Enquanto não existe um remédio para combater a demência, alguns pesquisadores defendem que a abordagem nutricional pode ser uma poderosa arma contra os efeitos do Alzheimer. Um estudo preliminar apresentado na Conferência Internacional da Associação Americana de Derrame deste ano indica que uma dieta desenhada para estimular a saúde cerebral com alimentos como vegetais, frutas vermelhas, peixe e azeite ajuda a retardar o declínio cognitivo característico do mal.
A dieta Mind (um acrônimo de "intervenção mediterrânea-Dash para atraso neurodegenerativo" e que forma a palavra inglesa correspondente, em português, a "mente") combina o cardápio mediterrâneo e o Dash, sendo que esse último é focado no combate à hipertensão arterial. Idealizado pelo Centro Médico da Universidade de Rush, nos Estados Unidos, o programa alimentar foi proposto, pela primeira vez, na década passada e, até agora, há poucos trabalhos que atestem sua eficácia.
Baseada no conhecimento que se tem sobre alimentos bons para o cérebro, a Mind lista 10 itens saudáveis - folhas verdes, vegetais, nozes, frutas vermelhas (berries), feijões, grãos integrais, peixe, ave, azeite de oliva e vinho - e cinco grupos que devem ser evitados: carne vermelha e derivados, manteiga e margarina, queijo, doces e frituras/fast food. No programa, a pessoa deve comer ao menos três porções de grãos integrais, uma salada e outro vegetal diariamente, acompanhados por uma taça de vinho. Quase todos os dias, deve consumir nozes e alternar feijões. Aves e berries têm de estar no cardápio ao menos duas vezes por semana; e peixe, uma vez. Em relação aos alimentos não saudáveis, é preciso evitá-los ao máximo.
Cherian testou 106 sobreviventes para declínio cognitivo, incluindo habilidades de pensar, raciocinar e recordar. Todos os anos, os voluntários refaziam os exames (o tempo médio do estudo foi de 5 anos) e tinham monitorados hábitos alimentares, sendo divididos entre os que realmente aderiram à Mind, os que adotaram o programa moderadamente e aqueles que não levaram a dieta muito a sério. Os pesquisadores também consideraram os fatores que podem afetar a performance cognitiva, como idade, gênero, nível educacional, participação em atividades de estímulo cerebral, prática de exercício físico, tabagismo e genética.
O resultado mostrou que aqueles mais firmes no programa tiveram, no período do estudo, uma taxa de declínio cognitivo “substancialmente” menor que as pessoas que aderiram menos à dieta. Esses efeitos foram mantidos quando se consideravam os fatores de ajuste. “Acredito que a dieta Mind é uma forma de ‘sobrecarregar’ o conteúdo nutricional que ingerimos. O objetivo do programa é enfatizar alimentos que não apenas vão proteger contra doença coronariana e derrame, mas preservar a cognição à medida que são voltados à saúde do cérebro”, diz Cherian.
MAIS ESTUDOS
De acordo com ela, nutrientes como folato, vitamina E, ômega-3, carotenoides e flavonoides estão associados com taxas menores de declínio da cognição, ao mesmo tempo em que gorduras saturada e hidrogenada (como margarina) estão fortemente ligadas à demência. “Nosso estudo sugere que, se escolhermos os alimentos corretos, poderemos proteger os sobreviventes de derrame do declínio cognitivo. Esse é um estudo preliminar que, esperamos, vai ser confirmado por outros estudos. Por ora, acredito que haja informação suficiente para encorajar pacientes de acidente vascular cerebral a enxergar o alimento como uma de suas mais poderosas ferramentas para incrementar a saúde cerebral”, diz.
A principal idealizadora da dieta Mind, a epidemiologista nutricional Martha Clare Morris, afirma que, para se proteger contra o Alzheimer, o ideal é adotar essa dieta por toda a vida. “Quanto mais tempo uma pessoa consome a dieta, menor risco terá de desenvolver o mal. Assim como no caso de outros hábitos saudáveis, como a prática de exercícios físicos, você se manterá mais saudável se estiver fazendo a coisa certa por mais tempo.”
Droga é reprovada em teste clínico
Mais uma droga contra Alzheimer, que tem como alvo os depósitos amiloides no cérebro, falhou, decepcionando quem apostava na substância solanezumab, um anticorpo monoclonal, como primeiro medicamento a enfrentar a doença diretamente. Hoje, as abordagens disponíveis no mercado conseguem lidar com os efeitos do mal neurodegenerativo, mas não trabalham com as causas de uma enfermidade que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), afeta 47 milhões de pessoas.
O resultado do estudo de fase três - a última etapa de uma investigação antes de o remédio entrar no mercado - com 2.129 pacientes de Alzheimer com demência moderada foi publicado no New England Journal of Medicine e demonstrou que a substância, desenvolvida pelo laboratório Eli Lilly, não retardou significativamente o declínio cognitivo. A pesquisa era o maior ensaio clínico (realizado com humanos) focado no Alzheimer que tinha como alvo os depósitos da proteína amiloide no cérebro.
“Embora estejamos desapontados pelo fato de que essa droga, em particular, não tenha se provado bem-sucedida, o campo está se beneficiando a cada estudo”, relativizou, em nota, Lawrence Honig, professor de neurologia no Centro Médico da Universidade de Columbia, em Irving, que liderou o trabalho.
O neuropsiquiatra Otávio Castello, diretor científico da regional DF da Associação Brasileira de Alzheimer, conta que, entre 2002 e 2012, 473 ensaios clínicos com novas drogas para combater a doença foram encerrados e, desses, 280 estavam na fase 3, como o solanezumab. “Nesses 10 anos, esses ensaios foram parar na lata de lixo. Esse custo é de US$ 1 trilhão em pesquisas.
De acordo com o médico, resultados preliminares indicam que outra droga em avaliação, o aducanumab, é promissora, mas os estudos estão na fase 2. “Só devemos ter mais resultados no fim de 2019, início de 2020. Para este ano não há nada”, afirma. Para Castello, porém, o insucesso das drogas que têm o depósito de proteínas amiloide no cérebro não significa que a hipótese que associa o Alzheimer ao acúmulo da substância deva ser descartada. “O fracasso das drogas como o aducanumab é tão retumbante que há cientistas que andam perguntando: ‘Será que a teoria amiloiode realmente explica a doença de Alzheimer?’. Mas ela ainda é válida, ainda é a mais aceita. Ainda há frentes novas de entendimento da própria teoria, que precisam ser investigadas.” .