, rico em fibras e pode ser encontrado em tabletes, em pó ou na forma de bombons”.
Diferenças
Aline Lamaita, médica e membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, aponta a relação entre o consumo de tipos diferentes de chocolate e a saúde. Confira:
* Chocolate ao leite: sem quantidade significativa de cacau, o chocolate ao leite não traz benefícios à saúde. E os exageros são perigosos: “O açúcar está relacionado com a obesidade e também tem sido apontado como grande vilão para o aumento de colesterol. A gordura também favorece o aumento do colesterol e o processo de aterosclerose”.
* Amargo: o chocolate com no mínimo 70% de cacau tem efeitos anti-inflamatórios, propriedades antioxidantes, atividades antiplaquetárias, com melhora da função vascular e, além disso, está ligado a uma melhora na disposição, funcionamento cerebral e redução da vontade de comer doces.
* Meio Amargo: com concentração significativa de cacau (acima de 40%), tem mais açúcar que a versão amarga, mas também traz benefícios antioxidantes.
* Branco: produzido com manteiga de cacau, a gordura obtida das sementes durante a fabricação do chocolate, é o mais calórico e rico em gorduras. “O consumo dos produzidos apenas com óleos vegetais hidrogenados resulta no aumento dos níveis do mau colesterol (LDL) e na redução do bom colesterol (HDL). Por isso, mesmo se você optar por esse tipo de ovo de Páscoa, vale a pena dar uma olhada no rótulo”, afirma. Como é rico em açúcar e gordura, o chocolate branco também favorece a inflamação, o que pode retardar a circulação e colaborar para o aparecimento de doenças circulatórias.
* Diet: os chocolates diet também apresentam um risco, pois apresentam maior quantidade de gordura.
* Com oleaginosas: apesar de adicionar mais calorias ao chocolate, as castanhas, nozes, avelã e o amendoim, entre outros, são ricos em ômega 3, que favorecem o sistema circulatório e melhoram a qualidade da circulação. “A presença de oleaginosas pode ‘enriquecer’ o benefício nutricional do ovo de Páscoa”, finaliza.
O chocolate e a beleza da pele
Íris Flório, dermatologista especializada em estética médica, aponta as principais dúvidas entre consumo de chocolate e saúde da cútis. Confira:
O chocolate pode causar acne? Mito. O grande vilão não é o chocolate, já que o aparecimento do problema está relacionado à ingestão de alimentos que têm alto índice glicêmico ou ricos em carboidratos de rápida absorção que desencadeiam alterações hormonais.
Chocolate meio amargo é melhor para a pele? Verdade. Pequenas doses de chocolate meio amargo ou amargo, mais ricos em cacau, podem trazer benefícios à saúde. Além da energia que proporciona, o alimento melhora a circulação sanguínea, estimula o sistema nervoso central, tem antioxidantes e ainda promove a sensação de bem-estar, pois libera um hormônio chamado serotonina.
Chocolate branco é o pior para a pele? Verdade. Levando em consideração que ele é pobre em cacau, rico em açúcar e gorduras saturadas, essas altas taxas de calorias podem ser prejudiciais para o corpo.
O chocolate pode causar rugas? Verdade. Quando o chocolate é rico em açúcar e gorduras, ele pode provocar o fenômeno da glicação, que é um processo que une uma molécula de glicose com uma de proteína, como colágeno e elastina. As mesmas responsáveis por manter a pele mais jovem e firme, que instabiliza a proteína e a faz quebrar. É uma ação tão danosa quanto a dos radicais livres, promovendo a formação de rugas e acarretando em perda de elasticidade. Esse problema tem sido alvo de muitos estudos científicos, já que esses agentes podem ser encontrados nos alimentos, principalmente em dietas muito açucaradas.