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Exponha-se, mas não se queime

Campanha alerta para a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de pele

- Foto: Valdo Virgo/Ilustração
Sol. Essa estrela traz grandes benefícios à saúde. Ativa a produção de vitamina D, o que aumenta os níveis de cálcio - fundamental para a saúde dos ossos -, alivia a depressão, melhora a qualidade do sono, protege o organismo contra algumas doenças, entre elas as autoimunes, como artrite reumatoide e esclerose múltipla, já que ajuda a regular a imunidade, e deixa a pele bronzeada (queimada conforme os médicos!), o que é a busca estética de muitos. Por outro lado, também é sinônimo de grandes riscos e perigos. O principal deles é o câncer de pele, provocado pelo crescimento anormal das células que compõem a pele.

O verão vem aí e o alerta foi ligado para todos aqueles que se expõem constantemente aos raios solares, seja na rotina profissional, no dia a dia ou por puro lazer e prazer (ainda que independa da estação!). Com a mensagem “Exponha-se mas não se queime”, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) lança a campanha Dezembro Laranja enfatizando a importância de hábitos cotidianos ligados à prevenção da doença. De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), todos os anos surgem mais de 176 mil casos de câncer da pele, o de maior incidência no país.



Em seu quarto ano, qual seria a importância da campanha Dezembro Laranja (é a 18ª edição do Dia Nacional de Prevenção ao Câncer da Pele)? Joaquim Mesquita, coordenador da campanha nacional de prevenção ao câncer de pele da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), avisa que “o propósito é diagnosticar e encaminhar pacientes o quanto antes para tratamento e, claro, prevenir e orientar a população sobre sinais, proteção e meios de exposição. Orientar é importante e, como vivemos na era da informação, que é fácil, ágil e chega cada vez mais rápido a todos em várias plataformas, é fundamental promovê-la. Lembrando que, mesmo fazendo diagnóstico antecipado, precoce, o câncer de pele também mata”.

A exposição até os 18 anos é a mais prejudicial à saúde. Portanto, o dermatologista Joaquim Mesquita alerta sobre a importância de incentivar e ensinar crianças e adolescentes sobre os principais hábitos de fotoproteção. O que é da alçada dos pais e responsáveis. “Há os efeitos imediatos da radiação, como vermelhidão, bolhas e queimadura, e o resultado a longo prazo, que está no DNA da célula.
A pessoa se expõe ao Sol e o câncer de pele pode aparecer 20, 30 anos depois (o que não significa que não possa dar sinal antes). Por isso, a maior incidência é aos 40, 50 anos. Portanto, cuidar da proteção na infância e na juventude é essencial. É preciso proteger os filhos.”

A SBD desenvolve o movimento Dezembro Laranja com a promoção de uma série de iniciativas de conscientização sobre a prevenção e o diagnóstico precoce da doença, incluindo a importância da fotoproteção para a redução dos riscos. Pela primeira vez, a campanha continua durante todo o verão com diferentes ações na internet, ruas, praias e parques do país. Outra preocupação deste ano é que a mensagem atinja, sobretudo, quem trabalha sob o Sol ou ao ar livre (carteiros, vendedores ambulantes, operários da construção civil e feirantes, entre outros) e as pessoas que em seu cotidiano profissional e em momentos de lazer se expõem excessivamente ao Sol sem proteção. Lembrando que filtro solar não é o único cuidado contra a radiação ultravioleta, mas todos devem se proteger com o uso de equipamentos de proteção individual (EPI): chapéus de abas largas, óculos escuros, roupas que cubram boa parte do corpo e protetores solares com fator mínimo de proteção solar (FPS) 30. A hidratação constante também faz parte dessas medidas, sem esquecer de evitar os horários de maior insolação: das 10h às 16h.


MUTIRÃO

Banhistas aproveitam o dia intenso de sol e calor na Praia do Arpoador, Zona Sul do Rio de Janeiro - Foto: Agência O Dia/Estadão Conteúdo RJ - 3/1/14Entre as ações que já começaram, Joaquim Mesquita destaca um mutirão que foi feito na cidade de Araras, em Goiás, com a distribuição de filtro solar para uma população que tem predisposição para ter câncer de pele mil vezes maior porque é acometida de uma doença rara de pele, a xeroderma pigmentosa. Para o médico, ainda que o filtro solar não seja a única proteção, “ele deveria ser distribuído na farmácia do SUS e ter produto genérico. Mas há muita variação de preço, do mais caro ao mais barato, e todos têm efeito”. Ele conta que na Austrália, país com uma das maiores incidência de câncer de pele no mundo, a população tem mais consciência do que os brasileiros. “Cheguei há pouco de um congresso, e vi crianças na escola usando chapéu, o que é incrível porque a proteção tem de começar na infância. E na praia há totens com distribuição gratuita de filtro solar para todos.”

Várias iniciativas estão previstas para a campanha deste ano, como a divulgação de peças publicitárias na internet (Facebook, Instagram e sites). As peças virão marcadas com a hashtag #DezembroLaranja e #ControleoSol. O público poderá divulgar a campanha nas redes sociais, customizando a foto de perfil, postar o texto com fundo laranja no Facebook ou usar o filtro laranja do Stories no Instagram. Como nos anos anteriores, personagens e lideranças participarão do movimento vestindo a cor laranja e monumentos nacionais serão iluminados com a cor símbolo da campanha. Para saber mais, acesse www.dezembrolaranja.com.br.


