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Hormônios de menos...

Hipotireoidismo acomete mais mulheres que homens

Bruno Vieira Soares, endocrinologista do Hospital Evangélico, conta que não é raro pacientes tratando de depressão quando na realidade têm hipotireoidismo - Foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press
Não há nada a fazer para evitá-las. Simplesmente, ocorrem. Chegam devagar, com sintomas facilmente confundíveis com doenças diversas. Há pacientes que pensam se tratar de um cansaço extremo, outros, de depressão. Há quem identifique uma agitação, apesar do cansaço. Atenção, pois você pode estar com falta ou excesso de produção do hormônio da tireoide, uma glândula pequena localizada na região do pescoço, logo abaixo do pomo de adão (popularmente conhecido como gogó), e, consequentemente, com hipo ou hipertireoidismo. O tratamento pode ser para a vida inteira, mas é possível ter vida normal e sem efeitos colaterais.

No hipotireoidismo, a glândula produz hormônios, geralmente responsáveis por controlar o metabolismo do corpo, abaixo da quantidade necessária para as demandas do organismo. O problema tem diversas causas.

A primeira é medicamentosa - remédios podem interferir na produção da tireoide. A segunda é médica - ocasionada por uma cirurgia ou, em caso de câncer da tireoide, ela interrompe a produção de hormônios. A mais comum é a tireoide crônica, uma inflamação da glândula causada pelo próprio sistema imunológico do indivíduo, com atuação direta de glóbulos brancos e anticorpos que a destroem.

“Nesse processo, temos uma doença autoimune, a tireoidite de Hashimoto, que acomete a maioria esmagadora dos pacientes. O sistema de defesa da pessoa acaba reconhecendo a tireoide como tecido não próprio e, como as células são responsáveis pela produção dos hormônios, à medida que a tireoidite vai evoluindo a pessoa entra no quadro de hipotireoidismo”, explica Bruno Vieira Soares, endocrinologista do Hospital Evangélico.

Titular da Sociedade Brasileira de Clínica Médica e membro pós-graduado da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Bruno Soares diz que o paciente desenvolve vários sintomas, mas nada que chame a atenção (veja quadro). “Não é raro pacientes tratando de depressão terem, na realidade, hipotireoidismo”, conta o médico.
Diante disso, o diagnóstico é feito com exame de sangue. “Avaliam-se os hormônios, verifica-se se eles estão sendo produzidos na quantidade correta e, na falta, os hormônios são repostos com medicamento que será usado a vida inteira, pois as células destruídas não voltam mais. Dificilmente há efeitos colaterais ou reação alérgica”, diz.

ATENÇÃO

O endocrinologista lembra que estudos atuais sugerem que todo paciente com leve alteração dos hormônios seja tratado de imediato. Por acometer mais mulheres que homens, ele diz ser interessante para o público feminino fazer o rastreamento para doença tireoidiana. Ele é indicado, sobretudo, para pacientes com idade acima de 60 anos, para quem tem familiar próximo acometido pela enfermidade e quem apresenta alguns dos sintomas.

Têm ainda maior propensão a desenvolver o problema pacientes que precisam ou precisaram fazer radioterapia no pescoço (por causa do risco de tireoidite por radiação) e aqueles que apresentam outras doenças autoimunes, como diabetes tipo 1 e vitiligo. O hipotireoidismo tem grande prevalência também em pessoas com doenças genéticas, como as síndromes de Down e de Turner.
Devem ficar atentas ainda aquelas com transtorno psiquiátrico que fazem uso de medicamentos que podem influenciar na tireoide. Nas crianças, o cuidado é redobrado, por causa do risco de hipotireoidismo congênito. É considerada a causa mais comum de retardo mental evitável, já que hoje existem métodos simples de diagnóstico precoce e tratamento da doença.

Nas crianças pequenas, cujo metabolismo é acelerado e há um intenso desenvolvimento neurológico, a tireoide é fundamental para o crescimento físico e o desenvolvimento cerebral. Daí a importância do teste do pezinho, capaz de detectar essa e outras cinco doenças.

