Cuidar da saúde significa cuidar do corpo, da mente e do espírito

É a prevenção via medicina tradicional, complementar e integrativa. Com tratamento individualizado, agregam e ajudam no bem-estar

por Lilian Monteiro 30/10/2017 07:00
Edésio Ferreira/EM/D.A Press
A jornalista Cristiane Araújo, de 47 anos, é adepta da medicina integrativa e se diz uma pessoa alegre e otimista (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

Indissociável, a saúde como bem-estar e qualidade de vida pressupõe o equilíbrio e a harmonia entre os pilares mente-corpo-espírito. O checape anual, que todos deveriam fazer, é preceito básico da medicina tradicional, mas que deve ter como aliada outros caminhos e práticas que contribuam para a manutenção da estabilidade do organismo e da alma. As alternativas são muitas, todas agregam e ajudam na busca do bem viver.

Iracema de Almeida Benevides, médica nutróloga e diretora-presidente nacional da Associação Brasileira de Medicina Antroposófica (ABMA), explica que o uso de abordagens complementares e integrativas para a saúde e o bem-estar cresceu mundialmente nos últimos anos. Estudos demonstram como movimentos corporais, massagem, meditação e plantas medicinais, entre outras, contribuem para a saúde de maneira integrada e harmoniosa com a abordagem convencional, colaborando também para a melhoria da qualidade de vida. O campo da medicina integrativa ressalta a importância do vínculo terapêutico entre o profissional e o paciente a partir de uma compreensão ampliada do ser humano e da natureza.

Iracema Benevides conta que, nos anos 1960 e 1970, as abordagens integrativas eram conhecidas como “alternativas”. Com o passar do tempo, os recursos foram reconhecidos como positivos ao tratamento de doenças, e o termo utilizado passou a ser “complementar”. Recentemente, a nomenclatura inclui a expressão “integrativa”, pois, cada vez mais, usuários e profissionais passaram a incluir os diversos recursos da saúde integrativa nos tratamentos convencionais. “As abordagens integrativas em saúde têm uma visão mais ampla do processo de saúde e permitem que as pessoas sejam compreendidas em sua totalidade. Os pacientes querem ser mais bem acolhidos e compreendidos. Muitos relatam que, no modelo convencional, suas queixas não são ouvidas, seus problemas não são considerados e sua saúde é fragmentada entre os diversos profissionais que prestam cuidados.”

Percebendo a importância da saúde integrativa, a Organização Mundial de Saúde (OMS) criou uma área técnica específica dedicada à medicina tradicional, complementar e integrativa (MTCI). No início dos anos 2000, a OMS publicou o primeiro documento técnico sobre o tema (Traditional medicine strategy 2002-2005), no qual são estabelecidas as bases para a elaboração e o desenvolvimento de políticas públicas na área. O documento já foi atualizado, estabelecendo diretrizes para o período 2014 até 2023, e ampliando as orientações para regulamentação das práticas, dos praticantes e dos produtos. A OMS apoia e incentiva que os países adotem as abordagens complementares desde o início dos anos 1980 por compreender que são seguras, efetivas e que ampliam o acesso ao cuidado com a saúde.

No Brasil, vale destacar que o Ministério da Saúde publicou, em maio de 2006, a Portaria GM 971, que estabelece as bases para a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), definindo as diretrizes para a implantação no SUS da medicina chinesa, acupuntura, homeopatia, fitoterapia, medicina antroposófica, cromoterapia e termalismo social. Em março de 2017, o ministério ampliou o conjunto por meio da Portaria GM 849, que incluiu mais 13 abordagens: ayurveda, ioga, biodança, musicoterapia, terapia comunitária integrativa, arteterapia, reiki, dança circular, osteopatia, quiropraxia, reflexoterapia, shantala e naturopatia. Além disso, as práticas integrativas e complementares em saúde (PICS) são relevantes como abordagens complementares para a prevenção e controle de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, síndrome metabólica, no controle e melhora do estresse e dos sintomas psíquicos, no controle e melhora da dor e na melhoria da qualidade de vida em doenças oncológicas e nos cuidados paliativos.

HOLÍSTICA

A médica Mimi Guarnieri, fundadora e presidente da Academia de Saúde e Medicina Integrativa (AIHM), em San Diego (EUA), esteve no Brasil recentemente para participar do Encontro Internacional de Saúde Integrativa, realizado em Belo Horizonte, patrocinado pela Weleda. Ela revela que começou a carreira há mais de 20 anos, fazendo atendimento em cardiologia intervencionista, colocando milhares de stents coronários. “No entanto, quando vi que os pacientes continuavam retornando para mais intervenções cirúrgicas, reconheci a necessidade de uma abordagem mais abrangente e holística para evitar que doenças cardiovasculares se desenvolvam continuadamente.”

A saúde também é mantida pela alegria de viver. A jornalista Cristiane Araújo, de 47 anos, além de adepta das práticas complementares, como ioga, meditação, reiki e dança do ventre terapêutica, se define como uma pessoa alegre, otimista e que sempre enxerga o lado positivo de tudo. “Minha primeira reação diante do problema é: como vou resolvê-los?. As amigas me chamam de Madre Tereza de Calcutá. Mas tenho certeza de que a saúde está ligada à mente, ela manda no corpo”, afirma.

A ioga, alimentação saudável, a prática antroposófica, massagens terapêuticas, holísticas e tântricas, a meditação, a atividade física, a homeopatia, boas leituras, a terapia, enfim, tudo isso faz parte do grande conjunto de ações que protegem o ser humano e fazem enorme diferença para manter coração, corpo, mente e espírito saudáveis. São ferramentas poderosas que previnem doenças ou tornam as pessoas mais fortes para encará-las. Hoje, o Bem Viver apresenta aos leitores diversas trilhas que levam a um destino sonhado por todos: o da saúde.

Tratar o corpo, cuidar da alma
A cura num sentido amplo, com foco na saúde e não só na doença. Esse é o caminho para a longevidade do bem-estar e visão de quem adota e busca a medicina integrativa

Edésio Ferreira/EM/D.A Press
A jornalista Cristiane Araújo acredita que saúde tem a ver com autoconhecimento (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

“O médico tem que tratar o corpo, conversar com a alma e acariciar o espírito”, sentenciou Paracelso, pseudônimo de Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, médico, alquimista, físico, astrólogo e ocultista suíço-alemão. É no que também acredita o médico psiquiatra e nutrólogo, professor da Fundação Dom Cabral, Frederico Porto, que trabalha na busca de um diagnóstico que lhe permita ter uma visão integral do ser humano e assim entender o lado físico, emocional, mental e espiritual. Ele aplica a medicina integrativa, ou seja, busca nas medicinas complementares validade científica para agregar à medicina tradicional. “Por exemplo, na busca de uma concepção integral, há evidências de que a meditação e a acupuntura, por exemplo, funcionam na melhora de doenças crônicas.”

Para Frederico Porto, medicina preventiva tem a ver com olhar o corpo e a mente de maneira mais sutil, ir além do básico, além de só procurar por doenças. “Como é feito em atletas ao investigar o cortisol no sangue para saber se estão exagerando no treino. Um jornalista poderia fazer o mesmo exame para saber o grau de estresse e daí buscar novos hábitos para evitar consequências futuras. O médico avisa que “ausência de doença não é saúde. E checape-padrão só procura doença.” Ele lembra que, desde 1948, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu como saúde o estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente a ausência de enfermidade ou invalidez.

O grande gargalo, enfatiza Frederico Porto, é a mudança de hábito, já que vivemos em um ambiente que joga contra a nossa biologia. “Antes, o homem dormia quando o Sol se punha. A partir de 1890, com a criação da lâmpada por Thomas Edison, ele passou a dormir por 10 horas; em 1950, já com a TV em alta (ela foi inventada em 1925), oito horas; e a partir de 1980, com o computador, ele dorme 6h07min por noite. A luz de LED acesa em seu celular, tablet, laptop etc. tem um feixe de luz azul muito forte e para o cérebro é como se fosse dia. Não fomos desenhados para essa realidade, por isso temos de criar novos comportamentos para nos ajudar na adaptação.” A medicina preventiva, afirma, se instala com a mudança de comportamento, ainda que seja difícil, já que o ambiente concorre com você.

Frederico Porto enfatiza que diagnóstico precoce não é prevenção e que essa está numa boa alimentação, com pouca carne vermelha, rica em ômega 3 e nutrientes, entre outras práticas. “Aliás, a tríade da saúde do corpo está na atividade física, sono (descanso e capacidade de recuperar) e na alimentação adequada. Uma pessoa que passa cinco horas sentada tem um impacto em sua expectativa de vida igual a quem fuma 25 cigarros, porque reduz a quantidade de oxigênio presente, pois o sangue não circula”, afirma.

DIVERTIDAMENTE

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"Ausência de doença não é saúde. E checape-padrão só procura doenças" - Frederico Porto, psiquiatra e nutrólogo (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

Já a saúde da mente, explica o médico psiquiatra e nutrólogo, está em saber administrar as emoções e a atenção. “As principais emoções são alegria, raiva, medo, tristeza e desprezo (nojo, para quem assistiu a DivertidaMente). Perceberam que tem só uma agradável? Por isso, digo que nascemos mais voltados ao sofrimento. Para amenizar, temos de nos esforçar para gerar felicidade e bem-estar. Temos de criar momentos de serenidade na existência. Não é fácil, porque essa consciência racional é muito pequena diante da nossa memória primitiva. A analogia é de um guia (razão) em cima de um elefante (emoções e instintos). A saída é desenvolver um estado de atenção plena para ter mais consciência e controle do que vai surgir. Daí a importância do mindfulness, a prática de estar aqui e agora, de perceber os estados emocionais. Ainda que não possamos controlar o surgimento de emoções, podemos controlar a duração.”

Frederico recomenda o saber respirar. “A respiração resolve metade dos problemas da vida. Para 25% indico terapia e os outros 25% não tem como solucionar, deixa para a outra vida e encarnação”, ele brinca. Portanto, para 75% tem jeito, é prevenção e atenção. “Não podemos esquecer o espírito, da neurose existencial que assola a nossa era, e daí a importância de ter um propósito para a vida, um sentido para o que se faz.”

Amor à vida

Saber viver com saúde é sabedoria. Há quem nasça ou quem aprenda. A jornalista Cristiane Araújo, de 47 anos, casada com o Marco e mãe do João Gabriel, de 8, revela que sempre foi saudável. O que ela atribui à genética, ao DNA. Afinal, a mãe dela, Gisélia, de 92, é independente, dirige por aí, viaja o mundo, faz pilates e tudo o mais. E também ao fato de ser uma pessoa alegre e otimista. “Nem dor de cabeça tenho, é raro. Quando ia me formar, passei por um período de insegurança, tive uma crise de ansiedade, aos 21 anos, foi quando busquei a terapia e a homeopatia para me ajudarem. Foi por um tempo. Depois, aos 28, encarei problemas familiares, veio outra crise, perdi meu pai e meu irmão, e encarei a terapia por 10 anos (recebeu alta), além de voltar para a homeopatia, me entregar ao reiki, que é fantástico, e conhecer a dança do ventre terapêutica, que trabalha a questão do feminino. Tudo isso não porque estava depressiva, mas como formas de encontrar espaço para falar de mim, me conhecer, me cuidar e estar bem comigo mesma para lidar com a vida.”.

Alto-astral, sempre com um sorriso de presente a todos, Cristiane Araújo contagia. E a grande vantagem de ser assim é que “mesmo na tristeza eu tenho alegria, amor à vida, o que me ajuda a seguir em frente. Achava que não era corajosa e descobri que sou na terapia. Acredito que também me ajuda ter facilidade para ouvir críticas, elas me fazem refletir”.