O câncer de pele pode causar a morte, mas tem cura se diagnosticado cedo. No link https://www.sbd.org.br/controleOsol/calculadora/ você preenche os dados e em seguida sabe se é um paciente de risco para desenvolver a doença. É a chamada calculadora #ControleoSol. Ainda no site da SBD, a entidade disponibiliza o link https://www.sbd.org.br/controleOsol/quiz/ em que há um quiz com perguntas para você descobrir como é na praia, na piscina, enfim, seu comportamento ao se expor ao Sol. Acesse lá!

A primeira ação do Dezembro Laranja ocorreu neste sábado, quando cerca de três mil dermatologistas voluntários prestaram atendimento, esclarecimento e aconselhamento quanto à importância de se adotarem medidas preventivas. Foram consultas gratuitas em cerca de 130 postos de atendimento em todo o Brasil. Em Pernambuco, o mutirão ocorrerá na quarta-feira, dia 6, das 9h às 15h.

Fuja do Sol!
Câncer de pele representa 32% dos casos da doença no país. É o de maior prevalência, mas não o que mais mata. No entanto, é grave e considerado epidemia pela OMS

"O câncer de pele só cresce e a OMS considera o melanoma epidemia pelo aumento no mundo todo. Então, fuja do Sol" - Dolival Lobão, chefe da seção de Dermatologia do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) - Foto: Carlos Leite/Fotógrafo do INCA
O Sol não é vilão nem mocinho.
O problema é não saber usufruir de seus benefícios. A exposição em excesso e a falta de consciência e cuidado da população levam o Brasil a contabilizar números assustadores da prevalência de câncer de pele. Ele representa 32% dos casos da doença no país. A estimativa é de que até o fim do ano se apresentem 600 mil novos casos de câncer, sendo o de pele 130 mil e, desse percentual, 5% melanoma, como informa Dolival Lobão, chefe da seção de Dermatologia do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca). “É importante frisar a diferença entre melanoma, o câncer de pele mais agressivo e que leva a óbito, e o não melanoma, que não mata, mas tem em grande quantidade e produz sequelas graves, sendo mais comuns na cabeça e pescoço, levando à perda do olho, do nariz.”

Médica dermatologista do Instituto Mário Penna, Maria Imaculada Milagres enfatiza que as lesões na pele são facilmente identificadas - Foto: Jair Amaral/EM/D.A PressDolival Lobão enfatiza que estudos comprovam que 93% da radiação ultravioleta é responsável pelos casos de câncer de pele não melanoma e 65% dos casos de melanoma. Portanto, a principal recomendação do médico é: “Tudo que for feito para evitar o sol vale a pena. O câncer de pele só cresce e a Organização Mundial da Saúde, a OMS, considera o melanoma epidemia pelo aumento no mundo todo. Então, fuja do Sol”. O período de exposição é mais do que divulgado, sabido, mas muitas pessoas ignoram. O ideal é das 9h às 10h e depois das 16h. E o médico alerta: “Os raios ultravioleta B, que têm riqueza maior ao meio-dia, causam câncer. E os raios ultravioleta A, durante todo o dia, causam o envelhecimento, que incide durante todo o período de sol. Portanto, é ter conscientização. Ainda que lidamos com o livre-arbítrio”.

Todos têm de ter cuidado com o sol e se proteger. Mas, claro, há grupos com predominância: “A pele negra tem mais melanina, que é um filtro solar natural. A incidência é menor e, quando têm câncer de pele, ocorre nas áreas brancas, como planta dos pés e palma das mãos. Já o indivíduo com pele branca tem de se proteger mais, os riscos são maiores”.

DERMATOSCOPIA

De forma geral, o dermatologista alerta a população para ficar atenta aos sinais da pele. “Pintas pretas, bonitas, lisas podem ser precursoras de melanoma. Já a indicação de não melanoma é qualquer tipo de ferimento na pele que não desapareça no período de 15 dias. Sinais facilmente identificados pelo dermatologista, que já conta com o exame chamado dermatoscopia, ferramenta nova que ajuda no diagnóstico sem precisar de biópsia. Um aparelho colocado sobre a mancha que mostra se ela é maligna.”

Dolival Lobão lembra de um perigo vencido no Brasil, as câmaras de bronzeamento: “Somos o único país no mundo a bani-las. Se tiver alguma ainda, é caso de polícia. Medida da Anvisa desde 2009. Os EUA e a Austrália lutam para implantar a proibição, mas não conseguem nos imitar. Nos EUA, ocorrem um milhão de sessões a US$ 20 cada. O ex-presidente Barack Obama conseguiu, pelo menos, taxar imposto de 10% que vai para um fundo que trata os pacientes doentes”.

A responsabilidade de prevenir é sua

Diagnosticado com melanoma antes dos 40 anos, o dentista Jorge Caram, hoje com 58, não toma sol e usa filtro com frequência - Foto: Leandro Couri/EM/D.A PressA pele é o mair órgão do corpo humano. O câncer de pele é o mais frequente no Brasil, mas a médica dermatologista Maria Imaculada Milagres, do Instituto Mário Penna, é avessa a se apegar aos números e estatísticas da doença, já que o câncer não é de notificação compulsória, como dengue ou chikungunya. “O câncer de pele é o mais frequente, segundo o Inca, cerca de 30% de todos os cânceres. Mas esse percentual é muito maior na realidade, porque não há notificação de todos os casos. Vivemos em um país de dimensões continentais, tropical, temos sol o ano inteiro, somos miscigenados, uma mistura de raças e, por isso não há como se ater aos fototipos (já que temos ancestrais europeus, africanos e indígenas), enfim, o Sol não é vilão, não pode ser personificado como o mal, mas a exposição solar sem proteção leva a alterações na pele: pigmentação, queimaduras, fotoenvelhecimento, lesões pré-malignas e câncer de pele”, avisa a médica.