...Hormônios de mais

O organismo pode ter falta, mas também passar a produzir mais hormônios que o normal, causando manifestações opostas. O adenoma tireoidiano tóxico é uma das principais etiologias da doença, ao lado do bócio multinodular tóxico e da doença de Graves. O primeiro consiste num nódulo, tumor geralmente benigno, que produz hormônios em excesso. O segundo é uma multiplicidade desses nódulos. Por fim, pode ocorrer o surgimento de uma enfermidade autoimune, por meio da qual o corpo produz anticorpos que não destroem, mas estimulam a tireoide a trabalhar mais.
Remédio, tratamento radioativo ou cirurgia são os tratamentos existentes e deverão ser avaliados pelo médico.

O endocrinologista do Hospital Evangélico Bruno Vieira Soares destaca que há algumas anormalidades genéticas que favorecem o aparecimento ou não, bem como alguns medicamentos ou infecções virais. Batimentos cardíacos acelerados, diarreia, quadro de agitação e dinamismo fazem parte dos sintomas. Sendo uma doença tão silenciosa, integra a rotina de pedidos de exames feitos por ginecologistas, clínicos e endocrinologistas para avaliação da tireoide. “Assim como a anemia se descobre pelo hemograma, o hiper ou hipotireoidismo são rapidamente diagnosticáveis. O exame é bem tranquilo”, avisa Bruno Soares.

Como no hipertireoidismo os hormônios são produzidos de maneira elevada, é comum também pedir um ultrassom da tireoide para determinar se há nódulos e, muitas vezes, a cintilografia (exame que avalia a captação de iodo radioativo pela glândula) para saber em quais das três causas a condição do paciente se encaixa. Nos três casos, o tratamento pode ser feito com medicamento, que age como bloqueador. “Ele só reduz a produção do hormônio, mas não resolve a causa do problema, que pode ser um nódulo único, vários deles ou a ação de anticorpos”, ressalta o médico.

MÉTODOS MAIS CONFIÁVEIS

Assim, pode ser insuficiente o uso de medicamento apenas, sendo, às vezes, necessária a aplicação de iodo radioativo, que destrói a tireoide.
Nesse caso, o paciente está sujeito a duas situações. A tireoide pode se restabelecer de forma normal, uma vez que a células eram produzidas em grande quantidade e por isso sobram células sadias. Ou pode ser totalmente destruída e ter como resultado um hipotireoidismo e, por consequência, ser necessário tomar remédio pelo resto da vida. Em caso de formação de um bócio de tamanho exagerado, é aconselhável ainda cirurgia para correção do problema.

Em gestantes, a doença pode ter consequências graves para mães e bebês. Por isso, a importância de uma avaliação da doença antes mesmo de engravidar. Produção excessiva pode levar a aborto, malformação do feto, e pré-eclâmpsia e eclâmpsia, entre outras complicações. “Os métodos diagnósticos se tornaram mais confiáveis. O ultrassom ajuda muito e a cintilografia, dentro da área da medicina nuclear, não é tão nova, mas nos auxilia também. O que temos hoje são métodos de diagnóstico e medicamentos melhores e mais confiáveis”, avalia Bruno Soares.

FIQUE ATENTO AOS SINTOMAS

Hipotireoidismo:

» Depressão
» Desaceleração dos batimentos cardíacos
» Intestino preso
» Menstruação irregular
» Diminuição da memória
» Cansaço excessivo
» Dores musculares
» Sonolência excessiva
» Pele seca
» Queda de cabelo
» Ganho de peso
» Aumento do colesterol no sangue

Hipertireoidismo:

» Dificuldade de dormir
» Aceleração dos batimentos cardíacos
» Intestino solto
» Agitação
» Muita energia, apesar de muito cansaço
» Queda de cabelos
» Calor e suor exagerado
» Menstruação irregular

FONTE: Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia .