Viver mais não basta; é preciso envelhecer com saúde e de forma ativa

A população de no mínimo 60 anos vai mais que dobrar no planeta em 2050. No Brasil, a expectativa de vida também cresceu nas últimas três décadas

Karen Santos 21/11/2017 15:00
Karen Santos/Divulgação
Iris de Magalhães Oliveira, de 63 anos, atribui aos exercícios físicos a capacidade de realizar todas as suas atividades do dia a dia (foto: Karen Santos/Divulgação)

A população mundial está vivendo mais. Dados da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) apontam que o número de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos vai mais que dobrar no mundo, em 2050, passando dos cerca de 900 milhões registrados em 2016 para cerca de 2 bilhões. No Brasil, a realidade não é diferente. Conforme estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida do brasileiro aumentou em 30 anos, passando de 45,5 para 75,5 anos. Apesar de a longevidade humana ser uma grande conquista do século 21, especialistas ressaltam que viver mais não é suficiente. É preciso envelhecer de maneira saudável e ativa, alcançando a qualidade de vida, como bem depõe Iris de Magalhães Oliveira, de 63 anos. “A atividade física melhora totalmente o astral - a gente se sente mais leve e com menos medo, porque diminuem as chances de quedas, por exemplo”, afirma.

Expectativa de bem viver
Bem-estar físico e psicológico, amizades, lazer, religiosidade, independência e, principalmente, hábitos saudáveis, influenciam na qualidade de vida na terceira idade

Para que se obtenha qualidade de vida na terceira idade é importante considerar fatores como bem-estar físico e psicológico, nível de independência, relações sociais, ambientes de trabalho e lazer e religiosidade, entre outros. O envelhecimento saudável baseia-se em pilares como dieta saudável e controle de doenças, prática de atividade física regular, inserção social e saúde emocional. Dessa forma, as academias, muitas vezes, são escolhidas por idosos como ponto de partida para uma vida mais saudável. Isso porque, além da prática de exercícios, que contribui para manter mentes e corpos mais sadios, o ambiente também proporciona contato com outras pessoas e troca de experiências. “Os profissionais de áreas como fisioterapia e educação física têm se dedicado a aprender a lidar com a terceira idade. Assim, os idosos se sentem cada vez mais aceitos nesses espaços e, então, conseguem se tornar ativos”, diz Janise Lana Leite, médica geriatra da Unimed-BH.

Segundo a especialista, além disso, vários fatores contribuem para o aumento da expectativa de vida da população. Entre eles, claro, estão o avanço da ciência e a melhoria da assistência à saúde. “Muitas doenças, como a hipertensão arterial e o diabetes, que são comuns ao envelhecimento, antigamente eram, na maioria dos casos, fatais. A possibilidade de diagnóstico precoce e a melhoria no tratamento, muitas vezes, evitam que essas patologias tenham complicações, aumentando o tempo de vida”, aponta. A especialista lembra que, como essas doenças são frequentes na terceira idade, ainda existem casos em que elas levam a óbito. No entanto, com o melhor tratamento, os números diminuíram. Além disso, Janise destaca a importância das vacinas no prolongamento da expectativa de vida. “As vacinas, como as da gripe e da pneumonia, são essenciais, pois ajudam a prevenir doenças que também eram responsáveis pela morte de muitas pessoas.”

Além dos avanços médicos, a geriatra fala também que a busca por uma vida mais saudável vem crescendo, o que ajuda na prevenção de doenças e contribui para o aumento da longevidade dos idosos. “De modo geral, acredito que as pessoas estão se alimentando melhor. Isso contribui para uma melhor saúde da população em geral, mas principalmente para o idoso, porque ajuda na redução da obesidade e também faz com que a inserção de sal e açúcares diminua na dieta.” A médica explica que a adoção de uma dieta mais balanceada pode parecer uma medida pequena, mas que, na realidade, faz toda a diferença, uma vez que ajuda na prevenção e tratamento de doenças como diabetes e hipertensão, que, além de muito prejudiciais aos idosos, são fatores de risco para outras patologias, como infarto do miocárdio e doenças nos olhos.

QUALIDADE DE VIDA

Terezinha Hotti Coelho, de 72 anos, pratica pilates e dança do ventre há dois anos e conta que as atividades ajudam muito na preservação da saúde física e mental. “Comecei o pilates em decorrência de um rompimento no ombro e hoje estou muito melhor, com mais flexibilidade e coordenação motora. Todas as pessoas deveriam envelhecer ao lado de profissionais como fisioterapeutas e educadores físicos”, aconselha. Iris de Magalhães Oliveira, de 63, é parceira de treino de Terezinha e também pratica pilates há dois anos, por conta de problemas de osteoporose e artrose. “A atividade física melhora totalmente o astral – a gente se sente mais leve e com menos medo, porque diminuem as chances de quedas, por exemplo. Também melhora muito a parte física. Já passei muita dificuldade, mas, atualmente, consigo fazer todas as minhas atividades”, comemora.

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Terezinha Hotti Coelho, de 72 anos, ganhou mais flexibilidade e coordenação motora depois do Pilates (foto: Karen Santos/Divulgação)

A academia Impactus, no Bairro Serrano, Região da Pampulha, onde Terezinha e Iris praticam pilates, tem cerca de 100 alunos acima dos 60 anos inscritos. Para Giovana Pessamilio, sócia-diretora da academia, o aumento das matrículas deu-se em decorrência da maior conscientização da sociedade da importância da prática de atividades físicas tanto para a prevenção quanto para o tratamento de doenças. “Nossos idosos desejam envelhecer bem e com qualidade de vida. Muitos alunos são bem limitados, com muitas dificuldades motoras e posturais. Mas, com atividade física, a recuperação é, em geral, muito rápida. Além do condicionamento físico, ocorre aumento da autoestima e do bem-estar. Eles se socializam muito também e fazem grandes amigos aqui na academia.”

Disposição para viver

“Não me sinto velha. A velhice é um estado de espírito. Ainda tenho muita disposição para fazer todas as coisas. Quando a gente se sente bem e tem independência, tudo vai bem.” É o que conta Ordália da Conceição Costa, de 73 anos. Ela faz caminhadas, musculação, hidroginástica e dança, e conta que isso faz toda a diferença no seu dia a dia. “Moro sozinha e cuido da minha casa toda. Não preciso mais de faxineira ou de ajuda da família, tenho minha independência. Além disso, posso sair com minhas amigas para dançar e isso também ajuda a manter a saúde e a qualidade dos meus dias.”

O geriatra João Carlos Barbosa Machado, coordenador do Serviço de Medicina Geriátrica da Rede Mater Dei de Saúde, afirma que pessoas como Ordália combatem os estereótipos e desmistificam as ideias preconceituosas que, em última análise, consideram os idosos sempre como um fardo para a sociedade e a velhice como sinônimo de doença. “Felizmente, a nova geração de idosos está nos provando que é possível envelhecer com sucesso participando da sociedade, engajando-se em diversas atividades, exercendo influências de ordens política, econômica e social, com voz ativa e maior exigência com os médicos e familiares, ou seja, exercendo o direito de cidadania e de autogoverno”, diz.

O especialista destaca que envelhecer com saúde demanda, como citado, controle médico regular, avaliação e intervenção nos fatores de risco para doenças passíveis de prevenção, imunização para algumas doenças e hábitos de vida adequados. Envelhecer com sucesso, no entanto, é um conceito muito mais amplo. Para ele, o envelhecimento bem-sucedido diz respeito à preservação da autonomia, ou, em outras palavras, “ao poder de decisão em harmonia com os próprios sentimentos e necessidades, à prevenção das incapacidades funcionais devido a doenças, ao senso de desamparo, à falta de motivação e aos estados afetivos negativos”. O geriatra expõe que o estilo de vida é fundamental para determinar quanto e como cada um vai viver. “As descobertas da medicina fazem a outra parte. É fundamental praticar atividade física regular, dieta saudável e equilibrada, evitar o fumo, o álcool e as drogas, atividade intelectual, engajamento ativo com a vida e reduzir o estresse.” O conselho do médico é que se comece a adotar tais atitudes assim que possível. “Nunca é tarde para começar. Os benefícios ocorrem em qualquer idade. É uma receita simples e barata, que depende de cada um de nós”, ressalta.