LIMITES

Cristiane conta que tinha medo da meditação, achava que não conseguiria, por ser curiosa demais para se aquietar tanto. “Mas este ano senti que estava bem agitada, então, voltei de maneira pontual para a terapia. Quando preciso, vou, sigo com a homeopatia e desde junho faço ioga e há dois meses medito. Depois de cada prática, a sensação de bem-estar que sinto é tão grande que só faz bem à saúde.” Mesmo com a vida corrida de jornalista, ela ainda faz vôlei, “por pura brincadeira, para extravasar e voltar à adolescência”, e de lucro é uma ótima atividade física, fez por um tempo pilates e, agora, se prepara para acompanhar o marido na academia, ainda que prefira exercícios ao ar livre. “Consigo ter meus momentos de loucura, descabelada, mas sei quando preciso pisar no freio. Não sei como faço isso, acho que tem a ver com autoconhecimento e humildade de saber que não dou conta de tudo e tenho limites.” A saúde agradece.

Tecendo a própria vida
Para ter uma boa saúde é importante priorizar o que se come e também os pensamentos. Prevenção e cura de doenças passam pelas escolhas que você carrega em sua trajetória

Túlio Santos/EM/D.A Press
Iracema de Almeida Benevides, médica nutróloga, explica que nosso corpo é orientado por ritmos internos que necessitam de cuidados (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press )

Um dos elementos fortes na medicina antroposófica é o fato de basear-se em um modelo de ser humano saudável conforme o conceito de três dimensões: o bem-estar do corpo (fisiológico), o bem-estar emocional (psique) e o bem-estar biográfico (ser individual, conceito de identidade genuína, espiritual). É o que diz a médica nutróloga e diretora-presidente nacional da Associação Brasileira de Medicina Antroposófica (ABMA), Iracema de Almeida Benevides. Ela explica como é a abordagem nas três dimensões de acordo com o paradigma da salutogênese (preventivo).

“O nosso corpo é orientado por ritmos internos que necessitam de cuidados e que deveriam ser respeitados e considerados em nossa rotina. Batimentos cardíacos, respiração, fígado e intestinos têm cada um seu ritmo, é preciso respeitá-lo. O corpo é o veículo para nossos projetos de vida. Esse é o primeiro olhar do médico antroposófico. Vamos apoiar e trazer essa consciência para o paciente. É importante desenvolver a autoeducação em relação a horário e receber orientação individualizada quanto à alimentação e atividade física mais adequados. Já no âmbito emocional é trabalhado o autodesenvolvimento, ter consciência das emoções, com foco principal na dimensão da arte e criatividade. Pausas para a música, para admirar um quadro, ler um bom livro, o fazer artesanal, enfim, tudo que nutre o nosso ser nesse nível”, destaca a médica.

RECEITA

Quanto à dimensão espiritual, Iracema de Almeida Benevides enfatiza que é trabalhada a percepção biográfica, ou seja, a análise da biografia do paciente, “que livro essa pessoa está escrevendo, que sentido tem dado à sua vida, com que tons tem pintado sua tela, ainda que não tenha controle sobre todos os aspectos. Não é patológico, mas é um livro mais leve ou dramático? Uma visão do indivíduo como protagonista, tecelão da sua vida. Encontrar sentido no que faz a partir do seu "Eu" de forma a construir uma vida significativa. No nível preventivo, recomendo descobrir o que dá sentido, que é diferente do que dá prazer. É subjetivo e individualizado, não há receita”.

Iracema Benevides destaca que o médico que apoia sua prática clínica na medicina antroposófica agrega um corpo de conhecimento complementar. “A medicina convencional tem um aspecto maravilhoso que é a tecnologia que proporciona a clareza no diagnóstico e o avanço do medicamento. Mas é padronizada, em massa. As pessoas não se identificam muitas vezes por não ser vistas como indivíduos. Na antroposófica a escuta é maior e busca-se ir além do físico e dos exames.”