Maria Imaculada Milagres alerta que fotoproteção tem a ver com comportamento e consciência de cada um e, no caso das crianças, responsabilidade dos pais. No entanto, “o brasileiro ama o Sol, tem a cultura do bronzeado, apesar de não ser saudável, já que a pele foi agredida. Não usa protetor e, quando aplica, a maioria é só pela manhã e acha que está protegido o dia todo. Outro problema é que muitos usam o protetor para aumentar a exposição solar. As pessoas exageram. Há uma quantidade de sol aceitável por dia, em horários adequados, mas elas a ultrapassam em 500 vezes”. A médica chama a atenção para os profissionais que trabalham sob o Sol: “Eles devem ser orientados para ter o comportamento de proteção solar, já que não têm opção, não é?”.

A dermatologista enfatiza os sinais de alerta da doença: ferida que não cicatriza, mancha vermelha, verruga diferente, uma pinta distinta das demais (o chamado “patinho feio”), um caroço que feriu e não cicatriza, tudo isso, geralmente, em áreas expostas. Tem ainda a sarda, sinal de quem tomou muito sol e tem mais predisposição para a doença. “A educação começa na infância. Bronzear já não está mais na moda e o uso diário do protetor solar deve ser hábito. E se o apelo de bloquear o Sol não for suficiente, lembre-se de que ele é o melhor antirrugas que existe. E até recomendo usar o infantil, que é mais resistente.”

CURATIVA

Maria Imaculada explica que, com o diagnóstico, a cirurgia de câncer de pele é curativa. “O problema é que muitos continuam se expondo e aí acaba agravando o quadro, o que pode chegar à cirurgia mutilante. Ainda mais porque a doença ocorre mais em áreas como rosto, colo, pescoço, mãos e pernas.”

A médica reforça que todos podem gostar do Sol, mas não precisam ficar bronzeados. “O Sol é uma estrela de quinta grandeza, essencial à vida, é antidepressivo, enfim, imprescindível. Mas não podemos colocar qualidade humana nele.” Maria Imaculada explica que quanto mais alto, mais radiação, ou seja, depende da altitude (ex: nas montanhas de Minas há mais radiação do que nas praias do Rio de Janeiro, que estão ao nível do mar). A radiação depende também da época do ano, já que a poluição interfere e há perigo nos dias nublados. Assim como os reflexos do Sol vindos do cimento, do asfalto, da areia e dos prédios. Enfim, passou luz, passou radiação.

O que significa atenção redobrada com o comportamento de fotoproteção. Portanto, Maria Imaculada indica que, se vai caminhar, escolha um horário adequado; se só sobra o das 15h, prefira a esteira da academia; se vai nadar na hora do almoço, prefira a piscina coberta; se tem afazeres na rua no horário de pico do Sol, tenha a companhia do chapéu, óculos escuros e da sombrinha. O guarda-chuva preto é o melhor, além de calça e blusa de manga comprida.

Maria Imaculada enfatiza que as lesões na pele são identificadas facilmente e a melhor atitude é a prevenção, o que exige mudança de comportamento. “Vale lembrar que o melanoma também tem relação com predisposição familiar, exposição intensa e esporádica à radiação solar. Chamo sempre a atenção do mineiro que vai à praia nas férias e exagera, se expõe ao sol de um ano em uma semana.”

VITAMINA D

Além da falta de consciência de grande parte dos brasileiros, outro grupo fica inseguro ao ter de lidar com o embate entre dermatologistas e endocrinologistas em relação à exposição solar para a produção da vitamina D pelo organismo (ela é processada pela radiação solar), que melhora a absorção do cálcio, fortalecendo os ossos e combatendo a osteoporose. “Realmente, não há um consenso. Mas é estranho ter 90% da população com baixa de vitamina D e não ter nenhum sintoma, não acham? Minha posição é que todos se protejam do sol nos horários recomendados, já que inevitavelmente em um país tropical em algum momento todos ficarão expostos.”

ABCDE da pinta

A regra do "ABCDE" ajuda na suspeita de uma lesão maligna e sinaliza que um dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) deve ser procurado. A SBD orienta que as pessoas se examinem com periodicidade. Inclusive, é importante que se examinem familiares, já que muitas vezes os cânceres podem aparecer em regiões que não conseguimos ver sozinhos. A regra deve ser observada da seguinte forma:

» A - Assimetria: a metade da pinta não “casa” com a outra metade. Pintas perigosas ou melanomas tendem a ter uma assimetria de cores e forma.

» B - Bordas: lesões malignas apresentam bordas irregulares, dentadas ou com sulcos, com interrupção abrupta na pigmentação da margem.

» C - Cor: a coloração não é a mesma em toda a pinta. Lesões muito escuras ou que apresentem diferentes tons em uma mesma lesão devem ser avaliadas, pois podem indicar malignidade.

» D - Diâmetro: lesões que crescem rápido de diâmetro, principalmente aquelas maiores que 6 milímetros, levam a uma suspeita maior de lesão maligna.

» E - Evolução: toda pinta que mudar (mudança de cor, formato, tamanho e relevo) em curto período de tempo (1 a 3 meses) deve ser examinada por um dermatologista.

