O que o clássico Branca de Neve tem a ver com a realidade alimentar do brasileiro? Ativistas e entidades como a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) garantem que a maior parte da produção agrícola que chega à nossa mesa é tão envenenada quanto a maçã que a bruxa oferece à princesa na história infantil. Sim, o país lidera o ranking mundial no consumo de agrotóxicos, com o alarmante volume de 7,3 litros ingeridos anualmente por pessoa, em média, por meio de grãos, legumes, verduras e frutas contaminados, segundo levantamento com dados divulgados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Alimentos livres de agrotóxicos em BH
Confira os endereços e datas das feiras e outros pontos de venda de orgânicos e agroecológicos na cidade:
» Feiras de orgânicos da prefeitura
Terças-feiras, das 7h às 12h
• Avenida Paulo Camilo Pena, 400, Belvedere
• Rua Cláudio Manoel, entre as avenidas Getúlio Vargas e Afonso Pena, Funcionários
• Rua Grajaú com Avenida Francisco Deslandes, Anchieta
• Barragem Santa Lúcia, ao lado da Praça República do Líbano, São Bento
Quartas-feiras, das 7h às 12h
• Avenida Guaicuí esquina com Rua Felipe Drummond, Luxemburgo
Sextas-feiras, das 7h às 12h
• Praça JK – Avenida dos Bandeirantes, Mangabeiras
• Rua Grajaú com Francisco Deslandes, Anchieta
• Avenida Professor Mario Werneck esquina com Rua Marco Aurélio de Miranda, Buritis
• Avenida Alberto Dalva Simão com Avenida Santa Rosa, São Luiz, Pampulha
Sábados, das 7h às 12h
• Avenida Alberto Dalva Simão com Avenida Santa Rosa, São Luiz, Pampulha
» Feira Terra Viva
Terças-feiras e sábados, das 9h às 13h
• Rua Pouso Alegre, 1.911, Santa Tereza
» Casa Horta/Espaço Be Green
De segunda-feira a sábado, das 8h às 21h; domingos e feriados, das 8h às 20h
• Rua Professor Octaviano de Almeida, 36, Santa Efigênia
» Feira da Agricultura Urbana do Baixo Onça
Quinzenalmente, aos sábados, das 8h às 11h, no pátio da Igreja Santa Rita de Cássia
• Rua Serra da Boa Esperança, 91, Conjunto Ribeiro de Abreu
A prática de lançar mão de adubos e defensivos químicos também prejudica o trabalhador rural e polui a água, o ar, o solo, o meio ambiente em geral, como afirma Marilda Magalhães, engenheira-agrônoma e coordenadora da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, regional Minas Gerais. “Temos dados científicos, também baseados em experiência de agricultores e em estudos de casos que comprovam que em nenhum momento o uso do agrotóxico é seguro. Sabemos que é difícil mudar o comportamento, mas somos terminantemente contra o consumo de alimentos cultivados dessa forma tradicional e extremamente prejudicial à saúde humana e à natureza e temos trabalhado em diversas frentes para transformar essa realidade”, destaca.
A boa notícia é que, graças ao esforço de comunidades, entidades e iniciativas que pregam o cultivo agroecológico e orgânico como ideal, a oferta de alimentos limpos vem deixando o status gourmet para se tornar uma realidade que vem crescendo e se popularizando no país. Só aqui, em Belo Horizonte e região metropolitana, há dezenas de alternativas para a compra de produtos livres de veneno - entre elas a sofisticada fazenda urbana BeGreen, feiras promovidas pela prefeitura em diversos bairros e regiões, iniciativas que agregam produtores agroecológicos como a Rede Terra Viva - com exposição e venda de produtos às terças-feiras e aos sábados, no Bairro Santa Tereza, Região Leste da cidade.
Também são importantes os esforços de coletivos de produtores que cultivam de forma alternativa e disseminam entre o público e os pares práticas para a produção sustentável, como a comunidade Roots Ativa e a horta comunitária da Igreja Santa Rita, coordenada por Júlia Machado Amaral, uma senhora de 64 anos que se apaixonou pelo cultivo urbano quando passou por treinamento contra o uso de químicos na lavoura e, hoje, “planta saúde” e hortaliças como alface, espinafre, rúcula e muito mais.
