A partir da adolescência, as mulheres sofrem mais com o risco de ter asma do que os homens. Estudo desenvolvido no Centro Médico da Universidade de Vanderbilt, nos Estados Unidos, sugere que os hormônios sexuais podem ser os responsáveis por essa diferenciação. A pesquisa, publicada recentemente na revista Cell Reports, mostra que a testosterona, o principal hormônio sexual masculino, impede a expansão de um grupo de células que causam inflamação e produção de muco nos pulmões, sintomas marcantes da asma.
Como outros estudos mostram que, durante a infância, a doença respiratória é mais frequente em meninos do que em meninas, os pesquisadores decidiram relacionar a inversão da vulnerabilidade com a chegada da adolescência. “Essa mudança parece ocorrer por volta da puberdade, sugerindo que hormônios sexuais podem exercer papel importante, modulando a inflamação associada com a asma”, afirma Dawn Newcomb, líder da nova pesquisa.
O trabalho, que foi feito com células humanas e de ratos simultaneamente, mostrou que a circulação de células linfoides inatas (ILC2), que têm papel importante na imunidade e na regulação da inflamação pulmonar, é maior em mulheres com asma do que em homens asmáticos. As ILC2 produzem citocinas, proteínas que causam inflamação e produção de muco nos pulmões. A desregulação dessas células pode levar à alergia e doenças autoimunes.
Os pesquisadores descobriram também que a testosterona evita que as ILC2 se espalhem pelos pulmões, reduzindo, assim, a produção de citocina e diminuindo as chances de surgimento da asma.
Mesmo que os hormônios tenham papel importante na regulação do sistema imunológico, especialistas ressaltaram que esse não é o único mecanismo pelo qual as mulheres têm mais incidência de asma. “O fato de a testosterona aparentemente exercer um efeito protetor para a expressão de asma nos homens não quer dizer que tenha a mesma ação em mulheres, pois há diferenças no comportamento fisiológico entre ambos”, diz Ricardo Martins, professor da Universidade de Brasília (UnB) e pneumologista do Hospital Universitário de Brasília (HUB).
Dawn admite que o aumento de testosterona em homens não é a única explicação para a diminuição da prevalência de asma em homens comparados às mulheres. “Muitos outros fatores são importantes a considerar”, diz a pesquisadora, sem detalhá-los. Rafael Stelmach, professor e pneumologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), aponta outro mecanismo.
De acordo com o médico, há ainda estudos que mostram que o ciclo menstrual pode estar vinculado ao desencadeamento das crises. “Existe uma piora dos sintomas de asma no período pré-menstrual, mas isso acontece com poucas mulheres. No período menstrual, ocorre a mudança de ciclo da mulher. Por isso, uma mudança hormonal. Essa transformação hormonal também pode explicar o que essa autora quer comprovar”, sugere.
Vigilância
Apesar de não sofrer com os efeitos da asma pré-menstrual, Adriana Lemos, de 37, vigia a asma o tempo inteiro. A auxiliar de serviços gerais descobriu a doença quando se mudou para Brasília, em 2001.
A filha mais nova de Adriana, Jéssica, de 6, também tem a doença, mas, ao contrário da mãe, que precisa tomar o remédio regularmente e ter acompanhamento do pneumologista, a menina só precisa se cuidar quando “a asma está atacada”. “A dela é mais puxada para alergia a poeira, enquanto a minha me impossibilita até mesmo de correr. É difícil, porque o medicamento que uso é muito caro e nem consigo pegar mais na rede”, lamenta.
Novos testes
Um novo desafio a ser trabalhado e que não foi respondido pelo estudo norte-americano é a vulnerabilidade da asma em mulheres na menopausa. O estudo sugere que esse quadro vai começando a cair quando os ciclos menstruais se encerram. Mas Stelmach questiona esse resultado.
A equipe comandada por Dawn Newcomb ressaltou que novos estudos precisam ser feitos para entender a fundo a relação entre os hormônios sexuais e a asma, mas que os resultados atuais abrem caminhos para essas investigações. Segundo a autora, entender como essas substâncias regulam a inflamação associada com a doença respiratória é importante para o desenvolvimento de novas abordagens e a identificação de quais pacientes responderam melhor à determinada terapêutica.
* Estagiária sob a supervisão da subeditora Carmen Souza.