Pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, sigla em inglês) anunciaram o sucesso de uma vacina contra o vírus zika, micro-organismo que, em gestantes, provoca anomalias irreversíveis no feto em desenvolvimento. Eles descreveram, na revista The Lancet, os resultados promissores de estudos clínicos de fase 1 - que asseguram a tolerância a um tratamento em humanos -, realizados em três centros norte-americanos. Antes, a substância havia sido testada em animais.
“Precisamos urgentemente de uma imunização para prevenir a infecção por zika, um vírus que pode causar defeitos no nascimento e outras anomalias de desenvolvimento em bebês nascidos de mulheres infectadas, assim como uma constelação de outros problemas de saúde em adultos e crianças”, disse, em nota, Anthony S. Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid), braço do NIH que desenvolveu a substância descrita na The Lancet. “Estamos muito confiantes com esses primeiros resultados que indicam que a vacina ZPIV é segura e imunogênica”, completou.
ZPIV é a sigla para vacina de zika com vírus purificado e inativado, nome da nova substância. Os resultados mostraram que, além de bem tolerada pelo organismo, ela conseguiu desencadear uma resposta imunológica contra o vírus, ou seja, passou no teste da segurança e se mostrou capaz de proteger contra o patógeno. A vacina contém partículas do zika que foram inativadas e, portanto, não podem replicar e causar doenças.
Dos 67 participantes dos três estudos iniciais de fase 1, 55 receberam a vacina e 12 ficaram no grupo do placebo. A ZPIV foi administrada com um adjuvante (composto que ajuda a induzir uma resposta imune ainda mais forte) contendo sais de alumínio. Todos os voluntários tomaram duas injeções intramusculares com a mesma dosagem, administradas com um intervalo de quatro semanas. Os ensaios foram duplo-cego, significando que nem os pesquisadores nem os participantes sabiam quem estava com o placebo.
Periodicamente, foram retiradas amostras do sangue dos voluntários. Em mais de 90% dos indivíduos que, de fato, receberam a vacina, detectaram-se os anticorpos do zika até quatro semanas após a última dose. Embora não tenha sido determinada ainda qual a concentração de anticorpos necessária para combater a infecção congênita, estudos com animais estão ajudando a levantar algumas pistas. Os pesquisadores investigaram o possível mecanismo de proteção vacinal transferindo os anticorpos dos participantes imunizados para ratos e, em seguida, infectando os animais com o vírus. Os resultados indicaram uma proteção robusta contra a viremia (vírus detectados na corrente sanguínea).
Com a segurança testada, o Niaid está liderando um esforço internacional para avaliar a vacina em um estudo de fase 2, quando, além da tolerabilidade, os pesquisadores se concentrarão na eficácia da substância. “Logo após os primeiros relatos de que a infecção por zika durante a gestação pode levar a defeitos congênitos, os cientistas do Niaid criaram uma das primeiras vacinas experimentais contra a doença, usando uma plataforma baseada em DNA, e iniciaram os estudos menos de um ano depois. Agora, começamos os testes de fase 2 desse candidato, para determinar se ele pode prevenir contra a infecção, e os promissores dados da fase 1 dão apoio a esse desenvolvimento”, afirmou Anthony S.
BRASIL
Atualmente, os NIH testam outras imunizações em potencial contra esse micro-organismo nos Estados Unidos e nas Américas Central e do Sul. No Brasil, o Instituto Evandro Chagas (IEC), no Pará, anunciou, para o próximo ano, os primeiros testes com humanos de uma vacina contra o zika. A busca por uma fórmula eficaz de proteção mobiliza cientistas pelos efeitos do zika no organismo e pelo seu avanço rápido. Desde 2015, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 70 países e territórios das Américas, África, Ásia e Pacífico Ocidental têm relatado casos de infecção.
O IEC, em parceria com a Universidade do Texas, demonstrou, há três meses, que uma vacina contra o zika pode proteger os fetos rapidamente, além de evitar infecções e danos testiculares em machos que tiveram contato com o vírus. Os testes foram realizados em primatas não humanos, e o resultado foi descrito em artigo publicado na revista Nature Communications. Estudos anteriores mostraram que homens infectados e que não têm sinais da doença podem ter contagem de esperma reduzida. O vírus também se mantém no sistema reprodutivo masculino por muitos meses, o que aumenta o risco de transmissão sexual.
A vacina de dose única é feita com vírus vivo atenuado e deve ser testada em humanos no ano que vem.