• Alimentação consciente

Edésio Ferreira/EM/D.A Press
Para Patrícia Gontijo, terapeuta holística, além da alimentação saudável, é fundamental o contato com a natureza (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

Saúde começa pela boca. Certamente, você já ouviu essa expressão antes, mas o alimentar saudável é muito mais. Patrícia Gontijo de Pádua, terapeuta holística e personal chef de alimentação natural, explica que é importante “pensar a alimentação de forma consciente. O que significa não só o que você coloca na boca, mas outras formas de se alimentar, como o ar que respira, as palavras que fala, tudo que escuta e vê, o estresse do dia a dia, o não saber perdoar o outro e a você mesmo. Temos que entender que nos alimentamos também das nossas emoções. Portanto, se não priorizamos o alimento da mente não iremos integralizar a saúde por completo”.

Patrícia Pádua afirma que para ter uma vida saudável é fundamental ainda estar em contato com a natureza. Outra forma é praticar atividade física, doar carinho, compaixão e altruísmo. “Para ter uma vida leve e prevenir doenças, é como diz a física quântica, por meio de pensamentos e palavras emanadas do corpo é gerado equilíbrio ou desequilíbrio. Ou seja, não existe doença, mas processo em desequilíbrio. Como falou Hipócrates, 'faça do seu alimento seu remédio'. O alimento é a matéria-prima da nossa saúde.”

Por isso, alerta Patrícia Pádua, pense em expor seu corpo ao alimento que ele necessita, priorize refeições completas e respeite sua individualidade biológica (dietas massificadas não dão certo!). Enxergue o alimento como qualidade nutricional potencializadora da saúde e tire o peso de quantidade calórica. Carboidrato e gordura? Bom ou ruim? Depende, é a gordura do abacate, da manteiga, do óleo de coco ou da margarina?”

ORGÂNICOS

Outra dica de Patrícia Pádua é não cair na monotonia alimentar. “Vivemos num país abençoado pela diversidade alimentar e produtos frescos, então abuse deles. Dê prioridade aos produtos orgânicos e agroecológicos com carga nutricional muito superior ao tradicional. Se não pode consumir sempre, todo dia, priorize aqueles que recebem carga menor de agrotóxicos. Dê preferência a compras em feiras e sacolões, conheça o produtor.”

A terapeuta holística enfatiza que saúde é responsabilidade pessoal e intransferível. “Faça do alimento nutricional e emocional um ato de amor-próprio, leve essa consciência para sua rotina e integralize em todas as suas formas de alimentar.”

Vale para todos

Júlia Beatriz Chiericatti, médica psiquiatra e homeopata, explica que na medicina antroposófica existem remédios fitoterápicos, homeopáticos e com método farmacêutico próprio. “O tratamento é contínuo e não é só com medicamentos. Há um hall de terapias e procedimentos indicados pelo médico, como massagens, leituras e terapias coadjuvantes”, afirma.

A medicina antroposófica é indicada para pessoas de qualquer idade. Júlia Beatriz enfatiza que a própria pedagogia Waldorf, introduzida por Rudolf Steiner (filósofo e educador, fundador da antroposofia), é preventiva. “É a prevenção de doenças aplicadas a crianças e adolescentes independente de um médico escolar. Ele orienta o professor para lidar com a unilateralidade e a tendência adoecedora do presente e do futuro de cada um. O foco da medicina antroposófica é olhar a vida do ser humano, social, espiritual e no mundo. Ela é preventiva e curativa.”

Para a médica, o fato de as pessoas negligenciarem a saúde, não se preocupar com a prevenção, é questão de consciência. “É cultural e também de hábito. A medicina tradicional investiga a doença, é patogênese, é a que a maioria está acostumada. Já a antroposófica é salutogênese, foca na saúde, no que promove a saúde. Mudar essa concepção é um processo lento. No entanto, vale lembrar que na medicina alopata há também um caráter preventivo com o médico de família, o sanitarista e a medicina social.”