Invista em saúde
Adubos, inseticidas, herbicidas e fungicidas utilizados nos alimentos provocam danos ao organismo. Apesar de mais caros que os produtos tradicionais, há quem não abra mão da segurança alimentar
Todas as terças-feiras, a escritora Mírian Cintra faz compras na feira Terra Viva, projeto que reúne dezenas de produtores agroecológicos. Nas barraquinhas recheadas com o cultivo agroecológico de pequenos produtores ela escolhe verduras, legumes, frutas e grãos. “Gosto da minha saúde, de me cuidar e descobri a feira em pesquisas em busca de alimentos saudáveis.” Sim, ela paga um pouco mais caro que o cobrado na oferta do sacolão e supermercados convencionais, mas não reclama. “Sei que a produção sem uso de químicos é mais demorada, trabalhosa, por isso o preço. Porém, prefiro gastar mais um pouco com a minha alimentação a ingerir produtos contaminados com veneno, principalmente aqueles mais carregados, como tomate, berinjela, morango e pimentão, o que é muito grave”, denuncia.
A consumidora está certa. Engenheira-agrônoma e membro da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, Marilda Magalhães lembra que adubos, inseticidas, herbicidas e fungicidas têm agentes químicos que se acumulam no organismo. Sulfatos, por exemplo, além de organoclorados e outros. “Pesquisas já comprovaram que o glifosato, inserido no herbicida conhecido comercialmente como Roundup, está relacionado à incidência de diversos tipos de câncer.”
Esses e outros dados são compilados no Dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), documento-denúncia que descreve, por meio de dados técnicos, a realidade assustadora do consumo e consequências do uso de agrotóxicos no país para a saúde humana e do meio ambiente. Outros dados alarmantes estão publicados em estudos como Geografia do uso de agrotóxicos no Brasil e conexões com a União Europeia, da pesquisadora Larissa Mies Bombardi, do Laboratório de Geografia Agrária da Universidade de São Paulo. O documento revela que dos 504 agrotóxicos de uso permitido no país, 30% são proibidos na União Europeia - alguns há mais de uma década. Pior: esses mesmos itens vetados estão no ranking dos mais vendidos por aqui. Exemplo é o acetato, tipo de inseticida usados nas plantações de cítricos.
O alto índice de contaminação por agrotóxicos e outros agentes químicos na dieta do brasileiro também é o principal alvo de campanhas defendidas por André Campos Búrigo, sanitarista da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/Fiocruz e membro do Grupo Temático Saúde e Ambiente da Abrasco. “Pelos dados inferidos em 2013, quando o Ibama publicou as últimas estatísticas a respeito da venda de agrotóxicos no país, estudos concluíram que o brasileiro consome em média 7,3 litros de veneno por ano, contra 5,2 de estudo baseado em dados de 2011. Com isso, afirmamos que o consumo de agrotóxico vem crescendo mais que a população, dado que nos ajuda a perceber que o problema é grave e tem crescido de forma veloz.”
MOBILIZAÇÃO
Apesar da gravidade do quadro, e de toda a dificuldade para ir contra a lógica do agronegócio tradicional, um setor tão poderoso no país, o ativista e pesquisador registra que a população vem se conscientizando, se mobilizando, e conta cada vez mais com a força de movimentos contrários ao cultivo convencional. “A partir de 2008, ano em que passamos a liderar o ranking mundial de uso de agrotóxicos, muitos debates estão sendo organizados, inclusive com repercussão na grande mídia. Isso vem gerando reflexos por todo o país, as pessoas estão procurando orgânicos e agroecológicos. É fato que ainda não temos oferta na proporção necessária, até porque faltam políticas públicas de incentivo à produção limpa. Mas um indicador mostra que estamos virando a chave: a maior procura por produtos livres de veneno.”
Os mais contaminados
Em novembro do ano passado, a Anvisa divulgou a lista dos alimentos mais contaminados por agrotóxicos no país. Segundo o órgão, foram analisadas quase 2.500 amostras de 18 tipos de alimentos pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos de Alimentos. Cerca de um terço dos vegetais mais consumidos no Brasil apresentara nível de agrotóxico acima do aceitável, segundo os critérios de análise que identificaram a presença de agrotóxicos acima do nível permitido e a presença de agrotóxicos não autorizados para o tipo de alimento. Confira:
1) Pimentão - 91,8%
2) Morango - 63,4%
3) Pepino - 57,4%
4) Alface - 54,2%
5) Cenoura - 49,6%
6) Abacaxi - 37,8%
7) Beterraba - 32,6%
8) Couve - 31,9%
9) Mamão - 30,4%
10) Tomate - 16,3%
Para assistir:
O veneno está na mesa I e II - documentários do cineasta Silvio Tendler, que trazem o relato de especialistas e agricultores e colocam em xeque o modelo de produção de alimentos.