SAIBA MAIS

Cuidado com as pálpebras

As pálpebras e, também, a região dos olhos viraram preocupação mundial pelo aumento da incidência de câncer de pele, que já chega a 10% nessas áreas frequentemente negligenciadas, segundo pesquisa da Universidade de Liverpool apresentada na conferência anual da Associação Britânica de Dermatologistas, no Reino Unido. O estudo constatou que, ao passar filtro solar no rosto, a tendência é esquecer cerca de 10% da face – incluindo pálpebras e região entre o canto interno do olho e o nariz. “Uma proteção solar adequada deve ser feita efetivamente com a cobertura de todo o rosto. É importante o uso de acessórios na proteção , como os óculos de sol, que não resguardam apenas os olhos e córneas, mas também, a pele das pálpebras, já que a área dos olhos tem uma pele extremamente fina e susceptível a danos, inclusive câncer”, explica a dermatologista Thais Pepe, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Academia Americana de Dermatologia. A Associação Canadense de Dermatologia anunciou parceria com a Sociedade Canadense de Oftalmologia para criar um nível de proteção UV oferecido pelos óculos de sol, para garantir fotoproteção adequada para a região.

Fonte: SBD

De frente para o espelho
Observar o corpo regularmente ajuda a detectar lesões ou áreas anormais. Especialistas lembram que quanto mais cedo o câncer é descoberto, melhores são as possibilidades de cura

Laura Valente

Presidente da SBD-MD, Ana Cláudia de Brito Soares dia que a observação da pele constantemente é crucial para a detecção precoce do câncer de pele - Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press
Esportista desde jovem, Jorge Caram, dentista, hoje com 58 anos, sempre esteve exposto ao Sol nas quadras de peteca ou nas pistas de corrida. De pele muito branca, ele se lembra de que, na época de menino, não havia a cultura do uso de protetor solar ou outros cuidados contra a temida radiação ultravioleta. “Manter o bronzeado em dia era o máximo”, conta. No entanto, com o passar dos anos e já atuando na área de saúde, começou a se preocupar com a qualidade da exposição. “Nessa altura, já por volta dos 35 anos, passei a fazer controle com o dermatologista, a me preocupar com a pele, a me proteger. Era e ainda é muito raro o homem fazer controle sem sentir qualquer sintoma, mas comecei a me preocupar mais com a questão até por ser muito branco, o que é um fator de risco importante para o câncer de pele”, registra.

Atento à observação do próprio corpo, Jorge logo percebeu quando uma pinta estranha apareceu na região torácica. “Eu mesmo identifiquei o sinal de aspecto castanho-escuro, borda irregular, do tamanho de um botão de camisa. Na hora, não soube identificar se era uma pinta nova, mas de repente chamou a minha atenção. Fui ao dermato com o qual fazia consultas periódicas e ele não identificou nenhum problema. Minha sorte é que fiquei cismado e procurei uma segunda opinião. Resolvemos fazer a biópsia, que detectou um melanoma, o tipo mais agressivo de câncer de pele.”

MUDANÇA DE POSTURA

A partir do diagnóstico, o dentista procurou tratamento especializado. “Como em muitos casos o melanoma pode evoluir e ser fatal, submeti-me a vários exames para ajudar a identificar metástases, o que não ocorreu por eu ter descoberto o câncer muito inicialmente, praticamente limitado à superfície da pele e ainda com pouco poder invasivo. Ainda assim, operei para retirar a área do tumor, há cinco anos, e passei um período de vida bem complicado, uma fase de muito estresse. Mas superei o trauma e, hoje, faço controle a cada seis meses”, conta.

Com o episódio, Jorge mudou completamente a postura diante da exposição solar. “Hoje, não tomo sol nenhum, radicalizei. Uso filtro com muita frequência, mesmo para ficar no consultório, e o reaplico várias vezes ao dia. E isso porque, em relação ao melanoma, a exposição exagerada ao Sol é uma das principais causas.” Ele revela ainda que faz reposição de vitamina D para compensar a falta de sol, e diz lamentar quando tem notícia de pessoas que perderam a vida vítimas da doença. “O melanoma é um tipo raro de câncer, mas a todo instante vemos no noticiário pessoas morrerem por causa dele. Um dos mais recentes foi Oliver Sacks, médico e escritor, autor de Tempo de despertar. Assim, hoje sei que tudo é prevenção. Estou vivo porque tive um cuidado com a minha saúde, atitude que, apesar de básica, muita gente ainda ignora.”

Diagnóstico e tratamentos

Presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional Minas Gerais (SBD–MG), Ana Cláudia de Brito Soares informa que o melanoma é o câncer da pele menos frequente, porém o mais grave, “porque tende a dar metástases, isto é, se espalhar para outras partes do corpo”.

Esportista durante toda a vida, Jorge Nunes de Araújo, de 67 anos, teve câncer de pele e hoje corre do sol - Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A PressEla reforça ainda que pessoas de pele clara e que se queimam com facilidade quando se expõem ao Sol têm mais risco de desenvolver a doença, mas afirma que o melanoma, mais raramente, pode manifestar-se em indivíduos negros ou em pessoas que se bronzeiam mais do que se queimam quando expostas ao Sol. A hereditariedade também configura fator de risco. “Além da exposição à radiação ultravioleta, a hereditariedade desempenha papel central no desenvolvimento do melanoma. Por isso, familiares de pacientes diagnosticados com a doença devem se submeter a exames preventivos regularmente. O risco aumenta quando há casos registrados em familiares de primeiro grau”, lembra.