Júlia Beatriz alerta que “tudo que é excesso e polarizado é uma escolha errada. Aliás, excesso ou falta quer dizer doença, oito ou 80 é doença. Saúde é um sutil equilíbrio entre doença e doença. Ninguém alcança a saúde plena, por isso é sempre bom buscar o caminho do meio”.

CORAÇÃO

A médica Mimi Guarnieri, fundadora e presidente da Academia de Saúde e Medicina Integrativa (AIHM) e professora associada na Universidade da Califórnia, diz que, além do tratamento convencional dos sintomas com medicamentos e cirurgia, a medicina integrativa aborda as causas profundas de uma doença ou condição e leva uma abordagem holística, mente-corpo-espírito. “A dieta, padrões de sono e estilo de vida podem ter um impacto significativo nas inflamações coronárias”, por exemplo, destaca a especialista.

Ela enfatiza que “há uma pesquisa perturbadora, que indica que a raiva aumenta em 230% o risco de ataque cardíaco. O estresse desencadeia mais de 1.400 reações químicas no corpo que levam a mudanças mensuráveis, como aumento da pressão arterial e frequência cardíaca, palpitações, vasos sanguíneos constritos, sangue pegajoso e coagulante. Os três hormônios do estresse elevam significativamente o risco cardiovascular quando persistentemente elevados”. Portanto, destaca a médica, reduzir a reação do corpo a fatores estressantes é essencial para a saúde do coração. “A meditação, a ioga e o tai chi chuan são apenas alguns dos exercícios mente-corpo que demonstraram melhorar a saúde cardiovascular.”

Mimi Guarnieri diz que a prática da gratidão também faz parte do cardápio do ser saudável. “Às vezes, esquecemos quão abençoados somos. Você pode estar agradecido por um amigo, um lindo pôr do sol, uma xícara de chá calmante - de fato, praticamente qualquer coisa que não damos valor no dia a dia. Tenha um momento para realmente apreciá-lo e se deixe experimentar a verdadeira gratidão sincera. Com o passar do tempo, você perceberá que a frequência cardíaca diminui, a respiração se aprofunda e você se sente mais em paz. Quanto mais praticar a gratidão sincera, mais natural se tornará - e sua saúde se beneficiará.”

Priorize o autocuidado
Práticas complementares e integrativas, como ioga e terapia corporal tântrica, são essenciais à saúde por promover a qualidade de vida, alegria, força vital, autoconhecimento e relaxamento

Leandro Couri/EM/D.A Press
"Preconiza-se a ioga porque atua como exercício físico, respiratório e mental, relaxanso e contraindo músculos" - Prem Karuna (Luiza Angelini), professora de ioga e terapeuta (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Ioga é uma prática integrativa e complementar, pautada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como terapia não medicamentosa, passível de ser incorporada como recurso na redução dos fatores de risco e tratamento de doenças crônicas. Estimula o autocuidado sem excessos nem vícios, uma alimentação saudável e vegetariana, além da prática de uma ética e, sobretudo, a não violência. Ou seja, só faz o bem. Prem Karuna (Luiza Angelini), professora de ioga e terapeuta, proprietária do Centro de Yoga e Terapias Integrativas Sachcha Prem, no Bairro Mangabeiras, conta que recentemente fez uma revisão de 36 artigos científicos sobre ioga e doenças crônicas. “Os resultados mostraram que a ioga pode auxiliar no controle/tratamento e até mesmo na prevenção de doenças como câncer, diabetes, doenças cardíacas e depressão, apresentando baixos custos em sua utilização e poucas contraindicações, riscos e efeitos colaterais.”

Prem Karuna explica que a ioga atua criando sustentação física e psíquico-emocional para o corpo e o indivíduo lidarem melhor com a doença. “Preconiza-se a ioga porque atua como exercício físico, respiratório e mental, relaxando e contraindo músculos, ocasionando, com as suas posturas, uma automassagem sobre as glândulas endócrinas, expandindo a capacidade respiratória e exercitando a parte cognitiva e atenção, por meio da meditação.”

