Sim, precisamos falar sobre câncer. E como! Num país que começou 2018 com a previsão de surgimento de 1,2 milhão de casos da doença nos próximos 2 anos - segundo o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) -, o silêncio é fatal. Somam-se a isso as estatísticas divulgadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 25 de janeiro. A instituição estima que 8,8 milhões de pessoas morrem todo ano de câncer no planeta, mais que o dobro de óbitos provocados no mesmo período por complicações decorrentes do HIV/AIDS, tuberculose e malária combinadas.
Diretrizes da própria OMS são unânimes em afirmar que o diagnóstico precoce é a arma mais eficaz no combate à doença. Já no que se refere à qualidade de vida de quem luta contra a enfermidade, uma outra aliada vem ganhando cada vez mais espaço na medicina, a cirurgia robótica.
Disponível em Belo Horizonte há cerca de um ano, o procedimento permite a retirada de tumores de forma minimamente invasiva e com alta precisão. O resultado é um pós-operatório com menos dores, infecções, inchaços e tempo reduzido de recuperação, além de maior preservação da integridade dos órgãos envolvidos na intervenção cirúrgica.
A operação continua sendo realizada pelo médico, não por um robô autônomo, como o nome do procedimento pode sugerir.
“Intermediados pela máquina, os gestos do cirurgião ficam muito precisos porque, em primeiro lugar, os aparelhos não tremem. Depois, porque nos permitem enxergar em 3D e em dimensões aumentadas de 10 a 12 vezes. Essa exatidão faz com que o paciente sofra incisões menores e mais certeiras, que machucam menos os tecidos e deixam menos sequelas – como incontinência urinária e impotência sexual, por exemplo, muito comuns quando se trata da remoção de tumores na próstata”, explica Pedro Romanelli, urologista e presidente da Sociedade Brasileira de Urologia e da Sociedade Brasileira de Videocirurgia.
A cirurgia robótica está disponível atualmente em três hospitais da capital mineira - Felício Rocho, Madre Tereza e Mater Dei.
Habilitação
Segundo o urologista Pedro Romanelli, a cirurgia robótica favorece especialmente operações de órgãos situados dentro do abdômen (intestino, fígado, útero e ovários) e do tórax (coração, entre outros). “Não só para a retirada de tumores. Operações ginecológicas, por exemplo, como a extração de miomas, costumam ser muito bem-sucedidas”, destaca o médico, que já realizou em torno de 150 intervenções com robôs em todo o Brasil.
Comandar a Da Vinci® Xi - nome atribuído à máquina, cujo único fabricante é a americana Intuitive - exige qualificação prévia. O cirurgião que deseja operá-la deve antes passar por um treinamento de 20 horas realizado com um simulador. Depois viaja aos Estados Unidos ou à Colômbia, onde obtém um certificado. As primeiras 20 cirurgias, contudo, são realizadas com o acompanhamento de um profissional experiente.
Só depois dessa fase é que o médico é considerado apto a trabalhar sozinho. “É fundamental, porém, que ele saiba operar sem o robô e seja bom.
O sistema cirúrgico surgiu inicialmente voltado a operações a longa distância em campos de combate e outros ambientes de guerra. “Até existem casos de cirurgias comandadas em outros países ou cidades. Atualmente, no entanto, entende-se que a presença do médico ao lado do paciente e o desenvolvimento dessa relação próxima são muito importantes. Por isso, não fazemos procedimentos a distância”, ressalta o urologista.
Nos Estados Unidos e em algumas nações europeias, a cirurgia robótica é realidade há 17 anos. Ao Brasil, chegou há pouco mais de uma década, de maneira bem restrita. O Hospital Albert Einstein foi o único a oferecer o equipamento durante muitos anos. Em BH, a tecnologia está disponível desde meados 2017.
A novidade não é coberta pelos planos de saúde. O custo varia de acordo com o procedimento. Segundo Pedro Romanelli, o paciente desembolsa em torno de R$ 10 mil a R$ 15 mil. Quatro hospitais vinculados ao SUS adquiriram recentemente o equipamento: Hospital de Câncer de Barretos, Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP, Hospital das Clínicas de Barretos, Hospital da Marinha do Rio de Janeiro. “Em breve, a cirurgia robótica deve se popularizar pelo Brasil, assim como ocorreu com a videolaparoscopia (cirurgia realizada por meio de câmeras de vídeo). À medida que se popularizam, o custo vai sendo reduzido e mais gente se beneficia da tecnologia. Não estamos assim tão longe disso”, celebra Pedro Romanelli..