Como ninguém está livre da doença, a médica atesta que a observação da pele constantemente é crucial para a detecção precoce do câncer de pele (aprenda a fazer o autoexame ao lado). “Caso detecte qualquer lesão suspeita, a pessoa deve procurar o médico imediatamente. Aparelhos chamados dermatoscópios auxiliam os dermatologistas no diagnóstico entre pintas suspeitas ou não. Já a confirmação do diagnóstico de melanoma é feito por biópsia, a retirada de uma amostra de tecido que vai ser analisada no microscópio. Existem vários tipos de biópsia e a mais indicada vai depender do tamanho da lesão e de sua localização no corpo.” Ela afirma ainda que, em estágios mais avançados, cuja lesão é mais profunda e espessa, há riscos de a doença se espalhar para outros órgãos (metástase), o que diminui as possibilidades de cura. Por isso, o diagnóstico precoce é fundamental.

NOVIDADES

A dermatologista registra ainda que, há alguns anos, o único tratamento possível para o melanoma era a cirurgia para a retirada da pele afetada. “Hoje, novidades já permitem retirar todo o tumor na biópsia, método chamado biópsia excisional.” Ela explica ainda que o tratamento varia conforme a extensão, agressividade e localização do tumor, bem como a idade e o estado geral de saúde do paciente. “Embora apresente o pior prognóstico entre os cânceres de pele, avanços na medicina e o recente entendimento das mutações genéticas, que levam ao desenvolvimento dos melanomas, possibilitaram que mesmo pessoas com um quadro avançado da doença tenham aumento na sobrevida e na qualidade de vida.”

Entre os principais avanços de tratamento, ela destaca testes genéticos capazes de determinar quais mutações o câncer apresenta. “Nomeados BRAF, cKIT, NRAS, CDKN2A e CDK4, possibilitam a escolha dos tratamentos que podem trazer melhores resultados em cada caso da doença. Mais de 90% dos pacientes com a alteração genética BRAF, por exemplo, podem se beneficiar do tratamento com terapia-alvo oral, capaz de retardar a progressão do melanoma e melhorar a qualidade de vida. Outros tratamentos podem ser recomendados, isoladamente ou em combinação, para o tratamento dos melanomas avançados, incluindo quimioterapia, radioterapia e imunoterapia”, avisa.

Para finalizar, a presidente da SBD-MG confirma que o diagnóstico de melanoma ainda traz muita apreensão aos pacientes. Mas lembra que eles devem ter em mente que as chances de cura superam os 90% quando há detecção precoce da doença, e que já é possível viver com qualidade, controlando o melanoma metastático por longo prazo.

COMO OBSERVAR A PELE EM CASA

AUTOEXAME:

Entre muitas outras informações, o site do Instituto Oncoguia traz o passo a passo do autoexame preventivo contra o câncer de pele. Além das medidas de praxe, médicos indicam a observação minuciosa do próprio corpo, um cuidado que ajuda a detectar quaisquer novas lesões ou áreas anormais que merecem ser observadas de perto por um profissional.

RECOMENDAÇÕES:

» No primeiro exame de sua pele, tome seu tempo e observe cuidadosamente toda a superfície. Aprenda o padrão de pintas, manchas, sardas e outras marcas que você tem na sua pele para que você compare com exames futuros.

» Certifique-se de mostrar ao seu médico quaisquer áreas que tenham apresentado alguma mudança ou o estão preocupando.

» É importante observar a sua pele, de preferência, uma vez por mês.

» O melhor momento para fazer isso é após o banho, em local bem iluminado, na frente de um espelho.

O QUE PROCURAR:

Ferida aberta com sangramento, que permanece sem cicatrização durante várias semanas; área avermelhada, em relevo ou irritada, que pode descascar ou coçar; protuberância de cor rósea brilhante, avermelhada, branco perolado ou transparente; lesão rósea com borda elevada e parte central encrostada; cicatriz com área branca, amarela ou cerosa, e bordas mal definidas; verruga em crescimento; mancha persistente, escamosa, vermelha, com bordas irregulares, que sangram facilmente; lesão sensível ao toque.

Passo 1: Diante do espelho, observe seu rosto, orelhas, pescoço, peito e barriga. As mulheres devem levantar os seios para verificar a pele sob os mesmos.

Passo 2: Ainda frente ao espelho, observe os dois lados dos braços, axilas e antebraços. Posteriormente, observe o dorso e as palmas das mãos, entre os dedos e as unhas.

Passo 3: Sentado, observe a parte anterior de suas coxas, canelas e dorso dos pés, entre os dedos e as unhas dos pés.

Passo 4: Ainda sentado, use um espelho de mão para ver a planta dos seus pés, a parte posterior das panturrilhas e a parte posterior das suas coxas iniciando numa perna e posteriormente a outra.

Passo 5: De pé, use um espelho para observar a parte inferior das costas, as nádegas, a área genital e a parte de trás do pescoço e orelhas.

Passo 6: Ainda de pé, pode ser mais fácil ver suas costas usando um espelho de parede e um espelho de mão. Use um pente ou um secador de cabelo para que possa observar o seu couro cabeludo.