Respirar é viver bem, no ritmo certo. Muitos têm dificuldade. Prem Karuna diz que a ioga ensina a sincronizar o movimento com a respiração, e ela naturalmente melhora. O aumento da concentração também ajuda nesse aprendizado. “A respiração contribuiu com o equilíbrio do sistema de forma geral. Fisiologicamente, mantém os sistemas desinflamados. Energeticamente, atua transportando a força vital, que em sânscrito e na linguagem da ioga chamamos de prana. O prana, podendo circular em todo o corpo, mantém os órgãos e tecidos recebendo sangue e nutrientes, oxigênio e células de defesa. Logo, vemos que a respiração trazida pela ioga atua no sistema imune e na saúde de forma geral. No âmbito psíquico-espiritual, age controlando a mente, pelo mecanismo de feedback positivo. Acalmando a respiração, acalmamos o fluxo de pensamentos e a ansiedade. Aumentamos a concentração. E não somos levados pelas reações e situações sofridas da vida. Ganhamos em qualidade de vida e alegria.”

A meditação está presente na ioga e os benefícios merecem ser ressaltados.“Ela consiste em interromper o fluxo de pensamentos. Quando isso é alcançado, aumenta a presença, que nada mais é que uma ampliação da percepção e da consciência. Enxergamos objetos, sensações, sentimentos e situações que fora da presença não era possível. A mente é colorida por estímulos sensoriais e memórias. Se reduzimos sua atividade, conseguimos deixá-la menos 'ocupada' e mais livre para enxergar e lidar com as situações do presente. Quando isso é feito, ganhamos em inteligência emocional, discernimento e capacidade de lidar com as situações sem reagir. Isso traz inúmeros benefícios de caráter relacional, profissional e social. Um indivíduo equilibrado é aquele que consegue lidar com as situações de forma harmoniosa para todos e para si. Meditação é uma das principais ferramentas para alcançar essa realidade”, explica a professora de ioga e terapeuta.

POLÍTICA PÚBLICA

Prem Karuna enfatiza que a ioga é um sistema psicossomático. Atua principalmente na mente e nas situações de dor que tiram o homem da felicidade verdadeira. Ajuda a compreender o sentido da vida e ter mais sabedoria para lidar com as situações e pessoas. Ela afirma que a ioga é sobretudo uma ciência: “Ciência da mente e da vida. Ensina-nos a sermos disciplinados, comer melhor, respeitar e escutar o corpo, ter mais empatia e amor por todos os seres. Nos fala de algo maior, que na verdade está dentro de nós. Não é religião, nem doutrinação. É um caminho de autoconhecimento e apoderamento pessoal. A paz, o amor próprio e a felicidade estão dentro de nós. A pessoa que leva a sério esse caminho compreende a vida de uma forma muito diferente do ordinário. Não porque seja melhor que ninguém, mas sim porque consegue compreender a si mesmo, seus defeitos, onde deve seguir para evoluir e ser uma pessoa melhor. Assim, compreende o outro melhor. Aliás, ioga deveria ser uma política pública.”

Os benefícios da ioga

» Revitaliza
» Revigora
» Desinflama os sistemas irritados
» Estimula o sistema parassimpático
» Melhora a cognição e memória
» Desenvolve inteligência e gestão emocional
» Promove elasticidade e a tonicidade músculo-articular
» Melhora a capacidade respiratória e doenças relacionadas ao sistema respiratório
» Estimula sistemas digestivos e endócrinos
» Estimula compaixão, empatia, calma interna, silêncio na mente
» Promove saúde de forma integral uma vez que integra corpo, mente e espírito.

