Febre e dores no corpo são indícios de dengue, mas nem sempre os infectados apresentam esses sintomas, uma característica que intriga cientistas. Investigadores franceses tentaram decifrar a resposta imune desses indivíduos analisando 58 crianças cambojanas com a doença, sendo que nove eram consideradas assintomáticas. Os resultados do estudo, publicado em 31 de agosto na revista Science Translational Medicine, mostram que há padrões imunológicos no menor grupo. Para os autores, essa constatação poderá ser explorada no desenvolvimento de uma nova vacina contra a doença infecciosa.
Cerca de 293,9 milhões de casos de dengue que não apresentaram sintomas já foram registrados mundialmente. Segundo os pesquisadores, muitos indivíduos “controlam” o vírus da doença de uma forma que parecem não estar infectados. “Em muitos estudos epidemiológicos, amaioria das infecções por dengue resultou em infecção assintomática e inaparente. Gostaríamos de saber como a resposta imune nesses indivíduos controla e elimina o vírus”, conta Anavaj Sakuntabhai, um dos autores do estudo e pesquisador do Instituto Pasteur, na França.
Durante a análise, os pesquisadores notaram que indivíduos que sofriam com os sintomas da infecção apresentavam menor expressão de genes envolvidos em uma via celular em que são ativadas as células-T,um dos agentes protetores do corpo humano. “Nosso achado indicou que a célula0-T é importante no controle do vírus na infecção assintomática da dengue”, explica o autor.
VACINA ESPECÍFICA
Os investigadores destacam que, ao conhecer melhor o sistema imunológico em casos de dengue assintomática, surge a possibilidade de controle e eliminação do vírus no corpo humano sem causar sintomas, por meio de um novo conceito de vacina e tratamento. “A vacina contra a dengue atual é altamente protetora contra a doença grave, mas menos protetora contra a infecção assintomática. Nosso achado sugere que a adição de indução de resposta de células-T específica dessa infecção melhoraria a eficácia da vacina para a infecção leve e assintomática”, detalha Sakuntabhai.
Os investigadores já trabalham em uma forma de proteção nesse sentido “Criamos uma vacina contra a dengue que induz as respostas de células-T detectadas no experimento anterior. Temos resultados promissores em um modelo testado em ratos. O próximo passo é otimizar a vacina, testá-la em primatas não humanos e em humanos”, adianta o cientista.
A fórmula, segundo Sakuntabhai, tem potencial para ultrapassar outras limitações da imunização atual. “Esperamos que a vacina contra a dengue da próxima geração possa resolver problemas como limitação de idade e gerar mais proteção em indivíduos soropositivos, entre outros”, exemplifica. “Esse achado é importante para o controle das epidemias de dengue e da disseminação do vírus em áreas não afetadas.”