Conheça os tipos mais comuns
A maior parte dos cânceres de pele é dos tipos carcinoma basocelular (80%) e de células escamosas (20%),também chamados espinocelulares. Áreas expostas ao sol como rosto, orelha e lábios são mais suscetíveis

Laura Valente

A médica Michelle Diniz lembra que o diagnóstico precoce permite que esses tumores sejam retirados com menor prejuízo estético - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press
A radiação ultravioleta é apontada como a vilã em muitos casos de câncer de pele, mas é importante ressaltar que a hereditariedade também configura fator de risco para a doença, como relata Vera Lúcia Brandão Costa, professora aposentada de 62 anos. “Mocinha, ficava quarando no Sol a despeito de ter a pele muito clara. Até porque, naquela época, ninguém falava sobre protetor solar e fazíamos até receitas caseiras para passar no corpo e pegar cor mais rápido. Fui pensar na saúde da pele só mais tarde, quando começou a brotar sangue no meu nariz”, lembra.

Investigando o problema, Vera foi diagnosticada com um carcinoma basocelular superficial multicêntrico, mesmo diagnóstico que o pai dela já havia tido e que, mais tarde, também foi descoberto pelos três irmãos. “Não é um câncer agressivo, os médicos me afirmaram que o paciente não morre disso, pois ele não gera metástase na maior parte dos casos, mas é necessário tratar. Descobri a doença há 20 anos e, de lá pra cá, já fiz três cirurgias. Às vezes, a lesão aparece de novo, só no nariz, e só de um lado. Como a doença apareceu em toda a família e no mesmo lugar, concluímos que, no nosso caso, é totalmente genética, hereditária.”

Atualmente, a exposição ao Sol não faz mais parte da rotina de Vera. “Já acordo e uso o protetor, fator 50, até dentro de casa. E me protejo com óculos e chapéu quando vou à praia. Hoje, a população está mais informada a respeito do câncer de pele, mas ainda assim muitos negligenciam os cuidados, acreditam que não vai acontecer consigo, acham bonito tomar sol, a estética fala mais alto, né?”

Agenda de cuidados

Também entusiasta da prática de esportes ao ar livre e frequentador assíduo de clubes durante toda a vida, Jorge Nunes de Araújo, industriário aposentado, 67, hoje corre do Sol. Do mesmo tom de pele dos outros pacientes ouvidos na reportagem, conta que ficava vermelho-pimentão quando se expunha à radiação ultravioleta e que começou a perceber uma textura estranha sobre a pele em alguns pontos em que a incidência solar “castigava mais”, como braços, nariz e orelhas, diz. “Sempre após tomar sol, notava poros mais dilatados, erupções e aspereza nessas regiões”, caracteriza.

Depois de procurar um dermatologista, ele foi diagnosticado também com o carcinoma basocelular. Desde então, realizou várias cirurgias na tentativa de extirpar e controlar a doença. “Não é o câncer mais agressivo. Inclusive, fui informado de que se adotasse mais cuidados nem precisaria fazer cirurgias. No entanto, mesmo passando protetor e pomada, a pele capta os raios ultravioleta até na sombra, e assim mantenho a agenda médica em dia e evito ao máximo a exposição solar. Não jogo mais bola no sol e só entro na piscina após as 16h. O trauma é forte, mas não deixei a doença me dominar e, assim, tomo as precauções sem adoecer mentalmente”, detalha.

Diagnóstico e tratamento

O tipo de câncer de Vera e de Jorge, o carcinoma basocelular, é o mais comum entre os cânceres de pele - 80% dos casos -, segundo dados do Instituto Oncoguia, portal referência em informações sobre a doença. Já o outro tipo mais comum, o carcinoma de células escamosas (ou espinocelular), abrange cerca de 20% dos casos, conforme a mesma entidade, tem origem na camada mais superficial da epiderme e é mais propenso a crescer nas camadas mais profundas e a se disseminar para outros órgãos do que os cânceres basocelulares (embora tal progressão ainda seja rara).

- Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press
Michelle Diniz, médica dermatologista, membro da diretoria da SBD-MG e coordenadora regional da Campanha do Câncer de pele 2017, afirma que tais tumores surgem predominantemente em áreas expostas ao Sol. “A radiação solar é o principal fator de risco para o surgimento desses tumores. O carcinoma espinocelular pode surgir também de lesões pré-câncer de pele, como ceratoses actínicas, que também são provocadas pelo Sol.

Apesar de serem cânceres menos agressivos em termos de mortalidade quando comparados ao melanoma, eles têm uma agressividade local e demandam cirurgias agressivas e inestéticas para o seu tratamento.”

Assim, a dermatologista afirma que o principal cuidado em relação à prevenção do câncer de pele não melanoma está relacionado à proteção solar. Além desse cuidado, ela chama a atenção para o surgimento de feridas que sangram com facilidade e não cicatrizam, principalmente em áreas fotoexpostas, pintas que surgem na vida adulta ou que mudam de cor, de forma ou que apresentam crescimento. “Lembrando que o diagnóstico precoce permite que esses tumores sejam retirados com menor prejuízo estético e, no caso do carcinoma espinocelular, diminui o risco de metástases principalmente para os gânglios linfáticos.”

Entre as principais inovações no tratamento, Michelle aponta a radioterapia para pacientes que não podem ser operados e informa que, recentemente, a legislação brasileira aprovou o medicamento vismodegibe, uma forma de quimioterapia para o tratamento de carcinoma basocelular avançado. “Após o tratamento, é fundamental que o paciente mantenha a fotoproteção adequada e o controle com o dermatologista para que possam ser avaliadas recidivas precocemente e para que novos tumores possam ser diagnosticados o mais rápido possível caso ocorram, uma vez que um indivíduo que já teve câncer de pele tem mais chance de ter um novo tumor. E avisa: “Na grande maioria dos casos, o câncer de pele não melanoma apresenta bom prognóstico, sendo responsabilidade do indivíduo manter as medidas de proteção adequadas e o acompanhamento médico”.