Mudança de paradigma

Leandro Couri/EM/D.A Press
Terapeuta tântrico Artur Grossi explica que a técnica é especializada na harmonia do corpo (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
O tantra é uma filosofia muito antiga, data de oito mil anos atrás, cujas técnicas e sabedoria foram resgatadas e divulgadas no mundo Ocidental por nomes importantes da filosofia, psicologia e da psicanálise, como Rajneesh Chandra Mohan Jain (Osho), Wilhelm Reich (médico, psicanalista e cientista natural, ex-colaborador de Sigmund Freud), que iniciou estudos da energia vital e como ela influencia e pode fazer bem à saúde, chamada de orgone. E Alexander Lowen, também psicanalista, americano de orientação freudiana e um dos estudantes de Reich, que desenvolveu a bioenergética. Ambos se aproximaram do tantra ancestral por meio de suas pesquisas psicossomáticas, tornando-o mais conhecido e próximo da cultura ocidental. “Por meio desses mestres, há um conjunto de técnicas que traz saúde, vitalidade e pode significar uma mudança de vida total. A terapia tântrica é especializada na harmonia do corpo. Visão que tem a ver com a biologia e o estado da mente harmônicos. Uterinamente ligados, o que ocorre com um reflete no outro”, explica Artur Grossi, terapeuta corporal tântrico.

Artur Grossi alerta que muitos interpretam a filosofia (ótica ocidental) de maneira preconceituosa e equivocada porque há técnicas que ampliam a capacidade de sexualidade. No entanto, o terapeuta explica que a filosofia tântrica se aprofunda no universo feminino e masculino, especialmente numa ótica sagrada. “Mas alguns só olham o cunho da sexualidade. Há a terapia sexual, focada na região genital, o que gera na cultura ocidental interpretações distintas e visões limitadas. Mas, sobretudo, há exercícios de respiração, movimento do corpo e interatividade coletiva ou em dupla que mobilizam a energia vital, permitindo à pessoa sentir um grande prazer e bem-estar.” Mas ele alerta que a interpretação errada não é exclusividade dos ocidentais, já que ocorre em lugares do Oriente.

SENSIBILIDADE

A origem da filosofia está na Índia, no Paquistão e no Afeganistão. “Por isso, me entusiasmo em divulgar os preceitos corretos. No Brasil, o tantra se popularizou a partir dos anos 2000 e a massagem tântrica ficou em evidência. É impressionante como ela proporciona uma mudança de paradigma instantânea, como a descoberta da sensibilidade completa, de corpo inteiro, por meio do toque. A terapia tântrica reúne um conjunto de técnicas muito amplas, que ajudam a vascularizar, tonificar e criar mais conexões neurais, ou seja, caminhos para despertar a sensorialidade e a sensibilidade que conectam o cérebro ao corpo todo. Das técnicas do tantra tradicional nasceram as técnicas da nossa modernidade como método de atendimento com protocolos e procedimentos de anamnese e análise de caso. É a terapêutica mais corporal que tenho conhecimento, e, por excelência, a que considero mais poderosa na área da sexualidade. No entanto, não se restringe a essa área porque um de seus princípios é a integralidade do corpo. Todo o conjunto que compõe a pessoa, desde o campo da criatividade, capacidade de realizar os próprios objetivos da vida, facilidade de interação com o meio social, ternura, expressividade, inteligência e, por fim, espiritualidade.”

Artur Grossi explica que o tantra tem o poder de identificar os pontos de retenção energética ao fazer a leitura corporal, sendo a massagem um dos recursos. As outras técnicas são a respiração conduzida, técnicas de movimento do corpo curativas e técnicas de expressividade pela voz. “Os sete chacras, centros energéticos que definem como será nossa vida, entram em desarmonia se um ou mais estiverem em desequilíbrio.” O terapeuta enfatiza que a terapêutica tântrica não é caracterizada pela análise, ela é prática. Por meio de uma leitura sensorial e outras técnicas, muito do que se deseja conhecer é revelado. É caracterizada pela sensorialidade. O atendimento é individualizado e a profundidade depende da busca de cada um. “O tantra incentiva a visão holística de vida, mais profunda, esotérica, ou seja, que parta de dentro para fora, e que proporcione verdadeira vitalidade.”