Manejo sustentável
Iniciativas de produção agrícola sem uso de agrotóxicos se espalham em BH e região e crescem 30% ao ano no país, mas apenas 15% da população tem o hábito de consumir
Marcone Gonçalves Xavier, sócio-proprietário da Fazenda Vista Alegre, em Capim Branco, Região Metropolitana de Belo Horizonte, cultiva a terra há 40 anos. Conta que resolveu migrar para o manejo sustentável, sem uso de agrotóxicos, há 18, “para proteger a saúde da própria família”, como afirma, e de olho em uma tendência de mercado: a possibilidade de novos negócios. Buscou a certificação e, atualmente, trabalha com cerca de 40 produtos, com forte em hortaliças e tubérculos, comercializados em feiras da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e por meio de venda direta, tanto delivery quanto em lojas e outros pontos. “A transição não é fácil, foi preciso acreditar muito e comprar a ideia, mas, hoje, a fazenda só opera no sistema orgânico e é referência em Minas”, orgulha-se.
O preço que os produtos são vendidos ao consumidor final “varia de acordo com a oferta sazonal”, lembra ele, mas, em média, o pé de alface custa R$ 3,50. Já o quilo do tomate é mais salgado, na casa dos R$ 14. “Hoje, o preço é alto, porém, acredito que, aumentando a oferta, com mais produtores e escala maior de produção, tende a baixar. Seria ótimo atender a um público maior.”
Rogério Carvalho Fernandes, engenheiro-agrônomo e gerente de certificação do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), cita o crescente nos números. “Tem havido bastante interesse no mercado de orgânicos, que cresce 30% ao ano no país. Além disso, há o valor agregado - o que significa que o produto é, em média, 30% mais caro que o convencional -, além da própria filosofia do negócio, que pratica o desenvolvimento sustentável e o respeito ao meio ambiente.”
Ele afirma que o processo de certificação abrange todo o território nacional, mas lembra que nem todos os produtores dependem do selo para comercializar a produção. “Há diferentes níveis de certificação. Para venda em supermercados é necessário o selo e a certificação com dois tipos de controle. Já para vender em feiras livres ou por meio da venda direta o selo não é necessário, apenas o cadastro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a vinculação a organizações de controle social, mecanismos de regulação vinculados ao Mapa”, avisa.
CENÁRIO NACIONAL
O técnico afirma que no Brasil há 16 mil produtores de orgânicos certificados, dos quais 12 mil comercializam no grande varejo. Em Minas, são 483 produtores certificados e 133 vinculados a organização de controle social. No entanto, apenas 15% da população do país consome orgânicos, de acordo com levantamento feito pelo Conselho Brasileiro de Produção Orgânica e Sustentável, enquanto nos EUA o número sobe para 82% da população. “Nos EUA, o mercado tem faturamento anual em torno dos US$ 50 bilhões, indicativo de que ainda temos muito a crescer. Hoje, acredito que quem não consome produtos orgânicos não o faz pelo preço, que varia de acordo com a lei da oferta e da procura, ou por ainda não estar consciente dos seus benefícios.”
Detalhe importante é que há alternativa de pagar mais barato também consumindo produtos cultivados sem o uso de venenos na lavoura. Trata-se da opção pelos agroecológicos, como explica Cristiana Guimarães Alves, geógrafa, educadora popular e integrante da Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana (Amau). “O que falta é o acesso à informação. O orgânico ficou bastante gourmet, mas insisto que pagar R$ 15 por um quilo de tomate não é acessível. No entanto, há produtores agroecológicos que conseguem vender a R$ 5. Então, há possibilidades, apesar de existir um grande entrave político. Para mudar a história, precisamos falar para o público onde é possível comprar tais produtos, incentivar o cultivo em pequenos espaços, em hortas comunitárias, insistir na capacitação de produtores. E pressionar o governo para que os pequenos produtores tenham os mesmos incentivos de quem produz com agrotóxicos.”
Cristiana conta que desde 2013 participa do grupo Aroeira, da UFMG, uma das mais antigas extensões em agroecologia em universidade do estado, por meio da qual está inserida na realidade do produtor. “Importante lembrar que o produto agroecológico tem cunho social e funciona com base no tripé ambientalmente sustentável – economicamente viável para quem compra e para quem produz – socialmente justo. Acreditamos que saber a origem da alimentação e defender os pequenos produtores é um ato político. Nesses cultivos não há nenhum tipo de agroquímico e a fertilização do solo é biológica”, aponta.
