O sistema imunológico dos seres humanos tem mecanismos extremamente complexos, responsáveis por defender o nosso corpo do ataque de todo tipo de inimigos nocivos à saúde. Entre esses inimigos estão os vírus, bactérias e também as células cancerígenas. Sempre que surge uma dessas células o nosso sistema imune a identifica como um antígeno (agente estranho ao nosso corpo) e inicia diversos mecanismos para combatê-la. No entanto, segundo Pedro Ribeiro Santos, oncologista clínico, membro do corpo clínico do Biocor Instituto, nem sempre esse combate é eficaz, surgindo assim os cânceres.
“A imunologia e a oncologia estão ligadas desde o século 19, quando Willian Coley, cirurgião e pesquisador americano, verificou que a injeção de bactérias diretamente em um tipo de tumor fazia com que ele diminuísse de tamanho. Isso se deve ao fato de que as bactérias criam uma grande resposta inflamatória no local, convocando nosso sistema imune a combatê-las e, consequentemente, o câncer”, explica Pedro Ribeiro.
O especialista observa que, desde então, a imunoterapia foi muito estudada, mas com pequenos avanços. “Nas décadas de 80 e 90, surgiram medicações com eficácia moderada e muitos efeitos colaterais. Mas, felizmente, esse cenário mudou com o surgimento de novas classes de imunoterápicos a partir de 2011.”
De maneira diferente da quimioterapia, que combate diretamente as células do câncer, Pedro Ribeiro ressalta que os imunoterápicos modernos atuam desativando os “freios” do sistema imune. Isto é, eles potencializam a resposta inflamatória, fazendo com que os tumores sejam mais duramente combatidos pelo próprio organismo. “E o mais interessante é que, como o nosso sistema imune tem uma memória, as respostas positivas costumam ser duradouras. Infelizmente, nem todos os pacientes se beneficiam dessa terapia e o desafio é identificar aqueles que irão desenvolver uma boa resposta.”
Normalmente, os efeitos colaterais são mais leves do que os causados pela quimioterapia. Ainda assim, pode haver efeitos mais intensos, principalmente com inflamações de tecidos saudáveis do corpo, como pneumonite, tireoidite e colite (inflamação dos pulmões, tireoide e intestino, respectivamente).
Segundo Pedro Ribeiro, a imunoterapia já é utilizada em diversos tipos de cânceres, como melanoma, câncer de pulmão, bexiga, rim e linfoma de Hodgkin, entre outros. “Atualmente, existem diversos estudos clínicos em andamento visando identificar outros tipos de cânceres que podem ser tratados com a imunoterapia e também selecionar os pacientes que responderão melhor a esse tratamento”, observa.
Outro desafio, segundo o especialista, é tornar esse tratamento mais acessível. “O custo ainda é muito alto tanto no Brasil quanto no exterior, sendo fundamental o uso racional dessa nova tecnologia.”Com tantas novidades surgindo no combate ao câncer, fica cada dia mais forte a esperança de encontrar a terapia perfeita que una eficácia, qualidade de vida e acessibilidade.
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