H7N9. Essa nomenclatura está deixando os cientistas em alerta máximo. O vírus que circula entre aves da China desde 2013 é apontado como forte candidato à próxima pandemia de gripe. No dia 18, o epidemiologista Tiomothy M. Uyeki, da Divisão de Influenza do Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, fez um alerta: “Para o CDC, esse é o vírus número 1 em termos de preocupação por causa do potencial de impactar humanos e da severidade da doença. Não vimos evolução do H7N9 nas primeiras quatro epidemias, mas isso mudou na quinta onda de infecções”, disse, referindo-se aos casos de 2017.
Pesquisa publicada na revista Cell Host & Microbe reforçou o risco que esse tipo de vírus aviário significa não apenas para a
Ásia, onde, até agora, os casos se concentram. O trabalho, conduzido pela Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Wisconsin-Madison e pela Universidade de Tóquio, constatou que a nova cepa do H7N9, chamada HPAI, está extremamente patogênica, replicando-se com eficiência em células do trato respiratório humano. Em ferrets, o vírus se espalha com rapidez via gotas respiratórias e não responde aos medicamentos.
Até a segunda semana de outubro deste ano, houve quase 1,6 mil casos de infecções humanas, com um alto índice de letalidade: 39% dos pacientes morreram. Embora a transmissão entre pessoas ainda seja rara, a velocidade de mutação do vírus tem se mostrado bastante rápida. Outra preocupação é que as vacinas para a influenza provocada pelo H7N9 não atendem, segundo Tiomothy M. Uyeki, às novas especificidades do micro-organismo. O epidemiologista informou que já há algumas candidatas a imunização, que serão testadas em humanos no ano que vem. “Temos de fazer isso o mais rápido possível. Esse vírus está se espalhando rapidamente, ele começou no Leste e no Sudeste da China, mas, agora, está no Oeste, no Nordeste e no Centro do país”, disse.
Desde o início do ano, o professor de ciências biológicas da Universidade de Wisconsin-Madison Yoshihiro Kawaoka trabalha para desvendar os mecanismos de ação do H7N9. Ele recebeu a amostra viral isolada de um paciente que morreu de influenza e começou, a partir desse material, a fazer testes em células humanas cultivadas em laboratório e em roedores e mamíferos vivos. De acordo com o pesquisador, a equipe identificou, pela primeira vez, uma cepa do vírus que é transmissível entre ferrets - o modelo animal que mais se assemelha às infecções de influenza humana - e letal. O micro-organismo matou tanto o mamífero originalmente infectado quando saudáveis que tiveram contato com ele. “A notícia que temos não é boa para a saúde pública: esse vírus aviário é extremamente patogênico e letal”, diz o biólogo.
Mutações
Masaki Imai, pesquisador da Universidade de Tóquio que também participou do estudo, explica que, em aves, o vírus circulava sem ser patogênico: as galinhas ficavam infectadas, mas não apresentavam a doença.
Isso foi o que ocorreu com a cepa isolada do paciente chinês que morreu da doença. Durante o tratamento, ele recebeu tamiflu, o medicamento-padrão para lidar com vírus influenza. O H7N9, porém, começou a mutar. Uma técnica de sequenciamento genético aplicada pela equipe de Yoshihiro Kawaoka demonstrou que, na amostra, havia populações virais que respondiam e outras que eram resistentes ao tamiflu. Esses vírus foram geneticamente recriados e inseridos em linhagens de células humanas do trato respiratório. A equipe constatou que ambas as versões cresceram e se multiplicaram facilmente na cultura celular, embora a cepa resistente ao tamiflu não tenha sido tão eficiente quanto à que responde ao medicamento.
Em seguida, os pesquisadores testaram o grau de patogenia das duas populações virais em modelos animais.
Kawaoka nota que, sem que ocorressem novas mutações, o H7N9 foi transmitido para os ferrets, causou a doença e os matou. “Nosso objetivo não é causar alarme. Mas é apenas uma questão de tempo antes que o vírus resistente ao tamiflu consiga se adaptar e crescer de forma eficiente nas células. Assim, teremos um vírus que, além de letal, não responde ao medicamento”, afirma. “E dado que a quantidade de vírus necessária para começar a infectar os ferrets expostos via gotas respiratórias foi pequena, isso sugere que o H7N9 que está em circulação requer uma quantidade limitada de micro-organismos para causar infeções letais, ao menos nesse modelo animal”, complementa Masaki Imai.
Os pesquisadores destacam que, por ora, as evidências e ocorrências de contágio entre humanos ainda são pequenas. Contudo, Kawaoka observa que o vírus está mutando em alta velocidade e de uma forma que não encontra precedente nas quatro epidemias anteriores, o que faz dele potencialmente transmissível de uma pessoa infectada a outra. “É preciso intensificar as pesquisas sobre transmissão, resistência às drogas, potencial patogênico e a habilidade de o vírus se replicar. Também precisamos de novas vacinas, algo em que minha equipe já começou a trabalhar”, diz..