Ativista, Cristiana lembra que os nichos de agricultura urbana aproximam o produtor do público final e fortalecem a resistência contra o uso abusivo de agrotóxicos no país. “Acompanhamos os grupos, fazemos reuniões periódicas, participação em editais, caravanas e outras iniciativas. Contabilizamos quase 14 anos de Amau, acompanhando em média 25 núcleos de agricultura em BH e na região metropolitana.”
Exemplos de produção agroecológica em BH
No bairro Ribeiro de Abreu, Júlia Machado, de 64 anos, comanda a horta instalada no terreno da Igreja Santa Rita. “Comecei plantando em casa para vender no bairro, onde não encontrávamos hortaliças, mas me apaixonei mesmo quando conheci técnicas agroecológicas, sem uso de agrotóxicos, em curso promovido pela Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas. Hoje, coordeno o espaço de 800 metros quadrados e estou ensinando à comunidade o valor de comer produtos mais saudáveis e plantas alimentícias não convencionais (Pancs) como azedinha, pepininho, maria-gondó e serralha”. Dona Júlia conta que chega a comercializar mais de 50 pés de alface por mês, ao preço de R$ 2. “Não vivo disso, mas vejo vender saúde como uma coisa boa demais. Tudo de bom que tenho, as amizades que fiz, foi na lida com a terra, no prazer de mexer com a horta diariamente, no contato direto com a natureza e com o público.”
Fernando Rangel, secretário-executivo da Rede Terra Viva, associação que agrega pequenos produtores agroecológicos em duas feiras semanais, apresenta o conceito do grupo. “Trabalhamos com a média de 40 empreendimentos administrados por cerca de 100 famílias, a maior parte instalada na RMBH, como os grupos Frutos da União, Ribeiro de Abreu e Roots Ativa, entre outros. Não temos selo ou certificado, mas acompanhamento técnico agroecológico da ONG Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas, que atua na Região Metropolitana de BH e Leste de Minas. Aqui, há diversidade de frutas, hortaliças, legumes, cogumelos, além de geleias, linhas funcionais e especiais de produtos artesanais com ingredientes agroecológicos como pães e bolos.”
Rangel lembra que o preço de produtos varia de acordo com a sazonalidade, mas costuma ser mais barato que a média cobrada pelos certificados. “Exemplo é o pé de alface, que custa R$ 5 no supermercado, de R$ 3 a R$ 3,50 no mercado de orgânicos e, aqui, de R$ 2,50 a R$ 3.” O espaço comercializa ainda mudas e oferece almoço macrobiótico. “Somos um movimento social, dialogamos com outros movimentos referência em economia solidária e em agroecologia e estamos participando com agentes do governo e da sociedade civil da construção do selo Sistema Participativo de Garantia da Produção (SGP), uma alternativa para reconhecer a produção agroecológica de pequenos produtores.” O movimento de fregueses, conta Rangel, é maior aos sábados, e vem crescendo.
EQUILÍBRIO NATURAL
Participante do Roots Ativa, comunidade rastafári que trabalha com agroecologia e permacultura no Aglomerado da Serra, Região Centro-Sul de BH, Alice Kinast comercializa na feira de Santa Tereza mudas de manjericão e peixinho-da-horta, além de adubo orgânico, incentivando o público a plantar em casa. Outro membro da comunidade, Thiago Lopes de Melo trabalha há 12 anos com o planejamento de espaços sustentáveis, com foco no desenvolvimento da periferia. “Começamos a produzir para ter ingredientes para vender sanduíche, mas o negócio cresceu com a produção de agroecológicos e soluções de cultivo e manejo sustentável e, hoje, envolve nove pessoas diretamente. Sustentamos a comunidade e vendemos o excedente. Só de não comprar fora estamos ganhando dinheiro, mas nosso principal objetivo é gerar consciência”, acredita.
Caminho saudável
Falta de informação e preço ainda são os maiores empecilhos para o consumo de alimentos livres de veneno. Campanha de conscientização visa reconectar as pessoas com a origem dos produtos
Nutricionista, Elizabeth Menezes sabe dos riscos do consumo de agrotóxicos e adotou, há anos, o hábito de frequentar a feira Terra Viva para fazer a compra da semana. “Compro para a minha casa e para os meus pais e sogros. Além de hortaliças e vegetais, encontro arroz, cúrcuma, sementes de girassol e outros produtos.”