Saiba mais

Carcinoma basocelular

» Ocorre nas células da região mais profunda da epiderme, redondas e conhecidas como células basais. Cerca de 80% dos cânceres de pele se desenvolvem a partir desse tipo de célula e são denominados carcinomas basocelulares. Na maioria das vezes, o carcinoma basocelular se desenvolve na região da cabeça e pescoço.

» Esse tipo de câncer, no passado, era diagnosticado quase que exclusivamente em pessoas mais velhas, mas atualmente já é feito o diagnóstico em pessoas mais jovens, provavelmente devido à maior exposição ao Sol.

» O carcinoma basocelular tem um crescimento lento, e raramente se espalha para os gânglios linfáticos ou outras partes do corpo. Entretanto, se não for tratado, pode disseminar-se para outros tecidos e órgãos.

Carcinoma de células escamosas

» Cerca de 20% dos cânceres de pele são carcinomas de células escamosas, também chamados de carcinomas espinocelulares. Eles têm origem na camada mais superficial da epiderme.

» Geralmente, aparece em áreas do corpo expostas ao Sol, como rosto, orelhas, lábios, pescoço e no dorso da mão. Pode também surgir em cicatrizes antigas ou feridas crônicas da pele, em qualquer parte do corpo e até nos órgãos genitais. Às vezes pode se iniciar em queratoses actínicas.

» Queratoacantoma - São tumores, em forma de cúpula, encontrados na pele exposta ao Sol. Eles têm uma fase de crescimento rápido, um período estacionário e um período de involução espontânea. Muitos queratoacantomas regridem ou mesmo desaparecem espontaneamente ao longo do tempo, sem qualquer tratamento. Mas, alguns continuam crescendo, podendo até se espalhar para outros órgãos. Como, muitas vezes, é difícil de prever seu crescimento, são tratados como câncer de pele de células escamosas.

Cânceres de pele menos comuns

Outros tipos de câncer de pele não melanoma:

» Células de Merkel
» Sarcoma de Kaposi
» Linfoma de pele
» Tumores anexiais de pele
» Vários tipos de sarcomas

*Juntos, esses tipos representam menos de 1% de todos os cânceres de pele.


Use e abuse do protetor solar
ENTREVISTA/MARIANA CAMPOS SOUZA MENEZES

Conjunto de medidas visa reduzir a exposição ao Sol e prevenir o câncer

Lilian Monteiro


Há outros bloqueadores, mas o uso do filtro solar é a maior e melhor arma de proteção e prevenção contra o câncer de pele, o de maior incidência no Brasil. Ele evita eritema (queimadura), câncer de pele não melanoma, melanoma cutâneo, fotoenvelhecimento e doenças decorrentes ou agravadas pela exposição ao Sol (fotodermatores). A dermatologista Mariana Campos Souza Menezes, do Hospital Felício Rocho e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), fala sobre a importância do filtro solar e como evitar o mal terrível que o excesso de radiação causa.

Só o protetor solar protege contra a radiação dos raios do Sol?

Não. O conceito fotoproteção não se resume ao uso do protetor solar. Deve-se priorizar um enfoque mais amplo, com destaque para a fotoeducação, que deveria começar em casa, com o exemplo dos pais e a introdução do hábito do uso do protetor solar no dia a dia das crianças; para a fotoproteção mecânica, com coberturas, roupas e acessórios; para a fotoproteção oral e para a fotoproteção tópica, com os protetores solares. Se o acesso ao protetor for difícil, há outras medidas baratas. Roupas com trama mais apertada e espessa, de cores escuras, secas, mais largas (peças justas apresentam um estiramento da trama) e não esgarçadas (muito usadas) são as que protegem mais. Sombrinha, guarda-sol e cabanas podem barrar até 50% da radiação ultravioleta. O uso de óculos escuros também é importante, pois auxilia na prevenção da catarata, fotoqueratite e outras doenças.

Quando é preciso começar a usar o filtro solar? A partir dos seis meses de idade até o final da vida. Em menores de seis meses, deve-se fazer uma fotoproteção mecânica, com uso de roupas, chapéus e coberturas. Entre seis meses e 2 anos, deve-se priorizar filtros solares físicos. Todos devem usar um produto que seja apropriado para o tipo da pele (cor da pele e oleosidade) e para o perfil de exposição solar (atividade esportiva, exposição diária ocupacional etc.). O efeito da exposição à radiação ultravioleta é cumulativo. Há estudos que concluem que a exposição até os 18 anos poderia contribuir mais para o risco de câncer de pele, muito provavelmente devido às queimaduras solares, mais incidentes nessa fase da vida. Infelizmente, a fotoproteção ainda não é uma cultura incorporada pelo brasileiro e o bronzeado ainda é associado à saúde e beleza. O câncer de pele corresponde a aproximadamente 33% dos diagnósticos de câncer no Brasil, sendo o carcinoma basocelular o mais prevalente entre todos os tipos e o menos agressivo. O melanoma é o tipo mais raro e letal.

Como escolher o protetor solar adequado?

Os filtros solares comercializados no Brasil têm seu registro efetuado pela Anvisa, com confirmação de eficácia e segurança do produto. Os protetores atuais têm proteção combinada contra UVB e UVA. Na hora de escolher, fiquem atentos tanto ao fator de proteção solar (recomendo 30 ou superior), que se relaciona à proteção contra UVB, quanto ao símbolo da estrelinha que fica na frente da nomenclatura e deve ser levado em conta, já que designa o Persistent Pigmented Darkening (PPD), proteção contra UVA. Todos os protetores liberados pela Anvisa são confiáveis, dos mais caros aos mais baratos, o que varia é a cosmética, aditivos e valores de FPS e PPD, mas a proteção UVA e UVB está presente.

Os protetores devem ser reaplicados a cada duas horas?

O efeito protetor dos filtros solares sofre um declínio com o passar das horas, com o atrito de tecidos, vento, exposição à água e sudorese excessiva. A cada duas horas o filtro solar deve ser reaplicado. Mas se permanecer imerso em água ou com muita sudorese, é preciso passá-lo novamente com menor intervalo.

É possível substituir o protetor solar por maquiagem (base, pó) com filtro?


O ideal é o uso do protetor solar com cor, pois ele oferece proteção contra os raios ultravioleta e proteção contra a luz visível, sendo que a última parece contribuir tanto para produção de radicais livres quanto para a pigmentação da pele. Os protetores solares com cor têm regulamentação da Anvisa e a garantia de eficácia e segurança. Precisam ser reaplicados da mesma forma que um protetor sem cor, de 2 em 2 horas.

Há quem prefira o uso de protetor solar orgânico, natural ou com receita caseira. É seguro?

O protetor solar que não for regulamentado e liberado pela Anvisa não poderá nos oferecer garantias de eficácia e segurança. Então, o usuário estará mais vulnerável a reações adversas, muitas vezes imprevisíveis, e não terá garantida nem mensurada a fotoproteção.

E o protetor solar oral, como funciona? Pode ser usado sozinho?

Tem algumas substâncias que podem ser administradas por via oral, sem causar efeitos adversos, que ajudam a prevenir os danos causados pela radiação ultravioleta na pele, sendo as mais conhecidas o Polypodium leucotomos, a cafeína e os carotenoides. Podem ter ação antioxidante, anti-inflamatória, mas é importante enfatizar que o protetor oral não substitui o filtro solar, mas pode ser somado ao uso do mesmo.

Os alimentos também são protetores solares? Os alimentos são fontes de algumas vitaminas que ajudam na fotoproteção. Frutas cítricas e alguns vegetais são fonte de vitamina C; óleos vegetais, milho e algumas carnes são fonte de vitamina E; cenoura, batata-doce, manga e papaia são fonte de betacaroteno; tomate, melancia e cereja são ricos em licopeno, e há evidências de que todos auxiliam na fotoproteção. Salmão, truta e lagostim são ricos em astaxantina, substância essa que teria efeito na prevenção de danos causados pelo UVA. Mas o consumo desses alimentos não substitui o hábito de aplicar diariamente o filtro solar.

Peles morenas e negras não precisam usar filtro solar?

Precisam sim. Ainda que a pele morena e negra tenham mais melanina e mais proteção natural contra os danos do Sol, são suscetíveis a queimaduras, manchas e câncer de pele. Todos os fototipos precisam usar o protetor solar.

Não devemos usar filtro solar corporal diariamente no rosto?

Existem formulações direcionadas para o rosto, com ativos específicos e cosmética diferenciada. Há formulações em cremes, loções, emulsões, géis, aerossóis e bastões com objetivo de atender a diferentes usuários, peculiaridades das áreas de aplicação (como oleosidade) e formas de exposição ao Sol. Mas na impossibilidade de investir em um filtro específico para diferentes partes do corpo deve-se fazer uso do filtro que for possível prover.

Nos dias nublados não é preciso usar protetor solar?

O filtro solar tem de ser usado diariamente, em qualquer clima, com ou sem Sol.

Quanto mais filtro eu aplicar, mais protegido estarei?

Para que o protetor solar ofereça o FPS indicado é necessário utilizar 2mg/cm². O que significa que para cobrir adequadamente todas as áreas expostas ao Sol de um adulto vestindo roupa de banho, seria necessário aplicar 30ml de filtro solar com FPS de pelo menos 15. Difícil seguir. Então, a recomendação do Consenso Brasileiro de Fotoproteção é aplicar duas camadas do produto em todo o corpo ou uma colher de chá para rosto, cabeça e pescoço; duas colheres de chá para frente e trás do torso; uma colher de chá para cada braço e duas colheres de chá para cada perna. E como se utiliza menos que o recomendado em quantidade, (média de uso do brasileiro: 0,5 a 1mg/cm2) a fotoproteção obtida é menor. O que foi determinante para a recomendação de fator de proteção igual ou superior a 30.

Em ambientes fechados, com luz visível, não preciso aplicar filtro?

A luz visível pode provocar pigmentação da pele (manchas) e contribuir para a produção de radicais livres. Então, é preciso aplicar o filtro solar, se possível com cor, ou filtros físicos.

Filtro solar deixa a pele oleosa? Há produtos específicos para peles oleosas, mistas e normais. Se o filtro está deixando a pele oleosa, talvez não seja a opção adequada para o usuário em questão.

Colocar película no vidro protege da radiação solar? Ela bloqueia o raio UVB? É recomendável aplicá-la no carro e em casa?

Os filmes utilizados nos vidros filtram tanto UVA quanto UVB. Desde que atendam às normas estabelecidas e não tragam prejuízo à segurança no trânsito, auxiliam na fotoproteção. Algumas características do vidro podem influenciar na capacidade de proteção contra a radiação UV, como espessura (vidros mais espessos protegem mais), cor e revestimento..