Alice Machado da Silva, bióloga, de 39 anos, é cliente da Casa Horta, núcleo de distribuição de produção agroecológica associado à fazenda Be Green. “Há bastante tempo tento comprar só orgânicos, mas no supermercado ainda são muito caros, o que não é compatível com meu salário. Então, conheci o agroecológico e achei ainda mais interessante, já que, além de abolir o agrotóxico, eles promovem o cuidado com o meio ambiente e com as pessoas que estão produzindo. Hoje, as minhas compras de verduras são feitas basicamente lá. Acredito que o principal empecilho para que a população consuma mais alimentos livres de veneno ainda é a falta de conhecimento da quantidade de agrotóxico que os produtos têm e o preço, mas a tendência é aumentar a oferta e baratear. E isso por haver mais procura: eu, por exemplo, não como morango e pimentão de origem convencional de jeito nenhum.”
Sócia de Fernanda Rocha Vidal na Casa Horta, a engenheira de produção Clara Santiago Lacerda reúne no espaço a produção agroecológica e orgânica de hortifrútis de mais de 200 famílias de agricultores de oito regiões de Minas Gerais, além de um empório com produtos de agricultura familiar de todo o país. “A ideia de montar o negócio surgiu quando já queríamos consumir alimentos livres de agrotóxicos, mas tínhamos muita dificuldade em encontrar produtos a preços acessíveis. Daí apareceu a oportunidade de fazer a parceria com a BeGreen e montamos a loja, em que tudo o que está à venda é agroecológico, não necessariamente orgânico, já que para muitos agricultores o selo não faz sentido, mas, sim, a certificação social. Com isso, hoje oferecemos mais de 1,2 mil itens com preços cerca de 30% abaixo do praticado em lojas especializadas e supermercados”, garante. Para exemplificar, ela cita alguns: molho de couve a R$ 3,90, banana prata a R$ 6,80 (o quilo), tomatinho cereja a R$ 6,90 (pacote de 300g) e batata-doce a R$ 7 o quilo.
“As pessoas ainda veem o consumo de alimentos sem agrotóxicos como uma coisa distante, inacessível, mas aos poucos estão entendendo o contexto. Pense bem: o produto que está por R$ 0,99 no sacolão, que já passou pelo centro de distribuição, gera o que de retorno para o produtor? E aí ele é obrigado a usar adubo químico e agrotóxico para ganhar em escala, não pode ter perdas, e acelera a produção com os adubos químicos. Na loja, tentamos explicar esse contexto, esse preço que não consegue incentivar a produção de maneira agroecológica, respeitando a natureza. Com isso, muita gente passou a consumir porque gostou do sabor, da ideia e entendeu o porquê de o preço ser diferente daquele praticado no mercado comum”, afirma Clara.
Integra a oferta da Casa Horta a produção de hortaliças da fazenda urbana BeGreen, empreendimento do empresário Pedro Graziano, administrador de empresas. “De olho em conceitos como inovação, eu o meu sócio, Giuliano Bittencourt, tivemos a ideia de sair da zona rural, trazendo a fazenda para a cidade, o que diminui gastos com logística e atravessadores”, conta.
Na fazenda, localizada no Shopping Boulevard, ele produz no sistema aquapônico (com a ajuda de um tanque de tilápias encarregadas de nutrir a água) em média de 40 mil pés de hortaliças e 2 mil potinhos de brotos por mês, incluindo alface, espinafre, rúcula, agrião, beterraba, ervas e temperos como salsinha, cebolinha, coentro, manjericão, tomilho, sálvia e basílico, entre outros. “Não usamos defensivos ou agrotóxicos”, afirma. Graziano também se orgulha do preço, que considera mais barato que os orgânicos tradicionais. “Dois pés de alface são vendidos a R$ 4,99, na cestinha. São menores que o convencional, mas com densidade e peso equivalentes, com até 80 folhas cada.” Já o maço de temperos custa R$ 2,99 e o potinho de brotos, R$ 4,99. “O tempo está demonstrando que foi uma ideia muito feliz. Hoje, 90% da produção já está comprometida, não consigo abrir mais clientes ou vender para mais longe. O projeto também vem chamando a atenção de escolas, grupos e famílias, que aproveitam as visitas guiadas que oferecemos para conhecer a ideia, numa campanha de conscientização que visa reconectar as pessoas com a origem dos alimentos para que saibam onde produz e de que maneira. Esse é o caminho para uma alimentação mais saudável”, acredita.